As famílias, no contexto do trabalho
rural e convivência familiar, mantinham um excepcional hábito. Os membros, no
ínterim da labuta, mantinham a prática da conversação quando ensinava-se e
falava-se dos assuntos mais diversificados e variados. A conversação informal
incluía a riqueza da memória e tradição oral, quando crônicas familiares,
histórias locais, vivências em geral, eram repassadas nos diálogos. Os jovens,
junto com pais e avôs, assimilavam a rica cultura imaterial, que advinha dos
acontecimentos da Europa junto às novas experiências da América. Uma cultura
germânica com a mescla do conhecimento local direcionava-se a formação de uma
civilização autóctone (teuto-brasileira). Viveu-se desta forma nas primeiras
gerações de colonização.
Os “ventos da modernidade” trouxeram
um melhoramento das tecnologias quando elevou-se a qualidade de vida; estradas
de rodagem cortaram os muitos cenários; informações generalizadas tomaram
vulto; artefatos inimagináveis invadiram os lares; ocorreram migrações massivas
na direção das cidades; rebentos tomaram o rumo dos educandários; opções de
lazeres multiplicaram-se... Adveio o apogeu dos celulares e computadores, num
aparente golpe fatal, sobre a conversação informal, quando famílias pouco
narram das crônicas e histórias dos ancestrais e familiares.
Instalou-se daí uma carência, que,
lá diante, na ausência das velhas estirpes, acabará refletida no empobrecimento
cultural. Filhos e netos manterão certas dúvidas e interrogações que não
poderão ser preenchidas por falta de convivência. Convive-se na atualidade com
o descaso do saber destas informações, porque têm-se atrativos eletrônicos bem
mais interessantes. Fica aquela ideia: quem ainda perde tempo escutando
histórias e vivências do passado (do “tempo do epa”). O acúmulo de experiências
e relatos, numa tradição oral de gerações e séculos, caí no desleixo, quando
com ela desfaz-se um modo de vida/civilização.
Entra
aí a importância de deixar registros escritos, no qual, em letras e
fotografias, deixamos testemunhos. Os eventuais interessados nas histórias
imateriais dos antepassados possam-se encontrar documentos/textos que façam
compreender o modelo de vida colonial. Uma rica história, com cultura a margem
da mídia comercial, carente de apontamentos dos acontecimentos do quotidiano,
que retratam o trato com a terra, o manejo com animais, sabedoria acumulada no
tempo, relatos deixados pelos ancestrais... Procuramos, como historiadores e
moradores das colônias, deixar registros, no qual a tradição oral/imaterial ganha
registros da sua ímpar riqueza cultural.
Guido Lang
Livro "Histórias das Colônias"