Guido
Lang
A
doença e morte são um flagelo da humanidade que, em quaisquer sociedades, reúnem
entes queridos ao redor dos enfermos. O meio colonial não fugiu à regra, pois
quaisquer enfermidades mais graves eram causa de comentários e preocupações
generalizadas.
A
notícia da doença cedo difundiu-se entre os moradores. Amigos e vizinhos
auxiliavam a família nas dificuldades e promoviam visitas. Um moribundo reunia
familiares e religiosos, ocasião em que se ministrava a Santa Ceia nos “momentos
últimos” daquela existência.
A
família, como pais e rebentos, promovia uma reunião final, na qual procurava-se
conviver os instantes finais com aquele agonizante.
Sucedeu-se,
numa oportunidade, o encontro final dum clã rural, quando o patriarca
encontrava-se no leito de morte. O cidadão estava passando da dimensão terrena
para a eterna, pois o bom cristão acredita piamente na ressurreição. Uma filha,
moradora a quilômetros de distância do solar familiar, atrasou-se para o
encontro da Ceia e chegou chamando pelo moribundo.
Esta,
em meio ao desespero da situação, gritou pelo nome do “quase finado”, com o que
interrompeu e atrapalhou a “serena viagem para o Além”.
O
moribundo, conforme o relato deste aos familiares, narrou sua experiência de
viagem ao outro mundo, quando viu-se interrompido da jornada. Ele, depois de
mais dois dias de vida, reclamou do procedimento, porque atrapalhou
tremendamente a sua sossegada morte.
O
ancião narrou sua odisseia: tinha sido buscado por anjos. Estes teriam-no
conduzido, numa tranquila viagem, em direção a um lugar extremamente belo,
luminoso e quieto, que trouxe a vontade de permanecer e curtir.
As
pessoas, com ensinamento e sabedoria, não devem chamar pelo nome dos moribundos
quando estes tomam a direção da vida eterna. Estes precisam ser deixados em paz
com o objetivo de alcançarem um sereno perecimento. A vida eterna parece ser uma
passagem para uma existência mais fecunda.
(Texto
extraído de “Contos do Cotidiano
Colonial”, página 56, de Guido Lang).
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