As agruras e carestias
exigem precaução caso contrário a fome e o frio ceifam a vida. Inúmeras
espécies, como ensinamento e sabedoria, seguem a sina de acumular. As abelhas
ostentam-se um belo exemplo do estoque de reservas ao infortúnio. Os
indivíduos, da astúcia dos insetos, podem extrair excepcionais lições de vida.
Uma comunidade de abelhas,
no interior da colmeia, seguiu sua rotineira sina. Ela, na
primavera-verão, começou a precaver-se das dificuldades do inverno. A
espécie, pelos milhões de anos de existência no planeta Terra, sabe da
tradicional achegada, na época própria, da chuva e do frio. Os imprudentes,
como comunidades singelas, perecem diante da falta de reservas alimentares. A
inexistência de flores e descuidos de apicultores levam a tragédia de inúmeras
comunidades.
Cada inverno, apesar do
conhecimento generalizado sobre a situação do porvir, leva muitos ao
perecimento. Uns sempre pensam: “- Isto não vai acontecer comigo e somente com
os outros”. Estes, na proporção da achegada das desgraças, cedo recorrem a
mendicância e a pobreza.
As colmeias, conhecedores
da realidade própria do habitat, antecipam-se a desgraça. As comunidades, nas
estações quentes, começam a avolumar mel. Um trabalho incessante, de vôos
e sobrevoos de milhares de membros, dedicados a explorar as variadas
florações. As caixas e sobrecaixas, em poucas semanas, precisam mostrar-se
abarrotados de favos e mel. Um aroma ímpar, com o calor de verão, passam a
exalar nas redondezas das instalações de comunidades carregadas. Inúmeras
ostentavam-se serenas e tranquilas com a tarefa precocemente concluída
do acúmulo das reservas.
Os perigos dos muitos
aventureiros, com o aroma, rondeavam os patrimônios apícolas. As abelhas,
em meio as desconfianças dos inimigos, ostentavam-se deveras agressivas e
precavidas. Um conjunto de oportunistas, em função do doce, ameaça as
comunidades com a história do mel. O fatídico aconteceu com os esfomeados
apicultores. Estes sentem os cheiros das reservas. Eles, na primeira
oportunidade, avançam sobre os favos.
A agressividade e
ferroadas, em meio a indumentária dos profissionais, surtem escassos efeitos.
As pilhagens costumam atingir as sobrecaixas. As abelhas, para safar-se do
infortúnio dos dias impróprios do inverno, obrigam-se a retomar
a onerosa labuta. O ódio e a raiva certamente não faltam por ter colocado a
sobrevivência das muitas comunidade em perigo.
Inúmeras famílias, ao
longo da existência, seguem uma assemelhada sina. Elas, com extremo espírito
econômico e trabalho, acumularam reservas (durante décadas e gerações). O temor
da miséria mostrara-se contínuo nos dias do vigor da vida. Poupanças, prédios e
terras viram-se adquiridas e acumuladas para gerar dividendos. Estas
divisas, com os investimentos, multiplicaram-se na proporção da achegada da
velhice. As ideias e os olhos alheios, na tradicional cobiça e inveja humana,
cresceram com a existência dos patrimônios familiares.
Os anos transcorreram
rápidos. Os filhos casaram e forasteiros aconchegaram-se nos seios familiares.
Estes, como aventureiros/oportunistas de prontidão, cedo vislumbraram as
possibilidades de ganhos fáceis. As preocupações dos intrusos, com
o perecimento de algum ancião, relacionara-se aos inventários. As perguntas
básicas foram: Como serão divididos os espólios? Quais os direitos dos herdeiros?
As brigas e desavenças tomaram vulto entre os irmãos (“cada qual querendo
puxar o assado para o seu lado”).
As heranças familiares,
como os favos de mel, acabam esfacelados e nas mãos daqueles que menos
labutaram. A pilhagem, infelizmente, toma sentido e o “cheiro da fartura
incentiva a usufruir, como boas vidas, daquilo pelo qual não batalharam e
trabalharam para angariar”. Conflitos homéricos esfaleceram antigas clãs e a
desconfiança instalou-se pela vida afora entre manos.
Conflitos familiares, na
hora das divisões dos espólios, tornaram-se uma sina comum na maioria das clãs.
Certos indivíduos sentem-se grandes e poderosos com o suor alheio (o próprio,
em geral, ostenta-se uma caricatura). As pessoas preocupam-se deveras com o ter
em vez do ser. O dinheiro, no contexto da convivência, deixou de ser fator de
facilidades de troca e sim causa de acirradas disputas.
Guido Lang
“Singelas Histórias do
Cotidiano da Vida”