As colônias teutonienses, nos
primórdios da colonização (1868-1928), careciam de locais festivos, quando
inexistiam os salões das vendas coloniais. Os colonos, num punhado de famílias,
procuraram improvisar eventos que pudessem romper a monotonia rural. Os
moradores, depois dos primeiros anos de derrubada do mato e progresso
econômico, iniciaram a edificação de solares familiares, que atenderiam as
necessidades de moradia de algumas gerações da descendência.
As casas, no ato da inauguração,
conheciam um evento animado, que era um baile comunitário. O acontecimento era
uma forma de reunir o conjunto da população, porque uma sólida moradia
edificava-se de forma esporádica pela existência. Os construtores, numa única
oportunidade, poderiam mostrar a obra ao conjunto de visitantes, pois era
tradição mostrar a casa recém-construída.
A festa realizava-se no interior da
sala, no que algum trio ou quarteto de músicos (colonos músicos) animava a
celebração, estes com algum acordeom, flauta, violino, reco-reco... iniciavam a
animação com o clarear da tarde e estendia-se até a meia noite.
Os moradores, na
quase sua totalidade, afluíam ao comentado e esperado baile, no qual somavam-se
alguns forasteiros e parentes (distantes). Os moços e as moças ficavam isolados
em cada lado do ambiente, quando os rapazes convidavam as meninas para dançar.
As famílias cedo uniam-se em laços de parentesco, quando todas as clãs
tradicionais, através de décadas, viram-se unidas no sangue. Os comes, como
cuca e linguiça cozida, eram servidas na cozinha, enquanto a cerveja e a gasosa
numa copa improvisada. Inexistia a preocupação de segurança e roubos, brigas e
desentendimentos, no meio de conhecidos, dificilmente sucediam-se e eventuais
conflitos eram apaziguados pelos amigos.
A tradição dos bailes caseiros caiu
no desuso com a edificação dos salões, quando os vendeiros, junto à casa de
comércio, vislumbraram perspectivas de negócio. Eles, na carência de espaço
recreativo, improvisaram um lugar, que servisse ao baralho, bailes e festinhas.
Alguns comerciantes, numa data específica anual, mantinham uma tradição de
baile que os colegas comerciantes e moradores sabiam e respeitavam mutuamente.
A realidade destes deu origem à formação de conjuntos musicais, quando
improvisou-se “bandinhas” (grupo de músicos).
Os
salões, nas décadas posteriores, deram origem aos centros comunitários, que
ganharam fôlego pós-emancipação política da comuna. As festas familiares
restritas aos parentes próximos ganhou a preferência, quando numa inauguração
de uma nova residência, abandonou-se o baile. Os ocupantes temem o estrago;
ostentam espaço restrito ao público e a carência de estrutura. Os bailes
familiares, conforme a memória comunitária, ficaram somente nas reminiscências
de um passado distante, que também tinha suas belezas e fascínios.
Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
Crédito da imagem: http://oportunityleiloes.auctionserver.net/images/lot/51905/0/lot51905.jpg