Um
morador, como colonial, era tradicional produtor de suínos. Ele, dentro da
agricultura familiar diversificada de subsistência, cultivara ainda diversos
víveres. O objetivo, como forma de angariar algum dinheiro, consistia em
engordar chiqueiradas de porcos. Ele, para fechar o ciclo da atividade,
escolhia as matrizes e machos (para gerar os próprios leitões).
O
indivíduo, em três oportunidades diárias, obrigara-se a tratar os animais. A
sua mera presença nas instalações, em quaisquer momentos, resultara num
berreiro ímpar dos animais. A vizinhança, a longas distâncias, escutava a
gritaria infernal. Os cuidados, para o bom andamento e êxito do empreendimento,
ostentava-se contínuo. Uma necessidade e obrigação comum a todo criador,
caso contrário, nem adiantaria começar a empleitada.
Uma
situação excepcional ocorria nos dias de cozidos/lavagens. Estes, no dia anterior,
viam-se confeccionados num enorme panelão. O preparado, com ingredientes
variados, ganhava os recursos da propriedade. Exemplos: abóboras, aipins,
batatas, chuchus, sojas... Os restos e sobras, como exemplo de carneadas
e da cozinha, viam-se misturados e cozidos. O bicharedo, de manhã, ganhava o
dito ensopado. O cozido, com o cheiro de miúdos, deixava adoidados e
incontrolável os animais. Estes, com a algazarra de esfomeados, queriam
danificar e pular as instalações afora. A dificuldade, em meio a afobação e
confusão, consistia até em administrar o cardápio.
Alguns
animais, numa chiqueirada de vinte a trinta membros, mantinham-se deveras
famintos. Uns simplesmente almejavam comer tudo sozinhos. Outros avançavam de
forma agressiva nos cochos. Alguns mordiam os mais fracos... Os gulosos
consistiam nos mais esbeltos e gordos. Os primeiros, pelos humanos,
vislumbrados no ambiente da criação. Eles, com o espírito de esfomeados,
desconheciam um singelo detalhe da existência.
A
gula, em função do detrimento dos irmãos, levava a antecipação da sua sentença
de morte. O dono, na proporção do crescimento e desenvolvimento ia
abatendo ou comercializando os mais gordos. A limitação do espaço e o consumo
alimentar exigia o procedimento. O peso, de cem a cento e vinte quilos,
encaminhava os fofos ao abate. Os modestos, com dificuldades de acumular peso,
obtinham alguma sobrevida. Outros, com modos sutis de boas fêmeas ou machos,
viam-se selecionados/poupados, como reprodutores.
A escola da vida ensina: os exageros e ganâncias levam a desgraça.
Os humanos arrogam-se direitos e domínios sobre os ditos espíritos menos
evoluídos (até onde vai esse direito?). Certos desígnios, dentro da diabólica
engrenagem econômica, ostentam-se difícil de mudar e reverter. A vida tem propósitos
maiores à evolução espiritual e os bons sensos nem sempre são seguidos a
contento.
Guido Lang
“Singelas
Histórias do Cotidiano das Colônias”
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