Uma certa
família colonial (de Teutônia/RS), por herança, ganhou duas áreas de terras. Um
patrimônio familiar, "conquistado e preservado a duras penas",
necessitava duma destinação, pois tornou-se difícil mantê-las.
Uma, afastada da outra, não dava para plantar com culturas anuais. A
alternativa consistiu em colocar no Banco da Terra. Um forasteiro,
das paragens da Serra Gaúcha, comprou-a para criar chácara no meio
colonial.
Os
moradores, com o dinheiro/capital, compraram um terreno na cidade. A
áreas adquiridas deram uns míseros metros quadrados. Precisou-se, das
economias próprias, pegar valores com vistas de edificar a
infraestrutura básica assim como atender as demandas da burocracia.
Uns dispêndios, de forma imediata, de boa monta, enquanto também
dava-se início as obras duma moradia. Somas, extraídas da
agricultura familiar de subsistência, pararam na periferia urbana;
financiaram casa (de aluguel) com vistas de produzir dividendos
imobiliários (a cada final de mês).
Alguns conhecidos, moradores tradicionais, admiraram-se do negócio.
A família, por alguma centena de metros quadrados, deu uma
propriedade inteira de oito hectares de área rural. Uma fazenda, em
outras palavras, por “um punhadinho de espaço urbano”.
Verifica-se a diferença acentuada de valores entre partes. O rural
encontra-se costumeiramente subvalorizado diante do urbano. Os
artigos e bens, do interior, defrontam-se com a depreciação em
função de distâncias e localizações. A diferença de medidas, na
proporção da proximidade de aglomerações maiores, assumem
exorbitâncias em função de deslocamentos, desperdícios,
encargos...
Os
coloniais, ao longo da colonização, defrontam-se com a
subvalorização da produção. Estes carecem de poder de barganha
para exigir/impôr preços. Predomina a velha lógica: “um não
quer, o outro precisa”. Vende-se daí por qualquer preço a
produção. As margens estreitas, entre custo e venda, não produz
maiores sobras. Fica a dificuldade de criar dividendos para
reinvestir na atividade primária. Uma diferença de pesos e medidas
entre a compra e venda. Surge outra causa da evasão/migração campo - cidade. Os jovens enxergam a realidade paterna e “tratam de dar no
pé”. O pior, nisso tudo, é que não se vislumbram perspectivas para
reverter o quadro adverso. Governos estáveis precisam oferecer
alimentos baratos à população.
O
colono historicamente mostrou-se a parte mais fraca nos negócios.
Predomina a ideia: “plantar qualquer um sabe!” Propriedade rural
produtiva, na atualidade, tornou-se sinônimo de microempresa.
Guido Lang
Livro "Histórias das Colônias"
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)
Crédito da imagem: http://ultradownloads.com.br/papel-de-parede/Bela-Paisagem-de-Campo/