Um pacato colonial, trabalhador braçal da
agricultura familiar de subsistência, foi cultivar sua tradicional lavoura de
aipim. Ela, em função da pequena propriedade, localizou-se nos fundos do lote.
O local mantinha-se próximo a uma estrada de chão. O acesso, pela vila, situa-se
a meia dúzia de quilômetros.
O morador, criado nas colônias e filho de
agricultores, deu vazão aos conhecimentos e práticas agrícolas. Qualquer colono,
no mínimo como produtor, precisa colher os artigos básicos à subsistência.
Significa algum aipim, batata, frutas, hortaliças, milho, verduras... Produzir
igualmente alguma carne, leite e ovos. Uma maneira de diminuir custos/dispêndios
no mercado. Estes plantios exigem um cuidado especial. A título de exemplo: adubação,
capina, erosão, sementes... Os inços, voltas e meia, precisam ser combatidos.
Alguma capina manual faz-se necessária (caso contrário nem “adianta arriscar a
sorte”). Algumas espécies sensíveis não adiante querer insistir com herbicidas.
O rural, como complemento ao consumo, plantou
algum aipim a mais (para venda). Poderia, no mercado dum conhecido, trocar por
produtos de consumo. Investiu dinheiro e tempo na cultura, que cedo correspondeu
à dedicação e trabalho. Passou-se uns meses e as raízes tomaram forma. Um
cardápio com aipim novo, com acrescido de abóbora e feijão novo (somado a guisado
ou ovo frito), “dava água na boca”.
A surpresa adveio com a precoce colheita. Várias
dezenas de pés, alheio ao pedido do dono, viram-se arrancados e colhidos. O proprietário,
aos familiares e vizinhos, falou do inconveniente ocorrido. O pessoal, num
pré-combinado, passou a reparar a presença de alheios (nas redondezas da
plantação). A notícia, num entardecer de domingo, achegou-se aos ouvidos do
plantador. Havia a circulação de algum estranho. Alguém, com mochila nas
costas, havia sido visto entrando lavoura adentro.
O cidadão, como da práxis colonial, saiu com
ferramenta nas costas. Um desconhecido encontrava-se sentado no interior da
roça. Pediu a razão da incômoda presença do elemento naquele espaço. A surpresa,
de cair o queixo, adveio: havia mais outros dois. Um, de imediato, mostrou a
arma na cintura. O plantador, por pouco, não apanhou ou levou corridão na sua
própria lavoura e terra.
O colono, noutro dia, foi dar queixas na
delegacia. As autoridades pediram em trazer três testemunhas e pagar alguma
taxa. Admirou-se daquelas exigências e transtornos. Resolveu deixar por isso
mesmo. Ele, pensando alto, ainda disse: “- Alguns, numa hora dessas, acabarão
parando no hospital!”. Algum policial, ouvindo a fala, interrogou: “- Como
assim? Encontras a fazer ameaça de alguma desgraça maior?” O pacato colonial retrucou:
“- Vou plantar da mandioca brava/paraguaia como remédio aos larápios!” Estes,
na vila, eram velhos conhecidos e colegas de trabalho de amigos. O produtor, no
ano vindouro, deixou o brejo tomar conta do espaço. Outro produtor
desestimulado em função impunidade e ousadia alheia.
A
roubalheira, com o “tal em flagrante”, torna-se fator de inibição produtiva. O
país, neste ritmo, ostentará lá adianta carência de empreendedores e inovadores.
Quem se empenha e trabalha acaba penalizado com a extorsão (alheia e fiscal).
Leis brandas, com a sensação de impunidade, favorece a bandidagem.
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano das Colônias”
Crédito da imagem:http://www.iapar.br/modules/noticias/article.php?storyid=1355