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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Recanto dos pinheiros


     Compridas tiras de terra, das baixadas aos morros, estendem-se como lotes coloniais. Heranças sucessivas dividiram as propriedades iniciais, quando várias pecam pelo excesso de comprimento. Colonos criaram reservas ambientais nas encostas, quando uns poucos instituíram os “cantinhos dos pinheiros”.
     Eles, pensando na dimensão do legado familiar à descendência futura, cultivaram algumas dezenas de sementes do tradicional pinheiro (araucária). As árvores costumam levar umas boas décadas para salientar-se no contexto da vegetação nativa ou reflorestada, porém, nas dezenas de anos sucessivos criam um cenário de gigantes.
     Filhos e netos, depois de aproximadas três décadas de anos, podem degustar o legado dos avôs, quando muitos já descansam no repouso derradeiro. Outros, com a idade avançada, podem degustar o fruto da própria colheita, que assume um sabor excepcional.
     A terra colonial produz a bênção do fruto, quando, no sabor do inverno, abate-se o rigor do frio. A necessidade de achegar-se ao fogão mostra-se imprescindível enquanto familiares reúnem-se num “ambiente de piquenique invernal”. Algum pinhão acrescido do chimarrão, pipoca e rapadura, ostentam-se uma dádiva, quando dispensa dispêndios monetários. O espaço, no interim das encostas e pedras, encontra-se ali o pinhão, porque, num pensamento voltado ao futuro, não plantar alguns magníficos exemplares da magna espécie. O plantador faz transparecer sua grandiosidade de espírito e visão econômica-rural! Algumas clãs há decênios possuem exemplares e recantos, que a cada colheita relembram o trabalho dos autores da façanha.
     A nobreza mostra-se muito mais nos atos do que nas reais falas, porque externam a postura no tempo. Legados discretos perpassam gerações, quando produzem o bem para inúmeros viventes. Pensemos em criar e deixar o nosso recanto!

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”

William Shakespeare (1564-1616)

Epitáfio do poeta inglês



“Por Jesus, bom amigo, dá atenção! Declina de revolver o pó que este lugar confina. Abençoado seja quem poupa a fria lousa. Maldito aquele que meus ossos tocar ousa”.

Crédito da imagem: http://en.wikipedia.org/wiki/William_Shakespeare

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Os bailes familiares


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     As colônias teutonienses, nos primórdios da colonização (1868-1928), careciam de locais festivos, quando inexistiam os salões das vendas coloniais. Os colonos, num punhado de famílias, procuraram improvisar eventos que pudessem romper a monotonia rural. Os moradores, depois dos primeiros anos de derrubada do mato e progresso econômico, iniciaram a edificação de solares familiares, que atenderiam as necessidades de moradia de algumas gerações da descendência.
     As casas, no ato da inauguração, conheciam um evento animado, que era um baile comunitário. O acontecimento era uma forma de reunir o conjunto da população, porque uma sólida moradia edificava-se de forma esporádica pela existência. Os construtores, numa única oportunidade, poderiam mostrar a obra ao conjunto de visitantes, pois era tradição mostrar a casa recém-construída.
     A festa realizava-se no interior da sala, no que algum trio ou quarteto de músicos (colonos músicos) animava a celebração, estes com algum acordeom, flauta, violino, reco-reco... iniciavam a animação com o clarear da tarde e estendia-se até a meia noite.
     Os moradores, na quase sua totalidade, afluíam ao comentado e esperado baile, no qual somavam-se alguns forasteiros e parentes (distantes). Os moços e as moças ficavam isolados em cada lado do ambiente, quando os rapazes convidavam as meninas para dançar. As famílias cedo uniam-se em laços de parentesco, quando todas as clãs tradicionais, através de décadas, viram-se unidas no sangue. Os comes, como cuca e linguiça cozida, eram servidas na cozinha, enquanto a cerveja e a gasosa numa copa improvisada. Inexistia a preocupação de segurança e roubos, brigas e desentendimentos, no meio de conhecidos, dificilmente sucediam-se e eventuais conflitos eram apaziguados pelos amigos.
     A tradição dos bailes caseiros caiu no desuso com a edificação dos salões, quando os vendeiros, junto à casa de comércio, vislumbraram perspectivas de negócio. Eles, na carência de espaço recreativo, improvisaram um lugar, que servisse ao baralho, bailes e festinhas. Alguns comerciantes, numa data específica anual, mantinham uma tradição de baile que os colegas comerciantes e moradores sabiam e respeitavam mutuamente. A realidade destes deu origem à formação de conjuntos musicais, quando improvisou-se “bandinhas” (grupo de músicos).
     Os salões, nas décadas posteriores, deram origem aos centros comunitários, que ganharam fôlego pós-emancipação política da comuna. As festas familiares restritas aos parentes próximos ganhou a preferência, quando numa inauguração de uma nova residência, abandonou-se o baile. Os ocupantes temem o estrago; ostentam espaço restrito ao público e a carência de estrutura. Os bailes familiares, conforme a memória comunitária, ficaram somente nas reminiscências de um passado distante, que também tinha suas belezas e fascínios.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”

