Um certo colonial, ao longo da estreita e comprida
propriedade, resolveu criar abelhas. Um passatempo, após anos de trabalho
urbano (em ambientes de agitação, barulho e egoísmo).
Procurou “semear o espaço com caixas iscas”.
Apanhou diversos enxames e foi constituindo sua atividade econômica. As
comunidades, em pouco tempo (em função da abundância de natureza), tornariam-se
muitas e vigorosas. As abelhas, em função das proximidades das áreas de
plantio, tornaram-se uma ameaça e inconveniência aos afazeres da vizinhança.
Constatou-se,
em poucos anos de manejo, uma singela diferença. Aquelas comunidades, instaladas
no interior dos matos (lugares mais remotos), mantinham-se robustas e perenes.
Difícil extinguir-se alguma! Aquelas caixas, localizadas próximas às divisas,
viam-se adoentadas e ceifadas (com extrema facilidade). O manejo de venenos, em
épocas de plantio, deixava num marasmo os insetos. A aplicação de herbicidas
certamente fazia diferença. O uso de eventuais inseticidas terminava com as
comunidades.
Acreditou-se, na mera casualidade, com razão
de não intrigar e desconfiar da vizinhança.
A solução, a partir daquela aprendizagem, consistiu em transferir as comunidades
(sobreviventes) para o interior dos matos (ambientes naturais). Distantes das
ameaças humanas e “prato cheio” às formigas. Conclui-se que cada espécie tem um habitat
próprio. O domesticador, de quaisquer empreendimentos agrícolas, precisa
adequar-se ao contexto (com vistas de ampliar as chances de sucesso).
As diferenças e intrigas de uns, cedo
ou tarde, respingam nos inocentes. Os próximos conhecem-se unicamente pela
fronte e dificilmente pelo coração. O sucesso alheio pode incomodar a outros. O
indivíduo, na proporção de conhecer o íntimo (de muitos racionais), cedo admira
o comportamento dos ditos irracionais. Boa vizinhança, nos interiores, conquista-se
sendo uma exemplar vizinhança.
Guido Lang
Livro "Histórias das Colônias"
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)
Crédito da imagem: http://quadrinhosantigos.blogspot.com.br/2011/04/extincao-das-abelhas-e-o-fim-da.html