Um criador, de
galinhas caipiras, enfrentara a dificuldade do ataque das raposas. Elas, nas
caladas da noite, iam abatendo as aves, enquanto a cachorrada não conseguia
fazer o serviço. Sucederam-se tentativas de caça, quando matavam uma, porém
davam continuidade a tarefa. Passaram-se dias nesta preocupação, quando de
longe os bichos afluíam para saciar sua fome. As galinhas, na cadeia alimentar,
“pagavam parte do pato”.
O cidadão, no contexto do armazém,
colocou seu problema, quando, no local, “conversa-se de todos e de tudo”. A
turma de moradores, entre amigos, aparentados e vizinhos, apresentou
alternativas com vistas de evitar o extermínio do plantel. Outros mantinham
histórias parecidas, quando narrou-se uma e outra.
Um pacato morador, residente lá nos “cafundós
onde o Judas perdeu as botas”, ouviu a conversa. Este, em função da distância,
esporadicamente afluía ao lugarejo para conversar e tomar refrigerantes. Este,
com seu vasto conhecimento empírico de morador dos matos, disse: “-Coloca alguma
lima cortada, derrama um pouco de cachaça em cima dos cortes e acrescente meia
dúzia de grãos de veneno de formiga. Podes noutro dia ver o estrago, quando,
nas proximidades, encontra-se o bicho”. O criador seguiu o receituário e noutro
dia, “foi batata”. Problemas de raposa, na propriedade, extinguiram-se.
O
conhecimento empírico, em certas realidades, prevalece sobre o científico. O pacato
cidadão às suas necessidades, possui uma excepcional sabedoria, que, de maneira
geral, ostenta-se renegado na marginalidade.
Guido Lang
Livro “História das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-Brasileira)