Crédito da imagem:  http://oportunityleiloes.auctionserver.net/images/lot/51905/0/lot51905.jpg

Os singelos invasores


     Espécies exóticas, introduzidas nos anos sucessivos de colonização, vem mudar um cenário milenar. Estas, de forma discreta, vão conquistando o espaço das encostas e morros quando as aves, de forma geral, tratam de levá-los aos cantos e recantos das localidades. Os forasteiros, com acirrado vigor de desenvolvimento, começam a tornar-se uma aparente praga na proporção de sufocar as espécies originais. Diversas espécies, nos resquícios da Floresta Subtropical Pluvial/Mata Atlântica, mostram-se sufocadas, quando conheceram “a astúcia dos importados”.
     Refiro-me, como espécies de árvores, ao ligustre/sempre-verde, uva-japonesa, eucalipto, aroeira brava, canela da Índia, cinâmomos... Os humanos, nalguma etapa da colonização, trouxeram as espécies como árvores ornamentais, quando inicialmente viram-se transplantadas costumeiramente nos pátios. A beleza e a qualidade da sombra foram razões iniciais no que, em anos e décadas, tomaram dimensões do domínio. Os pássaros, com o consumo das sementes, defecaram nos diversos espaços, quando, com o abandono das áreas íngremes como lavouras, assumiram a predominância. Sufocaram, em boa dose, espécies nativas, quando encontram-se inseridas/adaptadas como nativas.
     A qualidade da madeira, à combustão, ostenta-se um aspecto positivo, quando permite o corte diante da legislação ambiental protetora das nativas. O fato, em boa dose, leva a um empurrão do homem, que empurra-os para um quadrante maior. As principais espécies, com maior facilidade de difusão, relaciona-se ao ligustre/paulistana e uva-japonesa, que encravam-se em baixadas, cercas, córregos, matos... Estes, numa década, assumem a predominância de quaisquer espaços alcançados, enquanto as nativas incorrem no perigo do extermínio. O verde-escuro dos sempre-verdes e o verde-claro das uvas-japonesas, aos olhos atentos e conhecedores, salienta-as a boas distâncias quando mostram o seu predomínio nas encostas.
     A ação antrópica, das décadas de ocupação das localidades, começa a revelar a ação, quando, aos cenários coloniais, introduziu-se uma gama de espécies exóticas desejadas e indesejadas. Muitos moradores dão-nas como nativas em função da fácil adaptação quando, na prática, exterminam outras espécies locais. O registro fica como curiosidade histórica deste fato ímpar que veio redimensionar uma situação.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”

