Uma senhora, com o
marido muito adoentado, labutou anos nos cuidados deste. Ele, nos anos da
convivência familiar, tinha sido uma boa companhia e parceria. A diabete,
conforme a constatação médica, dar-lhe-ia pouco tempo de vida.
A mulher, para evitar
atropelos e preocupações de última hora, antecipou-se aos eventuais problemas.
A funerária deixou pré-combinada. O religioso, da confessionalidade familiar,
deixou de sobreaviso. A roupa social, como calça, camisa, casaco e gravata,
providenciado...
O marido, numa ímpar casualidade,
viu a vestimenta pendurada no armário/estendida no cabide. Ele ficou adoidado com
as encomendações e prenúncios. A solução, para não dar o gostinho (de verem-se
livre dele), consistiu em melhorar de estima e saúde. Este, num assombroso sobro
de sobrevida, tratou de revigorar-se (“diante da aparente afronta e torcida”).
A surpresa adveio no
decorrer do tempo. Ele procurou viver ainda alguns bons e majestosos anos (“até
bater na porta dos céus”). Este, à mulher, não queria dar o gosto de enterrá-lo
com a vestimenta. O indivíduo, com sua aposentadoria/pensão, certamente pensou “em
algum Ricardão fazer festa” (como companhia/parceria da esposa/viúva).
Os equívocos igualmente servem como belos exemplos de
vida. A morte, em quaisquer contextos, assusta os viventes e os faz refletir
sobre os desígnios. Viúva(o) é aquela pessoa que vai e não o ser que fica.
Guido Lang
“Singelos Sucedidos
do Cotidiano da Existência”
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