As colônias,
como quaisquer ambientes da convivência humana, possuem os tradicionais mensageiros.
Estes, como ocupação e paixão, trazem e levam acontecimentos e informações aos
diversos cantos e recantos da vivência colonial. Os camaradas, no ambiente
comunitário, acabam conhecidíssimos pela prática. Uns tratam de cuidar-se em
externar certos comentários e falas na presença destes.
Uma dupla combinou em aplicar uma peça ao
sicrano. Ele, como trabalhador diarista, perpassa as diversas moradias. Conhece
a rotina das famílias e comenta detalhes no armazém/venda. Um prato cheio aos
falatórios. Os dados "escorrem pelas bocas de rurais". Uma realidade imprópria
na proporção de estranhos saberem demais da vida de outros. O excesso de
particularidades incorre na insegurança familiar. O comentarista "mordeu a
isca e foi-se ao mundo" na proporção de ficar sabendo algumas novidades.
O beltrano e o fulano estabeleceram um
combinado! O primeiro falaria da doença do fulano, que, a um bom tempo, andaria
desanimado e com alguma indisposição. A causa poderia estar no fracasso dos
negócios assim como dificuldades financeiras (a tradicional "doença do bolso").
Quem não teria problemas de finanças com os elevados investimentos em aviários,
chiqueiros e tambos. Os bancos, através do excesso de créditos agrícolas, estariam "batendo a porta". O cidadão, numa conversa informal, ouviu atento a
exposição; o beltrano, com a permissão do fulano, colocou detalhes da situação.
O indivíduo, nas primeiras oportunidades, passou adiante o comentado.
Ele falou os dados na convivência das
famílias e trabalho. Uma grande invenção! Os ouvintes cedo vieram interrogar
sobre as condições de saúde do fulano. Este colocou de ridículo o sicrano, que
passou como "excepcional mentiroso na praça". Os autores riram-se da estranha
situação com razão de ensinar-lhe uma lição de vida. Sentiu-se, lá adiante, um
trouxa e aprendeu a averiguar certos dados. Pensa, numa futura oportunidade, cobrar-se da amarga afronta. Os colonos
denominam estes trotes de "passar um cachorro" (desconhece-se a origem no
termo).
Os comentaristas e mentirosos
costumam-se ser causa de chacota e piada. Mostra-se atitude inconveniente
explanar conversas reservadas num ambiente comunitário. Quem nesta vida, em
nalgum momento, já não entrou em alguma fria?
Guido
Lang
Livro
“Histórias das Colônias”
(Literatura
Colonial Teuto-brasileira)
Crédito da imagem: http://familiavoltz.blogspot.com.br/2009_07_01_archive.html