Um
viajante, num desses desertos abrasadores e arenosos das Arábias,
tinha se perdido. Um lugar, sem avistar uma só habitação,
caminhava-se semanas inteiras.
Ele
estando a morrer de fome e sede, descobriu enfim uma palmeira, à
sombra da qual corria um regato de água fresca. Achou, numa extrema
casualidade, também ao pé da árvore um saquinho.
“Seja
Deus louvado por tamanha graça! Alimento!” Exclamou o viajante,
apalpando o achado. Podem talvez ser ervilhas, que me impedirão de
morrer de fome. O extraviado, assim falando, abriu esfomeado o
saquinho e exclamou desapontado:
“Ah,
meu Deus! São pérolas!” O desgarrado viajante ia morrer
de fome, não obstante de estar de posse de afortunado tesouro. Elas,
pelas contas do mercado, valiam fortunas. O infortunado, nesta
aflição e desespero, orava com fervor. Eis, que de repente,
apareceu um árabe sobre um camelo. Este caminhava a toda pressa,
pois encontrava-se a procura do perdido. Contente de localizar e
receber a devolução das suas pérolas, compadeceu-se do forasteiro.
O árabe deu-lhe pão e frutas deliciosas. Este recuperado nas
energias, fez o montar também sobre o animal. Tratou de levá-lo ao
termo de sua viagem, sem que o viajante corresse maiores perigos.
-
Repare, disse o bondoso homem, que admiráveis são os meios de que
se serve o Criador. Eu lamentava como uma grande desgraça a perda
das minhas pérolas; todavia nada mais feliz podia acontecer. Deus
assim o quis, para que eu obrigado a voltar, chegasse aqui a tempo de
salvar-te. Deus, por meios de aparências bem singelas
livra-nos dos flagelos. Ele costuma fechar uma porta e abre diversas
outras (J. M. de Lacerda).
(Fonte: Terceiro Livro de
Leitura, Petrópolis/RJ, Vozes, 34 ed., 1921)
Crédito da imagem: http://www.reflexoesevangelicas.com.br/2012/05/deserto-vazio-frieza-trilha-rumo-ao.html