Dois indivíduos,
desde a tenra infância, estabeleceram uma fraterna convivência. Inúmeras aventuras
e afrontas, como experiência de vida, tomaram vulto no ínterim. Histórias de
caçadas e pescarias, brincadeiras e jogos, estudos e parcerias de aulas,
esportes e bailes nas colônias... Achegou-se, com a idade, a necessidade de
fazer certas escolhas: decidir-se por alguma companhia feminina, constituir família,
escolher profissão, seguir estudos, empreender negócios... A vida econômica
criou oportunidades. A ascensão e liderança comunitária, na proporção do avanço
da idade, foi magnífica e próspera.
Os amigos, agora como
famílias, continuaram o relacionamento. Este, para poder continuar a funcionar
a contento, obrigou a estabelecer um tratado (verbal). Ele relacionou-se a
questão financeira/dinheiro. Ninguém, um ao outro, deveria pedir empréstimos ou
solicitar socorro monetário. Nada de maiores negócios mútuos. A amizade e
consideração deveriam prevalecer. Bons amigos e nada de maiores discursões
sobre finanças (nos momentos das confraternizações e visitas mútuas). Puderam,
dessa forma, estender a amizade e relacionamento nas décadas sucessivas e ao
longo das suas vivências.
Esta é uma problemática
comunitária/familiar. Os relacionamentos envolveram ganhos, divisões de espólios/patrimônios,
negócios de sociedades... Iniciam as desconfianças e desavenças. Irmãos,
criados pelos idênticos pais, começam a fraquejar no conjunto das convivências.
Confraternizações deixam de ocorrer, visitas começam a fraquejar, falatórios
tomam forma... Os interesses, com a constituição familiar e negócios, passam a
divergir. “Os forasteiros”, como genros, noras, namoradas, passam a opinar e interferir
na outrora família. “Cada qual tenta puxar o assado para o seu lado” e
instala-se o cisma. Irmãos acabam brigados/intrigados. A indiferença domina e
velhas mágoas afloram.
A vida, na real,
mostra-se muito breve para conviver com brigas e intrigas. O cidadão nada leva
desse mundo! Pode satisfazer-se com pouco (na proporção de uma aparente vida
espartana). Trabalhar para angariar dividendos? Pra quê? Para outros viverem
brigando pelo patrimônio alheio? Ganha tudo, no final da história, quem menos
batalhou e mereceu! Quem fácil ganha, cedo costuma desperdiçar (em função da
pouca valorização do recebido). Uma lástima algumas clãs viverem intrigadas em
função de espólios. Visitar parentes, conversar de forma despreocupada,
rememorar velhos fatos, compartilhar conquistas dos sobrinhos... Ostenta-se uma
dádiva divina! Vivamos, portanto, na melhor harmonia com os nossos! Deixa os
interesses financeiros excluídos. “Viva de forma justa no dia de hoje, pois o
amanhã só a Deus pertence”.
Dinheiro foi criado para facilitar relações, porém
tornou-se instrumento de desavenças e desgraça. Tratou a questão de dinheiro e
as pessoas mudam sua forma de agir e ser. Inúmeras pessoas acumulam como
pudessem levar algo para o além. Certos sentimentos mostram-se alheios à questão monetária. Versa, a tradição oral, “de que quem estraga as famílias são
aqueles que entram nelas”.
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano da Vida”
Crédito da imagem: http://www.hospitalpadreze.org/1/index.php