Se algum morador, há
aproximados cinquenta anos, tivesse profetizado algumas realidades agrícolas,
acabaria sendo chamado de louco. Os coloniais, com certeza, fariam dele chacota
por estar transtornado e acreditar na “Lenda do Papai Noel”.
A realidade, até os anos de 1960 a 1970,
era ainda de massivo trabalho animal e braçal. Os rurais trataram de lavrar o
solo (com arado de boi); cortar o pasto (com as foices); cultivar as sementes (com
saraguá); colher os cereais de forma manual... Dos tratores ouvia-se falar nas
regiões da Serra Gaúcha. As áreas planas permitiam a mecanização (em função de
ausência de pedras e baixa declividade das lavouras). Algumas máquinas, como
excepcionais artefatos das inovações agrícolas, circulavam numa e noutra localidade.
Uma boa junta de boi, em cada propriedade, mantinha-se parte da família (considerada
segurança para “ostentar pão na mesa”).
A força animal vivia-se complementado com a força braçal (ou vice-versa).
Carretas e carroças eram adquiridas a peso de ouro.
Se algum maluco, naquela época, falasse
da atualidade “em plantar milho no meio do brejo/mato” (com a subsequente
aplicação de herbicidas e plantio direto); trazer milho (em grão) do Brasil
Central para tratar galinhas caipiras (no pátio); produtores, na sua maioria,
nem mais tivessem bois nas propriedades; artefatos, como arados, foices e
enxadas, serem peças de museus; sementes genéticas, em detrimento as armazenadas
na propriedade, serem compradas a cada safra; leite, em caminhões tanque,
recolhido nos próprios tambos dos pátios; uns poucos aviários e chiqueiros produzirem
milhares de animais (com meia dúzia de produtores); pastoreio massivo das vacas em
pastagens artificiais (quase ausência dos tradicionais potreiros)... O vidente
acabaria ridicularizado e “colocado de escanteio” nas conversas informais.
Moradores perguntam-se: Que inovações
tecnológicas ainda virão na atividade produtiva primária? Máquinas mais
eficientes e potentes que tornam o trabalho humano obsoleto? A labuta braçal,
numa legislação específica, proibida por ser inconveniente a saúde e onerar os
sistemas previdenciários? Lavouras assumirão aspectos de hortas (em função da massiva
exploração das áreas cultivadas)? Os proprietários, na sua esmagadora maioria,
serão empregados/funcionários nas suas propriedades (reféns das instituições
bancárias)? Uns poucos unicamente continuarão como colonos e sendo considerados
excepcionais empresários do campo? Quais os investimentos financeiros
necessários para continuar produzindo? Os limites de produção por área são uma
realidade? Quem viver verá as mudanças! Uns poucos anos, na era globalização,
com tamanhas transformações no cenário agrícola!
As profecias, na prática,
nem em sonho poderiam ser vislumbradas. A inovação multiplicou o endividamento e
a produção, porém contínuas exigências ampliaram e melhoraram o sistema. A
agricultura e pecuária tornaram-se empreendimentos dum clube seleto de
indivíduos! Quem arrisca-se a dar limites a ciência e tecnologia? Os homens
poderão ainda constituir grandes civilizações sem maiores artefatos?
Guido Lang
Livro “Histórias
das Colônias”
(Literatura
Colonial Teuto-brasileira)
Crédito da imagem: http://poesialvaro.blogspot.com.br/2012/05/triste-campo-alegre.html