Um patrimônio cultural ímpar


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    Imensos cercados, como “lombrigas estendidas”, espraiam-se pelas baixadas, quando são uma lembrança do ciclo econômico de outrora. Refiro-me as cercas de pedra! Elas são a descrição de um trabalho insano dos primórdios da colonização (1868-1910), quando os moradores precisaram encontrar soluções próprias dentro dos recursos disponíveis das propriedades. As pedreiras, de pedra-grês, foram localizadas no interior dos matos e potreiros quando iniciou-se a extração da matéria-prima.
     As excepcionais pedras, como alisadas e quadradas, viam-se usadas na edificação dos alicerces dos galpões, cercas melhoradas dos pátios, peças de montagem das moradias... Cochos da água, como exemplo, viam-se esculpidos no interior de pedras assim como peças para ao rebolo e trapiches de cana. Mãos hábeis, com o manejo das pedras, viam-se conhecidos no contexto dos moradores, quando, no ínterim dos cuidados das criações e lavouras, esculpia-se e montava-se artefatos à propriedade. As necessidades, com a carência de recursos monetários e distâncias para o comércio, obrigavam pais de família serem artesões, carpinteiros, pedreiros... A contratação de eventuais especialistas davam-se das extremas necessidades e ausência de maiores conhecimentos na especialidade do serviço.
      Os produtores de aves, bovinos, equinos, suínos, precisaram de currais no qual pudessem dar liberdade à diversidade animal dentro de um limitado espaço com razão de não danificar plantações. A inexistência dos arames (farpados) e cercados (elétricos), nem em sonho, obrigava a edificação dos cercados de pedra. Estes, na parte frontal das propriedades, davam origem aos tradicionais potreiros, que cedo “assumiam uma aparência de mini-zoológico” em função da abundância e diversidade animal. A fartura era sinônimo de capricho e riqueza no qual mostrava-se o “espelho do conhecimento agrícola e criatório”. Pedras e mais pedras, dos variados tamanhos em peças, viam-se arrastados e carregados para edificar quilômetros de cercas. Um trabalho silencioso, porém em temporadas via-se concretizado, que, de forma definitiva, resolviam uma necessidade (cercamento). Os consertos contínuos de manutenção viam-se efetuados na proporção da danificação de partes.
     As cercas de pedra, na atualidade, mantêm-se testemunhas de uma época de outrora quando a maioria dos nomes dos reais construtores jazem nas cinzas e no esquecimento da memória comunitária. Os encaixes e a montagem, num olhar atento, retratam o esforço de mãos calejadas e habilidosas, que, em diversas localidades e propriedades, desafia o desleixo e o tempo na conservação. Um patrimônio cultural dos ancestrais carente de maiores estudos e registros, quando ainda revelam-se desprezados por inúmeros descendentes.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”

Crédito da imagem: http://4.bp.blogspot.com/_WFH8F7S07gk/TNWuCVoHpiI/AAAAAAAAMKQ/KcX7HLM1dm8/s1600/Cerca+de+pedra.jpg

Os flagelos familiares


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    Uma sina desnorteadora, ao longo das décadas de colonização, abate-se sobre as famílias teuto-brasileiras. Um assunto evitado nas conversas informais, porém comentado as “quatro paredes” no contexto dos vitimados. Pouquíssimas clãs, ao longo da história, desconheceram a desgraça, que abateu-se de forma imprevista e repentina sem deixar maiores avisos e recados. Refiro-me aos suicídios por enforcamentos, que foram muitos em todas as localidades e paragens da descendência teuta.
     Diversas são as abordagens quando fala-se da obsessão dos suicidas pela ideia. Estes, a um bom tempo, vislumbram os lugares próprios do ato, assim como providenciam o material. Costumam processar o ato dentro da casa, pátio ou mato próximo quando familiares dão algum “cochilo” (descuido). Fica daí a pergunta crucial: por quê? Imagina-se respostas como aborrecimentos, depressão, excessos de trabalho, problemas de saúde... Os suicidas adquirem uma monotonia da existência, quando simplesmente preferem “retornar aos lugares de origem da natureza”. Alguns sentem-se chamados por algum ancestral ou pessoa muito próxima das relações em vida. Idosos, depois de uma vida de intenso trabalho como filosofia de vida, sentem a invalidez, no que rejeitam de forma categórica, a inutilidade. Alegam não conseguir passar o tempo e a morte é o epílogo final de uma sina. Daí cada cabeça uma sentença.
     O ato comum consiste no enforcamento! Qualquer metro de corda pode concretizar o ato derradeiro. Há coisa sucede-se com famílias de histórico de suicidas, quando membros tomam o idêntico caminho. Criou-se, pela memória oral, uma lenda com relação às ocorrências. Versa o título: “-Três dias de vento norte interruptos algum alemão louco enforca-se pelas colônias”. O histórico, ao longo dos diversos vales de instalação maior do elemento teuto, confirmam a sina. A indisposição, como dores de cabeça, insônias, problemas de consciência, saúde abaladas, reforçam a pré-disposição. O curioso, no final dos fatos, das pessoas darem-se o idêntico destino aos animais, quando estes, numa propriedade colonial, sofrerem acidentes ou doenças incuráveis, o sacrifício do dono!
     Queira Deus! Que outros flagelos sejam redimensionados, porém qualquer descendente, conhecendo a mentalidade do modo de vida germânico, sabe da atitude radical. Cabe-nos querer entender para evitar o pior e reorientar as novas gerações para uma postura diversa.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”

Crédito da imagem: http://novotempo.com/lugardepaz/files/2010/11/forca5.jpg