As famílias, na
proporção das ausências das redes comunitárias (de água), construíam as
moradias próximo as fontes. Elas eram consideradas e procuradas como um tesouro
no interior das propriedades. A existência, em muito, elevava o valor monetário
do imóvel. Espaços, bem abastecidos com olhos d’água, eram considerados
ambientes privilegiados no cenário colonial/rural. Lugares continuamente
úmidos, no interior de matos e roças, cedo viam-se achados e cavoucados
(com razão de conhecer os reais
mananciais de líquido).
A necessidade de
água, um recurso imprescindível à vida, levou a cuidados essenciais com
fontes/poços. Elas, volta e meia, viam-se limpadas e reparadas. Eventuais
caranguejos viam-se combatidos (com o acréscimo de algum punhado de sal ao
ambiente). O acesso de animais via-se impedido (na proporção de haver consumo
humano). A canalização, mesmo de forma rudimentar, era uma realidade. Um
processo improvisado dado as carências monetárias e recursos disponíveis no
comércio. Uns furavam taquaras e utilizavam as varas como canos; outros
adquiriram sólidos cubos de ferro para conduzir o valioso líquido (de forma
perene às instalações). O líquido, como bálsamo da vida, fluía na direção de
reservatórios (edificados no pátio). Deixar a fonte coberta/tapada mantinha-se
uma primeira postura com vista de evitar acúmulo/decomposição de restos
vegetais ou eventual invasão/putrefação animal (nalgum eventual inconveniente
afogado no reservatório de sucção do
líquido).
Os colonos, destes os
primórdios, mantiveram outro cuidado essencial. Este relacionava-se no frescor
d’água assim como a manutenção de veios. Estes, com as sacudidas dos trovões,
poderiam deslocar-se no interior do subsolo. Criaria-se problemas de secamento
e consequente desaparecimento. O cuidado/segredo, nas proximidades, consistia em
cultivar uns bons taquarais. Eles, na atualidade, denunciam, a longas
distâncias, a presenças das fontes/veios d’água.
O significado vegetal
consistia em manter o ambiente fresco e úmido (à plena brotação do cristalino e
puro líquido). Os taquarais, conforme os relatos orais, mostram-se imunes a
ação de raios. Os poços, em função da água, poderiam conter energias
antagônicas e oferecer perigos nos instantes da fúria da natureza. O ambiente
fresco manteria o vigor da fonte assim como a qualidade da água (mineral). Os
problemas poderiam advir nos dias mais cruciais do verão (do período das
estiagens). Árvores frondosas/volumosas eram evitadas na circunvizinhança (em
função do poder das raízes de invadir o interior). Poderia-se deixar crescer
algum capão de mato ralo como reforço à manutenção dos veios. As raízes dos
taquarais não tinham tamanha ganância pela água, por isso protegiam o ambiente.
A sabedoria colonial
desconhece a origem do hábito dos taquarais. Uma criação autóctone provável dos
colonos ao contexto da adaptação à realidade dos ambientes americanos. O hábito
criou-se/instalou-se junto às primeiras fontes (nos primórdios da colonização)
e estendeu-se sucessivamente ao longo do processo civilizatório. O vegetal
mantém-se ativo em inúmeros locais. Os nomes dos reais plantadores, na
edificação dos primeiros solares, encontram-se num aparente desconhecimento.
Estes pioneiros descansam nas cinzas da eternidade, porém suas singelas obras
perpetuam-se no tempo.
Segredos, crenças duma época e geração, fazem-se
presentes no cotidiano da vida. Inúmeros poços, abandonados e ignorados,
denunciam-se e perpetuam-se pela presença dos taquarais. Os ventos da
modernidade, com a história da saúde pública, levaram ao abandono das fontes
(porém trouxeram a inconveniência da água clorada e permanentes taxas de uso).
O registro da história visa mantê-lo resguardado do esquecimento, para que a memória
comunitária tenha relatos das suas odisseias do passado.
Guido Lang
Livro “Histórias das
Colônias”
(Literatura Colonial
Teuto-brasileira)
Crédito da imagem: http://canto-cigano.blogspot.com.br/2012/07/planeta-aguaby-dany.html