O povo brasileiro tem
muitas crendices e superstições, que refletem o quadro da miscelânea cultural.
Inúmeras histórias são narradas de boca em boca, mas dificilmente ganham uma
redação. O povo humilde dificilmente se dá o tempo e o trabalho de elaborar
escritos, que descreviam sua rica vivência.
Uma modesta família
colonial tinha um pedacinho de terra próxima a um riacho, onde havia uma árvore
centenária. A mulher, com frequência, ia ao córrego com o objetivo de lavar as
roupas, porque não existia encanamento de água na residência. Inúmeras idas e
vindas faziam-se ao longo dum ano de penosa labuta.
A mulher, numa tarde,
ouviu uma voz que saía do fundo daquela terra, próxima do centenário vegetal.
Esta, num primeiro instante, pensou tratar-se de alguém conhecido, mas olhou
pelas redondezas e nada viu. Procurou prestar mais atenção em relação à
procedência daquele chamado, que, vindo do solo, assustou-a tremendamente.
Esta, em meio a
temores, atendeu ao chamado, que dizia tratar-se dum indígena.
Um velho pajé, com a
função de feiticeiro, profeta e sacerdote, tinha sido enterrado há décadas
naquele espaço, mas sua alma ainda perambulava pelas redondezas daquele
cemitério indígena.
A mulher achou
tratar-se de um comunicado sobre a existência de tesouros.
As escavações, em
poucos dias, iniciaram mas não se encontrou nada de valioso.
A família, por causa
do trabalho, mudou-se para a cidade e os moradores do local acharam que esta
tinha encontrado a ambicionada fortuna.
A coincidência da
mudança tinha criado mais um conto colonial, no qual mesclam-se fatos concretos
com imaginários.
Os seres humanos possuem mente fértil quando se trata de
riquezas, pois histórias não faltam nas conversas informais sobre
enriquecimentos.
Os próximos parecem ganhar sempre mais fácil o dinheiro
do que a gente.
(Trecho extraído de “Contos
do Cotidiano Colonial: Coletânea de Textos” de Guido Lang).
Crédito da imagem: http://downloads.open4group.com/wallpapers/1024x768/arvore-centenaria-11382.html