Os colonos, jogados no interior das
florestas, precisaram encontrar soluções aos seus problemas. Os órgãos
públicos, mantiveram-se ausentes ou distantes nos serviços oferecidos. Os
recursos médicos encontraram-se distantes (horas de deslocamento em montarias
ou transporte de carroça) e onerosos (diante da falta completa de dinheiro). A
solução foi encontrar paliativos às emergências. Moradores, nas conversas
informais, davam sugestões de receitas caseiras. Outras, diante de sua
ineficiência, acabaram apelando a uma prática milenar.
Remédios caseiros, à base de banhos d’água,
emplastros e unguentos, resolviam incômodos com acidentes e saúde. Estes
poderiam advir de cortes (com ferramentas), espinhos e resfriados. O trabalho,
em meio a lavouras e matos, resultaram em inconveniências. Feridas e mordidas
(de insetos), mantinham-se realidades corriqueiras. A solução, no meio às
tarefas, foi aplicar remédios caseiros. Estes extraíam dores e inflamações.
Outra velha prática, trazida de legado das
florestas da Germânia, relaciona-se às benzeduras. Certos males, como
bicheiras, enxaquecas, ericibeia, invejas, maus olhados, quebrante, verrugas,
viram-se solucionadas com excepcionais benzeduras. Alguns moradores,
existentes/semeados como sementes raras, ostentavam os dons das forças
espirituais/faziam-se instrumentos dos poderes sobrenaturais. Estes, em meio à
discrição e pronúncia para si, apelavam às forças/instâncias supremas. Elas,
através das entidades máximas (Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo),
viram-se invocados. Alguns mais, em função do desconhecimento, diziam ser obra
de instâncias maléficas.
O curioso: as reais eficiências. Elas, em
inúmeros exemplos, faziam as curas necessárias. A real explicação do sucesso
foge à compreensão humana. Conta-se às centenas as histórias de curas e
milagres. Os mistérios do sobrenatural,
acréscimo da extrema fé do benzido, acabaram em curas. Versa a tradição: o
descrente nem precisa apelar e nem pode estar presente no ato do benzer. Ele
afasta/espanta os poderes. O dom supremo advém como dádiva e precisa ser
propagado como serviço.
Certos malefícios, como sérios incômodos,
cedo mudaram de fisionomia (diante da primeira prática; o rotineiro consistia
em três bênçãos alternadas em espaço de dias). Parecia, aos descrentes e
néscios, coisa do outro mundo. Religiosos, de maneira geral, combatiam a
prática milenar. Ela, para uns, confundida com bruxaria; para outros era
resquício do poder divino em cada qual. Os imigrantes, sobretudo de procedência
da região do Hunsrück/Reno/Prússia, trouxeram a prática e disseminaram-na entre
famílias e localidades.
Uns benzedores/as, pelo poder mental e
psicológico, criaram fama na história oral. Inúmeros moradores, conforme as
necessidades, afluíam de longe para valer-se dos préstimos. Eles eram
administrados de forma gratuita e a recompensa, no máximo, era dada em forma de
mimo (da vontade do doador/paciente). A eficiência, do ensino da prática,
poderia dar-se somente entre sexos opostos. Explica-se: o homem ensina o
segredo alguma mulher e esta a algum homem. O dom, em síntese, advinha da
natureza da pessoa.
A prática sobrevive à ação do tempo, porém
perdeu expressão com os modernos recursos medicinais. Certos mistérios
extrapolam as concepções humanas. As palavras, do Mestre Jesus (em meio às
curas), afirmavam: “- Tua fé te curou”.
Guido
Lang
Livro “História das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)