A colonada teuto-brasileira mantém uma
tradição, que integra o folclore rural. Esta trata-se da "caçada das
Nhonhas" (em alemão os famosos "Tilltapens"), que seria uma
brincadeira de muita gozação e risadas. Uma prática esporádica no meio rural,
que sucede-se unicamente, com muito espírito esportivo, com indivíduos ingênuos
e visitantes.
A origem da brincadeira encontra-se
ignorada. Ela provavelmente tenha sido trazida pelos imigrantes e amplamente
difundida nas colônias germânicas brasileiras. A literatura, sobre o assunto,
parece desconhecida. Inúmeras colonos narram estórias, quando turmas de amigos
foram caçar Nhonhas. Estes necessitaram encontrar um camarada, que puder-se dar
a paciência e tempo para manter aberto um saco. Alguns componentes, várias
vezes acrescidos de uma cachorrada, "procuraria tocar as Nhonhas",
que seriam pequenos animais. Estes, num primeiro momento, necessitariam ser
descobertos nos seus esconderijos, que localizavam-se nos brejos e matos. Os
animais, em meio ao desespero da caçada, passariam a correr entre picadas e
trilhos de vegetação com vistas de refugiar-se nalgum esconderijo seguro. As
Nhonhas, nesta caçada adoidada, adorariam refugiar-se nalgum saco, que estaria
sendo aberto pela pessoa (e fechada na medida da entrada dos bichinhos).
Os animais, de tamanho variável
conforme a imaginação de cada um, ficariam apavorados com as esporádicas
caçadas. Estes parecem muito susceptíveis a caça, que podem
"arruinar seu reino de fantasia". As caçadas depararam-se com
um empecilho, pois continuamente carece-se de indivíduos dispostos a
manter o saco aberto. As pessoas, de maneira geral, impacientam-se com a
abertura dos sacos, quando os animais, de imediato, não são detectados. Os
"tocadores de Nhonhas" igualmente cansam, quando abandonam a tarefa
de achar os bichinhos. As gargalhadas e graças acabam revelando o segredo da
brincadeira, quando também atrapalham os desejos de efetuar as caçadas. As recomendações
são de grupos restritos, nos quais um a dois indivíduos abrem, nalgum ponto, os
sacos e os outros quatro ou cinco tocam a bicharada. Os abridores necessitam
ter cuidados, porque as excessivas mexidas nos sacos
acabam afugentando a entrada dos animais. Estes precisam confundir os
sacos com alguma toca, que encontra-se em meio a pedras e terrenos. A pressa e
temores à vida, em meio a ação dos cachorros e homens, leva-os a
"confundir as bolas".
As Nhonhas habitam em quaisquer matos.
O seu alimento predileto é a burrice e ignorância humana, quando adora-se
indivíduos com pouco "desconfiômetro". As histórias de suas caçadas
costumam rolar de boca em boca, quando causam muita risada e vexame. A
aplicação da peça resulta de amigos, que confundem-se com os inimigos.
Alguns esporádicos elementos caíram
unicamente no "Conto das Nhonhas". A lenda das Nhonhas difunde-se,
nalguma oportunidade, nas conversas comunitárias. Os ingênuos e trouxas parecem
até "terem tomado alguma injeção" contra a malandragem com vistas de
não incorrer no equívoco. Os visitantes, de plagas distantes, não costumam ser
recepcionados com tamanha brincadeira, que é coisa de adolescente. Os jovens,
antenados com a cultura exógena e os avanços tecnológicos, pouco conhecem ou
ligam-se nos costumes e tradições passadas e rurais. Os anciões e genitores
também não se dão o tempo de contar as histórias, que possam resgatar elementos
das nossas origens. O resultado é a progressiva substituição, talvez
desaparecimento, da memória histórica.
As caçadas de Nhonhas sucederam-se, no
passado, como uma brincadeira rural, que visava romper com a monotonia
comunitária. Os moradores deparavam-se com assuntos, que cedo tornavam-se do
conhecimento comunitário. A história de algum indivíduo dar-se o tempo de manter-se
parado com o saco aberto dava margem a diversas cenas, que, às vezes
escondidas, eram apreciadas e reproduzidas nas conversas. O tempo de espera era
outro aspecto observado, no qual testava-se o "desconfiômetro" e a
paciência do camarada. Os tocadores dos animais também, em situações,
apressaram-se em chegar nas suas casas, quando "cortaram caminho" com
vistas de não "despertar suspeitas aos abridores de sacos".
Sucediam-se situações em que ambas as partes, abridores de saco e tocadores,
apressavam-se em chegar a algum ponto determinado, no qual desconhecia-se os
maiores trouxas da brincadeira. Alguém, nesta hora, tinha "aberto a
boca" sobre o tom ou sentido da caçada.
As caçadas de Nhonhas, portanto,
integram o conjunto do folclore rural, no qual resultaram diversas histórias
coloniais. Uma brincadeira semi-abandonada em meio ao "desabrochar do
período das luzes", quando circula tamanho volume de ideias e informações.
O desconhecimento e ingenuidade não se prestam mais a tamanha brincadeira que,
no passado, deixou marcado inúmeros indivíduos. O registro, no entanto, faz-se
necessário com vistas de não deixar cair no esquecimento, porque alguma coisa
sempre temos de aprender com os conhecimentos e experiências do passado.
Guido Lang
Histórias
Coloniais - Parte 38
Jornal O
Informativo de Teutônia, p.04
24
de janeiro de 1996