Os imigrantes,
enfiados no interior da floresta, obrigaram-se a estudar as espécies. Conta-se,
pela tradição oral, que consumiam as frutas que as aves digeriam com razão de
não comer inconveniências. O aprendizado cedo despertou o interesse excepcional
por algumas espécies nativas, que faziam “a festa da fauna”.
As espécies, como amoras, araticuns,
cerejas, guabijus e guabirobas, foram poupadas dentro das possibilidades da
devastação generalizada. A qualidade das frutas, para o consumo próprio e
manutenção de espécies, via-se excepcional, no que cedo ganharam espaço nos
pátios e pomares. Algumas, com bom sombreamento, mantinham-se árvores
ornamentais, quando, no rigor do verão, podia-se sentar para conversar e
receber visitas. As famílias, nas épocas próprias, podiam degustar alguma fruta
silvestre, no que costumeiramente “fazia a alegria da gurizada”. Os apicultores
improvisados viam a dádiva divina quando os insetos tinham oportunidades de
produzir mel. Aves, como angolistas, galinhas, gansos, marrecos, perus e
pombos, podiam degustar sobras. Algumas famílias, por tradição de gerações,
mantinham a prática de manter algumas árvores especiais de guabijus e jabuticabas.
Elas eram marcas de assimilação, de princípios ambientais da América, quando,
na época da frutificação, bandos de araquãs e sabiás invadiam os pátios nas
caladas dos dias.
Os moradores, no interim da labuta,
davam-se o tempo de assistir o espetáculo das aves assim como degustar uns bons
frutos. Uma singela alegria, junto a outras, do espetáculo da vida rural, que
tem suas dificuldades e também seus encantos. Uns poucos, com a maior
consideração, mantêm ativo a cereja, jabuticaba e guabijus nos pátios na
proporção do espaço disponível permitir.
Princípios
e valores de uma época subsistem na discrição do quotidiano, quando guarda-se
reminiscências deste passado ímpar e mantêm-se resquícios da tradição. Algumas
jabuticabas e guabijus subsistem ao tempo, enquanto os reais cultivadores, na
sua maioria, “jazem no silêncio das suas tumbas” e o “pó voltou ao pó”.
Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-Brasileira)
Crédito da imagem: http://www.panoramio.com/photo/18476018