Um certo produtor,
morador do interior, criou uma dupla de terneiros. Estes, por serem esbeltos e de
tamanho assemelhado, ganharam a chance de serem criados em parceria. O objetivo
consistia em formar uma junta de bois. Qualquer colono, na época da tração
animal, mantinha-os em alta consideração, por serem “o pão da mesa do colono”.
O colonial, durante uns
meses, cuidou da amamentação e trato dos bichinhos. Estes, de forma paulatina,
foram amansados. Estes, desde tenra idade, ganharam canga. Precisaram acostumar-se
a domesticação. Outros momentos arrastavam/puxavam algum arado, carreta/carroça
ou tronco. O trabalho tornava-se uma necessidade e obrigação. O manejo precoce tornou-os
animais calmos e pacíficos. Algum mimo, na hora de cangar, permitia apanhá-los
no estábulo ou potreiro. A junta, pelo treino, encaminhara-se ao local próprio
do cangar.
O proprietário, tendo
outra junta, pensou num escambo/venda. Os propósitos foram externados nas
conversas informais. A casa comercial, tradicional ponto de encontro e
reencontro dos moradores da comuna, foi o local mais propício. A notícia, da
venda duma junta de bois, tornou-se comunitária. Os curiosos logo pediram por
valor. Alguém, como atravessador, até pensou em ganhar alguma margem. O preço
estabelecido acompanha os valores do mercado. Algum referencial, no meio comunitário,
existe como padrão. A procura maior, no período primavera/verão – época das
plantações, eleva a cotação e, nas entressafras, abaixa.
Um certo camarada, doutra localidade e aparentado
distante, interessou-se pelos animais. Afluiu a moradia para apreciar o produto
da compra assim como tratar do preço. Os dois, comprador e vendedor, acertaram
um certo valor (a crédito). O vendedor, por preço tal e até aquela data,
pagaria o numerário pré-combinado (pela junta). O dono, indo pela credibilidade
colonial, aceitou a bom termo o negócio (com alguma singela entrada).
O tempo transcorreu e o comprador/pagador
nada da promessa. O vendedor precisou correr atrás do devedor. Idas e vindas ocorreram
até a sua casa. Novas promessas sucediam–se e nada de dinheiro. Os bois, a essa
altura do campeonato, já tinham mudado de dono e nada de reavê-los. O caloteiro,
por semanas e meses, “matou o cobrador no cansaço”. Ficou aquela incômoda
situação. O comprador, improvisando dificuldades de subsistência e tendo filhos
pequenos, disse uma pérola: “- Eu não nego o devido! Pago como posso!
Aconchega-te na proporção da junta valer o preço dum galo!”
Os anos, em meio à corrida inflacionário (nos
anos do Governo de José Sarney), transcorreram e o poder aquisitivo viu-se corroído.
O vendedor, pela esdrúxula situação, deixou o débito nisso. O galo, valor
insignificante, jamais foi cobrado. O caloteiro pode levar o devido à
sepultura. O meio comunitário relembra a chacota “pelo valor dum galo”.
Vendas
a crédito representam sinônimo de calote e desconfiança. O exato e modesto “não”
é a melhor forma de evitar aborrecimentos e transtornos. Certos elementos,
embora muito pacatos, eternizam-se pelo “legado das pérolas”. Os caloteiros
subsistem em todos os meios econômico-sociais.
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”
Crédito da imagem:http://pastorelireis.blogspot.com.br/2012/09/aprendendo-com-o-galo.html