Um certo casal de
enamorados, filhos de famílias numerosas, não teve maiores auxílios paternos.
Eles, na proporção de constituírem sua família, precisaram economizar e labutar
pesado para angariar alguma terra. “O colono que casa, quer casa/terra” pelo
princípio colonial. Este, de maneira geral, não aceita, por muito tempo, labutar
como arrendatário ou meeiro.
A falta de terra, dos
iniciantes, levou a olhar algum lote. Uma área duma dezena de hectares. As muitas
e volumosas pedras, onde “o diabo arrebentou o saco e perdeu as botas”, encontraram-se
a dominar o cenário. O dinheiro, muitíssimo
escasso, permitia somente comprar essa singela área. Podia-se, graças às dádivas
divinas, “morar debaixo do próprio chão e labutar na própria terra”. A dificuldade
e interrogação consistia em como sobreviver naquele torrão íngreme e pedregoso.
O casal rural, criado
na dureza da força braçal do interior e penúria familiar das colônias, fechou o
negócio. Algum crédito, como descendente de família conceituada e tradicional,
sempre mostrou-se possível nas colônias. Os pais dos empreendedores, no entanto,
precisaram dar o aval da confiança. A palavra empenhada valia como nota promissória.
Os jovens compraram o imóvel. As dúvidas imediatas consistiram: como criar
gado, cultivar cereais, implementar frutíferas, semear pastos naquele chão?
A solução, depois de
semanas de instalação e convivência naquele ambiente (com construção dum
edificado de madeira), foi reparar os matos e possibilidades de roça. A
vegetação, em função da umidade assegurada em meio às pedras e ausência maiores
dos rigores das geadas, crescia adoidada. Qualquer brejo, em poucos meses e
anos, via-se rejuvenescido como mato. A floresta cedo parecia retomar seu
hábitat. A produção de lenha era digna de admiração na proporção do corte.
Quaisquer plantas, em pouco tempo, tinha-se rejuvenescido nos espaços das
derrubadas. A excelente insolação era outra causa desse milagre florestal.
A solução, à
sobrevivência, encontrava-se neste segredo. A prática agrícola e sabedoria
econômico-financeira consistia em reflorestar com espécies exóticas (acácia e
eucalipto). Alguma área, menos pedregosa, via-se aproveitada às culturas de
subsistência. Algum aipim, feijão, hortaliças, milho e verduras, não poderiam
ser renegados para o colono. Idem as criações, como galinhas, porquinhos e
vaquinhas, suplementaram a empreitada rural. O resto da área com a
silvicultura. O segredo dos dividendos encontrava-se na comercialização das
madeiras (em metro). Procurou-se, no ínterim, fabricar algum carvão vegetal. Um
trabalho judiado, porém rendoso.
Cada centavo
avolumado via-se economizado como poupança (uma economia de guerra). A família, agora com filhos menores, podia cedo
comprar mais alguns hectares. O empenho familiar, vendo os frutos da labuta,
fazia aumentar a produção. O vigor das bananeiras, a título de consumo familiar,
complementou dividendos produtivos. Colmeias de abelhas, com a intensa
insolação, ganharam espaço como “fábrica de mel”.
Cada área, por mais
acidentada e imprópria, tinha sua nobre função econômica. O proprietário,
através da observação atenta, precisou vislumbrou o potencial e colocou em
prática as oportunidades. Olhos atentos
e espírito trabalhador revolucionam quaisquer espaços. Que para uns mostrou-se uns
tremendos empecilhos/pedras, para família assinalou uma fartura ímpar. A
diversidade de dons ostenta-se a riqueza excepcional dos seres humanos.
A capacidade humana de superar adversidades é digna da
maior odisseia. O indivíduo, pode ser carente e humilde, precisa, todavia, saber
ajudar-se (para inovar e acumular fortunas). As ideias precedem as muitas
farturas e riquezas. Conhecimentos e ações enamoram-se como excepcionais
apaixonados.
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano das Colônias”
Crédito da imagem:http://apascoadodelfim.blogspot.com.br/2010/04/um-pouco-de-cheiro-de-mato.html