Uma senhora, nascida e criada nas colônias,
pode criar uma dezena e meia de filhos. Uma jornada, de cada ano e meio (na
idade fértil), encontrava-se em estado de gestação. Ela, a vida inteira, dedicou
à família, filhos e sobrevivência.
Esta, nos dias finais da velhice, procurou
fazer uma rápida resenha da difícil e onerosa existência. A anciã, numa síntese,
expressou: “- A gente atendia o tempo inteiro casa, filhos e plantações!
Achegava-se, à noite, encontrava-se exausto e morto de cansado! O marido, para
completar, exigia ainda o atendimento das intimidades! Uma vida sem muitas
alegrias e satisfações! Coloca vida judiada nisso!”
As décadas transcorreram e adveio a velhice.
O marido tomou a dianteira do derradeiro descanso. O falecimento, precoce duma
filha, somou-se como desgraça e tragédia! Esta, em meio ao choro, disse: “- A
gente até suporta o falecimento do companheiro! Algum filho, vendo descer a
sepultura, não dá para aguentar e suportar! A dor corta e esfacela o coração!”
Ela, nuns meses sucessivos, tomou o rumo do cemitério.
Queria partir ao encontro dos ancestrais e parceiro. Esta, frágil em vida, implorou
ao Criador para não ver mais outros infortúnios (com mais filhos, netos e bisnetos).
A fraqueza e a idade não comportaram tamanhas dores e sofrimentos!”
O
indivíduo nunca sabe dos desígnios e flagelos no compasso de espera. Inúmeras
famílias, com a loucura da criminalidade, drogas e trânsito, enterram seus
próprios frutos. A longa vida expõem-nos aos muitos e variados acontecimentos e
padecimentos!
Guido Lang
“Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”
Crédito da imagem:http://pt.wikipedia.org/wiki/Cemit%C3%A9rio