Um colonial, numa
certa ocasião, dirigiu-se à cidade. Este procedeu uma visita aos parentes. Na
oportunidade aproveitou para levar alguma encomenda de cuias. Este, pelos porongos
escolhidos a dedo, ganhou boa soma. Ele, numa conversa informal, relatou o
sucedido ao curioso e necessitado vizinho.
Este, com os
tradicionais problemas financeiros, pensou numa forma de comercializar sua relegada produção. Algumas mudas, numa casualidade,
haviam nascido e crescido num amontoado de esterco curtido. Os singelos pés
(plantas) produziram algumas centenas de frutos. O produtor, diante da fala,
vislumbrou a oportunidade de comercializá-los na cidade. Ele, com a o auxílio
dos familiares, colocou mãos a colheita.
O produtor, nos primórdios
da colonização (por volta de 1875), encheu uma carroçada de frutos. Ele, num
certo dia, partiu pela esburrada estrada geral. Os familiares, com as prováveis
vendas, aproveitaram o momento para encomendar uma porção de compras. A
família, como pedido, almejava uma porção de quinquilharias (com o dinheiro auferido
na venda).
O vendedor de
porongos, na estrada de ida, precisou pegar uma barca para atravessar o rio
(Taquari). O curso fluvial, nos meses chuvosos do inverno, ostenta acentuados
volumes de águas. O camarada, depois de um deslocamento de quilômetros,
achegou-se às cidades (principiantes núcleos urbanos de Estrela e Lajeado/RS).
Ele, aqui e acolá nas casas dos moradores, ofereceu seu produto colonial.
Os naturais, de
maneira geral, mostraram descaso com a mercadoria. Um produto comum, de fácil
produção, nas lavouras das colônias. Este, numa profunda decepção, não
conseguiu efetuar maiores vendas. Os dispêndios, de manutenção e subsistência,
mal viram-se cobertos com vendas. As necessidades levaram a dispender o escasso
dinheiro. O desânimo, numa altura, levaram-o a retomar o caminho de casa.
O cidadão, diante das
carências e dificuldades, obrigou-se a poupar e sacrificar-se mais. Ele procurou
diluir e diminuir o prejuízo. O raciocínio, em termos gerais, consistia: “- Já
que não vendi, não tenho como contratar os serviços de retorna da barca (diante
da inexistência de ponte). Procurarei algum passo (passagem rasa no rio). Os
animais e carroça, a nado, podem atravessar pelas águas”. Ele, sem maiores floreios
e rodeios, procedeu dessa forma.
A junta de bois,
conduzido nas rédeas, incursionaram pela passagem. Os porongos, sendo leves,
passaram a flutuar nas águas. As peças, com o afundamento da carroça, foram
correnteza abaixo (na direção da confluência dos rios). O veículo, noutra
margem, viu-se esvaziado e lavado.
O produtor,
achegando-se à casa, causou admiração aos familiares. Os gritos dos filhos eram:
“- O pai vendeu tudo! O pai comprou nossas encomendas!” A esposa reforçou o
barulho com o interrogatório: “- Vendeu todos os porongos? Deu para ganhar o
dinheiro?” O marido, não sabendo que dizer ou explicar diante do esdrúxulo resultado,
respondeu: “- Procurei mandar tudo para Porto Alegre!” (através da direção dos
rios Taquari, Jacuí e Guaíba). A dedicação e o trabalho tinham sido em vão. A
penúria monetária manteve-se como sina familiar.
Os produtores continuamente defrontam-se com as carências
de mercados. A viabilidade econômica duma propriedade minifundiária de
subsistência familiar ostenta-se um tremendo desafio. Inúmeros empreendimentos
e negócios exigem labuta e sacrifício,
porém os resultados mostram-se mediocres. Mercadorias de fácil produção
costumam conviver com carências de aceitação no mercado.
Observação: História
narrada por Romildo Spellmeier/Colinas/RS.
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano das Colônias”
Crédito da imagem: http://www.viladoartesao.com.br