ARTIMANHAS
E BRINCADEIRAS COLONIAIS
Os roubos eram fatos raros nas
comunidades rurais, quando, num dom de astúcia, permitia-se roubar unicamente
galinhas e melancias. O proprietário das aves, com a razão de mostrar a
esperteza e ousadia, era comumente convidado à ceia, quando noutro dia, unicamente
notava a ausência das suas adoradas e preciosas poedeiras. Este, num primeiro
instante, nem quisera acreditar nos fatos, quando “pregaram-lhe uma tremenda
peça”.
A invasão da roça alheia, com a
finalidade de obter algumas melancias, era uma brincadeira rotineira no meio
colonial. A existência de uma abastada e bonita lavoura de frutos cedo
espalhava-se aos quatro ventos, quando alguma turminha de malandros improvisava
uma visitinha.
A invenção de histórias, aos
fofoqueiros, consistia noutra artimanha, quando alguém, com vista de aplicar um
bom trote ao “comentarista voluntário”, criava alguma mentira. Esta era narrada
ao ouvinte, que, na primeira oportunidade, tratava de passar adiante a versão.
Os fatos contados costumeiramente eram assuntos combinados com os atingidos,
quando os comentários não passavam de um “baita invenção”.
O baralho era um passatempo rotineiro
nas colônias, quando, em meio ao jogo, alguém prestava-se “a fazer mutretas”.
Este não sabia perder, quando tratava-se de valer-se de artifícios. Estas,
como, dar-se maior número de cartas ou esconder outras, era descoberto, quando
o elemento desonesto era colocado “em banho-maria”. Ele era paulatinamente
excluído das rodadas.
A existência de tesouros, nos remotos
interiores, fascinou a imaginação de aventureiros e caçadores de riquezas. As
conversas comunitárias costumeiramente criavam histórias e lendas, quando
surgiam recantos misteriosos. Estes, nos cemitérios, grutas, igrejas, matas e
moradias, eram procurados, quando forasteiros, nas caladas da noite e no
transcorrer de domingos, davam-se tempo de vasculhar lugares e trabalho de
cavoucar buracos. A inutilidade da procura era causa de gargalhadas e os
esporádicos sinais de riqueza motivo de mais peripécias.
Guido Lang
Escritor, historiador e professor
Revista Vitrini, n°35, outubro de
1997, p.16.