Uma certa família,
por décadas, viveu no interior e defrontou-se com as dificuldades
econômicas. “O dinheiro vivia contado
aos centavos” e, em diversas oportunidades, deixara de atender as necessidades
dos filhos. Eles precisaram de certos materiais escolares e roupas, porém nada:
carestia completa. Podia-se dizer: “- A família não passava fome, todavia
pouco faltou para tanto”. A sobrevivência consistiu em comercializar algum
leite (tarefa da mulher); o homem ocupar-se com tarefas alheias (diarista). Terra
arrendada e nada de maiores investimentos (para desenvolver uma propriedade de
subsistência familiar).
Os anos transcorreram;
filhos cresceram; a migração campo-cidade uma realidade... Adveio a
aposentadoria e a idade. Os ganhos fixos (dos benefícios), de cada final de
mês, possibilitaram o bom gerenciamento das finanças. A família, agora marido e
mulher, puderam vivenciar uma subsistência familiar calma e despreocupada. Os rebentos,
estudados e empregados, ajudaram com dinheiro e mimos, alegraram com netos e
visitas... O casal podia dizer: “- Eles não eram nem pobres e nem ricos;
poderiam comprar do bom e melhor para comer (nos cardápios); descansar conforme
as conveniências; fazer os passeios desejados...”
O casal, nestas idas
e vindas, fez um comparativo de anos. Queria saber da felicidade do outrora ou momentânea.
O tempo instantâneo, com o advento da idade, significava o consumo diário de
uma gama de remédios. A vida sedentária e a velhice tinham criado sérios
problemas de saúde. O consumo desenvolveu a diabete e a obesidade. Cuidados e
caminhadas diárias faziam-se necessários. O comparativo revelou uma dura realidade:
“- A felicidade, apesar das inúmeras dificuldades e privações, mostrava-se
maior nas colônias. A idade e o sedentarismo criaram problemas de saúde e
consumo de remédios”.
A experiência refez a
velha sabedoria: “- O indivíduo, estando com saúde, abraça qualquer causa;
judia-se, no primor da existência, com razão de querer remendar na velhice”. As
famílias, no tempo, acabam como começaram: marido e mulher. Os filhos seguem
sua sina. Os pais ficam vivendo o prazer da vidinha de cada dia. Algum perece e
daí o outro fica “nos aparentes favores de algum filho” (na proporção de não
refazer sua parceria).
Comparativos nunca são demais numa existência. Viver o
prazer de cada momento e dia com razão de degustar essa passagem ímpar. Os
problemas próprios, comparado aos alheios, de maneira geral são probleminhas.
Agradecer piedosamente, por ainda estarmos aí, na proporção de tantos estarem na
ausência. A saúde mostra-se uma excepcional dádiva e a maior sabedoria consiste
em cuidar dela.
Guido Lang
Livro: “Histórias das
Colônias”
(Literatura Colonial
Teuto-brasileira)
Crédito da imagem: http://imoveis.culturamix.com/dicas/paisagem-rural