Uma área, no lado duma empresa, cedo
conheceu uma inconveniência. Aquele incômodo, comum nas periferias urbanas, da
desova de lixo. Os moradores, na surdina, “tratavam de descarregar suas
porcarias”. Um punhadinho no começo, em questão de semanas, tornou-se um
amontoado/espalhado de imundícies. O proprietário, morador doutra cidade e num
eventual cuidado, fazia descaso da situação da desova.
Uma empresa, como vizinhança,
funcionava no lugar. O dono, diante do alheio, mantinha o desinteresse. A
despreocupação era comum com o criatório de aranhas, moscas, roedores... O
cheiro impróprio, nos dias de intenso calor, faziam-lhe indiferença no
ambiente. Um conhecido, no seu entender inconveniente, até cobrou-lhe alguma
providência (diante do descaso com o depósito clandestino). Ele, como
contribuinte, pensou no município dar um jeito nesse material. O
pagador de impostos, nada baixos, mantinha desobrigação com relação a realidade
imprópria.
Os dias quentes e secos achegaram-se no
sabor do verão. Outro domingo ensolarado e tranquilo sucedeu-se em meio a
sucessão de dias. A vontade familiar foi de “colocar os pés na estrada”. A
preocupação foi de curtir a convivência e desligar-se das obrigações de rotina.
Algum pedestre, neste ínterim, passou certamente pelo local do depósito. Este,
com aquele cheiro e visual inoportuno, atirou (na discrição)
algum pitoco de cigarro. Este, como camarada inconsequente, “foi-se
ao mundo”. A ação foi criando e espalhando fumaça negra. As labaredas, numa
hora, tomaram vulto e o lixo ia sendo consumido.
Algum amigo, ao dono da empresa, cedo
telefonou. Este relatou o fato e o perigo iminente. As ameaças eram veementes
do fogo alastrar-se na direção do prédio da empresa. O proprietário, de longa
distância, “adveio correndo a mil” para acompanhar o quadro. Os bombeiros foram
acionados e debruçaram-se para evitar maiores consequências. Um incêndio
generalizado poderia tomar vulto em função dum simples descaso. O lixo: todos
produzem-o e ninguém deseja tê-lo próximo. O susto e o temor foram grandes com
perdas maiores. A sorte ainda ajudou para evitar algum desastre maior.
Uns aprenderam a dura lição da
destinação própria. Os donos não podem permitir macegas próximo as redondezas
dos prédios. O patrimônio, angariado com tamanho suor e trabalho, poderia ter
ido pelos ares num piscar de olhos. Um simples relapso poderia ter causado
danos incontáveis. Qualquer morador, no lugar do seu habitat, é um dos
responsáveis pelo espaço. O ente público não dá conta de abraçar todas as
necessidades. Os terrenos desabitados, no contexto urbano, cedo
tornam-se um “problemão” (como criatórios e depósitos clandestinos).
As pessoas criam-se problemas onde
inúmeras vezes inexistem. Os lixos e plásticos, como problemática, acabarão suavizados
na proporção do emprego exclusivo de materiais biodegradável. Os cuidados dados
as imundícies, em quaisquer ambientes, retratam o real nível cultural dos
ocupantes do espaço. O cidadão, em qualquer ambiente e contexto, precisa fazer
sua parte (mesmo que os outros relegam sua porção). O ente público, diante das
muitas e variadas necessidades e obrigações, carece de poder atender a gama de
exigências.
Guido Lang
”Singelas Histórias
do Cotidiano Urbano”
Crédito da imagem: http://tribunadonorte.com.br