Imensos cercados, como “lombrigas
estendidas”, espraiam-se pelas baixadas, quando são uma lembrança do ciclo
econômico de outrora. Refiro-me as cercas de pedra! Elas são a descrição de um
trabalho insano dos primórdios da colonização (1868-1910), quando os moradores
precisaram encontrar soluções próprias dentro dos recursos disponíveis das
propriedades. As pedreiras, de pedra-grês, foram localizadas no interior dos matos
e potreiros quando iniciou-se a extração da matéria-prima.
As excepcionais pedras, como
alisadas e quadradas, viam-se usadas na edificação dos alicerces dos galpões,
cercas melhoradas dos pátios, peças de montagem das moradias... Cochos da água,
como exemplo, viam-se esculpidos no interior de pedras assim como peças para ao
rebolo e trapiches de cana. Mãos hábeis, com o manejo das pedras, viam-se
conhecidos no contexto dos moradores, quando, no ínterim dos cuidados das
criações e lavouras, esculpia-se e montava-se artefatos à propriedade. As
necessidades, com a carência de recursos monetários e distâncias para o
comércio, obrigavam pais de família serem artesões, carpinteiros, pedreiros...
A contratação de eventuais especialistas davam-se das extremas necessidades e
ausência de maiores conhecimentos na especialidade do serviço.
Os produtores de aves, bovinos,
equinos, suínos, precisaram de currais no qual pudessem dar liberdade à
diversidade animal dentro de um limitado espaço com razão de não danificar
plantações. A inexistência dos arames (farpados) e cercados (elétricos), nem em
sonho, obrigava a edificação dos cercados de pedra. Estes, na parte frontal das
propriedades, davam origem aos tradicionais potreiros, que cedo “assumiam uma
aparência de mini-zoológico” em função da abundância e diversidade animal. A
fartura era sinônimo de capricho e riqueza no qual mostrava-se o “espelho do
conhecimento agrícola e criatório”. Pedras e mais pedras, dos variados tamanhos
em peças, viam-se arrastados e carregados para edificar quilômetros de cercas.
Um trabalho silencioso, porém em temporadas via-se concretizado, que, de forma
definitiva, resolviam uma necessidade (cercamento). Os consertos contínuos de
manutenção viam-se efetuados na proporção da danificação de partes.
As
cercas de pedra, na atualidade, mantêm-se testemunhas de uma época de outrora
quando a maioria dos nomes dos reais construtores jazem nas cinzas e no
esquecimento da memória comunitária. Os encaixes e a montagem, num olhar
atento, retratam o esforço de mãos calejadas e habilidosas, que, em diversas
localidades e propriedades, desafia o desleixo e o tempo na conservação. Um
patrimônio cultural dos ancestrais carente de maiores estudos e registros,
quando ainda revelam-se desprezados por inúmeros descendentes.
Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
Crédito da imagem: http://4.bp.blogspot.com/_WFH8F7S07gk/TNWuCVoHpiI/AAAAAAAAMKQ/KcX7HLM1dm8/s1600/Cerca+de+pedra.jpg
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