Uma centenária
comunidade possuía problemas de frequência na sua assembleia anual. Esta, numa exclusiva
oportunidade, sucedia-se no centro comunitário. Os membros, nalgumas centenas, careciam
de comparecer. O evento da prestação de contas e acerto de resoluções pouca
atenção e interesse despertavam.
Os membros com aquelas
desculpas e indiferenças para fazerem-se presentes. Uns poucos nem queriam
ouvir falar do assunto (sob o temor de ganhar algum cargo na diretoria). Outros,
por tradição, ainda pertenciam como membros (em função da necessidade de bom
senso em estar associado nalguma entidade). As assembleias, a cada ano,
ajuntavam menos gente. Os participantes resumiam-se a menos de duas dezenas.
Estes, “gatos pingados”, costumeiramente ligaram-se a familiares de integrantes
das diretorias.
A resolução, numa
altura, consistiu numa mudança de rota. Ouviu-se conselho aqui e sugestão
acolá! Nada de maiores geniais ideias e de audaciosas inovações. Uns, a título
de exemplo, falaram em sorteio de brindes. Algum mais no convite pessoal por
famílias. Outro, como sugestão milagrosa, falou no oferecimento dum almoço
cortesia. A comunidade, no dia da assembleia geral, custearia os encargos da
refeição. Os beneficiados seriam todos os membros em dia com a tesouraria. Uma
gratificação por ter honrado os compromissos das mensalidades assim como fazer-se
presente ao encontro.
A receita, em forma
de decisão de assembleia, foi colocada em prática. Adveio a surpresa. Aquela
choça/morna reunião, de escassos membros, ganhou consideração, entusiasmo e frequência. Inúmeras famílias,
na totalidade dos integrantes, “afluíram como formigas em romaria”. Aquela data,
num domingo de manhã pré-determinado, ganhou importância e interesse especial.
As senhoras ganharam folga dos fogões na cozinha. Os maridos alívio momentâneo das
churrasqueiras. Famílias deixaram de gastar em quiosques e restaurantes. Algum
pão duro viu o momento próprio de diluir dispêndios com mensalidades...
O curioso e interessante
sucedia-se com a real prestação de contas. Muitos, das centenas de
participantes, pouco compreendiam ou interrogavam sobre os números expostos.
Outros deram a mínima as conversas e polêmicas comunitárias. Alguns, num claro
descaso, achegaram após a realização da assembleia. Todos, sem nenhuma exceção,
ganharam o mimo. A preocupação era não criar comentários e descontentamentos.
A entidade, com o
sucesso da empleitada, instituiu a experiência como norma. Aquela data, na
agenda, ganhava reserva à frequência. O interesse, de integrar/participar duma
diretoria/gestão, manteve-se naquele empurra-empurra e marasmo. Poucos, como
obrigação e vocação, unicamente fizeram a gentileza de abraçar a causa. Estes,
como doação de tempo e trabalho, deram sua contribuição.
O espírito humano
ostenta-se deveras interesseiro. Este, sem maior gratificação ou recompensa,
carece de interessar-se pela coisa comunitária.
Muitos aquela briga para pagar e outros anos sucessivos na inadimplência.
Alguns mais simplesmente evadiram da entidade em função de precisar “abrir a
mão”. O dinheiro havia para outras diversas necessidades, porém nada de maiores
dispêndios com entidades. As cobranças compulsórias ocorriam unicamente nos
encargos das coisas públicas. As autoridades, sob o signo duma legislação
criada pelas instâncias políticas, instituíram dispêndios e estes eram cobrados/embutidos
nos produtos e serviços.
O indivíduo interpreta o gênero humano a partir das
necessidades básicas. Os animais matam-se por comida e os homens trucidam-se por
dinheiro. Os cara de pau, no contexto das cortesias e mimos, chegam as raias dos
abusos e ridículos. Os encargos espantam os indivíduos na proporção dos
chamariscos aproximarem os homens.
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano da Vida”
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