Histórias de lobisomens e fantasmas
costumam povoar a imaginação popular. As crendices, sobre o ser que é meio
homem e meio lobo, mantêm-se presentes nos relatos das comunidades germânicas.
Este ser, conforme descrições populares,
habitava os refúgios mais discretos das florestas, porque ele não teria espaço
no contexto da sociedade dos racionais. A condição de corpo humano e cabeça de
lobo teria levado a sua rejeição da convivência social, pois manteria muito
acentuados os instintos animalescos. Alguns coloniais, numa estranha mistura
genética, falam num cruzamento da espécie "homo sapiens" com o animal
carnívoro selvagem do gênero canino.
A estranha figura peluda se constituía
no terror das mulheres, pois, motivado por desejos sexuais insaciáveis, poderia
avançar sobre elas. O fato explicaria os maciços cuidados com as meninas moças
que, ao cair da noite, não deviam tomar caminhos da roça e estradas gerias. Os
ataques poderiam ser realidades corriqueiras e resultariam em abusos sexuais e
estupros.
Alguma companhia familiar, em função
deste temor, necessitaria fazer-se presente nestas saídas, para que o pior
pudesse ser evitado.
Os cuidados maiores sucediam-se nas
noites enluaradas, pois eram propícias para o despertar dos instintos
animalescos. A lua cheia, com sua magnífica claridade, convidava aos passeios
noturnos, ocasião em que os moradores das colônias mantinham o hábito das
mútuas visitas familiares. O homem-animal parecia conhecer este comportamento o
que o impulsionava a sair dos esconderijos. Os perigos maiores sucediam-se nas
sextas-feiras treze, quando "as bruxas encontravam-se soltas". A
vontade de propagar a espécie levava-o a desesperada procura por companhias
femininas, por isso atacaria sem dó nem piedade. A história do lobisomem,
portanto, gerava necessidade de precauções, pois nenhuma alma viva almejava ser
atacada por esta esdrúxula criatura. As mulheres, em função dos temores dos
ataques, tratavam de retornar cedo às residências, pois este fato sucedia-se com
o pôr do sol.
Os casos de estupro foram raríssimos
nas diversas comunidades de procedência germânica.
(Trecho extraído da obra “Contos do Cotidiano Colonial: Coletânea de Textos” de Guido Lang).
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