Certo senhor, como passatempo nas conversas informais, gostava de
contar histórias e lorotas. Os próximos (familiares e vizinhos), de uma e outra
maneira, evitavam-no com essas conversas (de pouco nexo). Uns diziam: “- Conta
diversas vezes à idêntica história e algumas encontramo-nos carecas de ouvir.
Quê cara mais chato!”. Os temas de consumo e mídia, aos ouvintes, pareciam bem
mais atrativos e interessantes no cotidiano da vivência comunitária.
Sucedeu-se,
numa bela ocasião, do camarada contar mais uma dessas suas (numa reunião
familiar). Falou de relíquias enterradas, nos tempos idos, dos períodos das
missões, piratas, revoluções... Umas fantasias para cunhados, filhos, noras e
netos. Uma filha, aos netos, disse: “- O vô com essas suas conversas
e fantasias! Escutamos em função da consideração e educação! Afinal não vamos
desmerecer o fulano! Faz parte da idade! Fez tamanhos sacrifícios familiares!”.
Algum neto, com idade escolar, começou interessar-se pelos assuntos e ostentar
gosto pelas conversas. A fantasia integra a boa formação da criançada e
juventude.
Um
neto, nos fundos do terreno da moradia (dos pais), iniciou a abrir buracos. Os genitores,
numa altura, interrogaram sobre o sentido dessa obra. O pai foi dizendo: “- Deixa
o menino aprender a cavoucar! Adquirir o gosto de mexer com a terra”. O avô, numa
ocasião, ficou sabendo da façanha do guri/neto. Queria, na sua compreensão de
mundo, “cavoucar/localizar os tesouros dos tempos do outrora”. As ditas
relíquias/peças escondidas do vô! O autor das conversas, deparando-se com os
buracos e a história (do esforço inútil da criança), trouxe algumas mudas (de
uva) e doou-as ao plantio. Ele, ao descendente, foi explicando: “- Aproveita os
lugares e plante as mudas/ramas. Os sonhados tesouros, nalgum momento, darão
ares das suas graças”. O menino, na sua ingenuidade e inocência, atendeu as
recomendações e sugestões do adulto.
Algum
tempo transcorreu e surgiram os primeiros resultados. As plantas cresceram e
precisaram duma armação. Os genitores obrigaram-se a intervir. Os primeiros
cachos advieram e tomaram forma (como generalizada surpresa). O avô daí estufou
o peito e complementou sua ladainha: “- Aí encontra-se o tesouro! O fulano fez os
buracos e cultivou mudas/ramas! Estas
cresceram e multiplicaram-se! A proporção do capricho e trabalho revela o
milagre da frutificação/multiplicação do patrimônio.” A família cedo “refez os
seus instintos agrícolas” e não mais deixou ocioso o espaço. A produção, com os
seus dividendos (em uvas e vinhos), permitiu, no tempo, adquirir a almejada
prata e ouro. A planta, em espaço limitado, ostenta excepcional produção e daí
o interesse em fomentar a cultura em pequenas propriedades.
Os tesouros encontram-se
enterrados em quaisquer almas e espaços! Cabe, cada qual, desenterrar, multiplicar
e comercializar os seus! Singelas conversas e histórias, absurdas no momento, podem
ostentar profundos ensinamentos e verdades. O indivíduo extrai suas conclusões e
lições; aproveita o conveniente e descarta o inconveniente.
Guido Lang
Livro: ”Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto–brasileira)
Crédito da imagem: http://www.rpgnoticias.com.br/gerador-de-tesouros-de-cidade-pathfinder/