O indivíduo, ao longo
da existência, vai conhecendo certos fatos e realidades. Elas, através da
convivência e observação, vão ensinando crenças e valores. Uns princípios
parecem tão particulares e velados como se fossem irreais. Estes acabam explanados
unicamente nas conversas privadas.
Uma senhora, com os
seus oitenta anos, encontrou-se nos seus últimos dias (duma abençoada e longa
jornada). Os netos, ainda muito ingênuos e curiosos, faziam-lhe determinadas
perguntas. Algumas, pelo excesso de clareza e franqueza, causaram admiração e
espanto. A alegria maior, no desfecho do livro da existência, consistiu ainda em
conhecer e conviver uns poucos anos com estes descendentes. Ela, no apagar das
luzes, ainda pode estabelecer vínculos de convivências e reminiscências.
Um filho, na surdina
das conversações, pode escutar uma explanação dessas. A anciã, perguntada sobre
a questão de morte, externou sua real crença e fé. Um neto interrogou: “- Quê
acontece na proporção da pessoa falecer?” “- Onde ela vai?” Algo difícil,
estando na pele da idosa, de falar a
realidade da dureza da vida.
Ela, de forma clara e
objetiva, disse: “- A gente vai para terra! A pessoa volta de onde saiu! O
retorno ao nada! Cinza a cinza, pó ao pó! A vida como nunca tivesse existido! A
consciência fica com a sensação da missão cumprida. A morte de um é o alimento
do outro!” O cidadão, como rebento, ficou estático e sem palavras. Quê dizer
diante da dura realidade da transitoriedade da existência!
A crendice, no
cotidiano da religiosidade, mostra-se suprimida pela influência do
cristianismo. Os rurais, vendo e revendo as contínuas nascenças e perecimentos
no dia a dia das atividades agrícolas, deixam-se contaminar pelos conhecimentos
e observações empíricas. Os criadores e plantadores, no contexto das lidas
diárias, continuamente veem a morte acontecendo e os nascimentos ocorrendo nos
cenários coloniais. A natureza no seu constante ciclo das procriações e perecimentos.
O objetivo maior parece inclinar-se numa direção da evolução espiritual.
O idêntico aplica-se à
vida humana. Quê seria do planeta Terra em função da possibilidade da
perenidade dos homens? A cobiça e ganância de uns teriam abocanhado todo o
patrimônio. Os desperdícios e dispêndios de outros exauriam os recursos
naturais. O apego e o controle ao poder causaria conflitos insolúveis. A
renovação, através dos perecimentos, ostenta-se uma divina sabedoria. A efemeridade da vida obriga a pensar e
repensar conceitos e hábitos. A eternidade reside no legado da grandiosidade das
ideias e postergação das gerações. A missão subsiste em ser elo entre as
gerações (passadas com as futuras).
O indivíduo, cada qual, tem as suas crenças e superstições.
Inúmeras doutrinas e filosofias não passam de meros conceitos e formulações de
épocas e gerações. O indivíduo, nalgum
momento, precisa prestar contas das obras e realizações (à consciência e a Deus).
O naturalismo e panteísmo encontram-se muito ativos e presentes no cotidiano das
colônias.
Guido Lang
“Singelas
Histórias do Cotidiano da Vida”
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