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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O sábio e o escorpião


         Um mestre e seus discípulos iam por uma estrada e, quando passavam por uma ponte, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas. O mestre correu pela margem do rio, meteu-se na água e tomou o bichinho na mão.
Quando o trazia para fora, o bichinho o picou e, devido à dor, o mestre deixou-o cair novamente no rio. Foi então, à margem tomou um ramo de árvore, adiantou-se outra vez a correr pela margem, entrou no rio, colheu o escorpião e o salvou. Voltou o mestre e juntou-se aos discípulos na estrada.
Eles haviam assistido à cena e o receberam perplexos e penalizados.
- Mestre, deve estar doendo muito! Porque foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda! Picou a mão que o salvara! Não merecia sua compaixão!
O mestre ouviu tranquilamente os comentários e respondeu:
- Ele agiu conforme sua natureza, e eu de acordo com a minha.
Cada pessoa tem o seu jeito. Não tente mudá-la.

Autor desconhecido

         Obs.: Se algum leitor souber o nome do autor do texto, favor informar ao autor do blog, para que os devidos créditos possam ser concedidos a esta pessoa.


Crédito da imagem: http://www.benettonpragas.com.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=60&Itemid=91


O exemplo das formigas


      O calor de verão, a semelhança dum clima desértico (quente), abate-se de forma dolorosa! Os seres, de maneira geral, procuram sombras. As pessoas, nestes instantes, conhecem a importância das árvores. Elas, em meio à inclemência (solar), oferecem um ambiente ameno/umedecido. Uma diferença acentuada comparada “as fervuras das selvas de pedra” (cidades - onde os aparelhos de refrigeração não vencem de criar ambientes climatizados). O calor mostra-se impregnado nos materiais (asfalto e concreto). Os humanos, nas suas construções de alvenaria/impróprias, disputam/procuram lugares frescos (para safar-se do inóspito).
As formigas, de maneira geral, ensinam um nobre exemplo. Algumas variedades, na proporção do ambiente impróprio, refugiam-se no interior da terra. O calor aumenta e elas afundam-se mais alguns centímetros (solo adentro). Outras, diante da adversidade, labutam somente nos horários mais propícios. Estes ocorrem nas primeiras horas das manhãs e noites. Procuram, nos horários quentes, ocupar-se “com os expedientes internos dos ninhos”. Encargos, para manter a sobrevivência da comunidade, não devem faltar. Afinal, quem habita bilhões (de anos neste planeta) deve ter assimilado lições básicas.
Um comportamento assemelhado ocorre com certos colonos. Estes, com sua brancura, possuem sérios problemas de pele. O câncer (de pele), ao longo da história, tem sido um flagelo de muitos. Inúmeras famílias perderam ancestrais (na proporção da excessiva exposição solar). Manchas, nos tecidos, são outra realidade corriqueira. A tez branca cedo ostenta estas inconveniências. A solução, como sabedoria de vida, consiste nos cuidados com a exposição. Crianças, nas colônias, cedo são orientadas: “Sair do sol!”, “Abrigar-se da inclemência!”, “Evitar horários de calor!”... Histórias de imprudência não faltam nos relatos. Os protetores solares, na onda da modernidade, não dão conta dessa inclemência solar. A carência de água, a cada verão, parece acentuar o calor e aumentar sofrimentos. Sabe-se, pela experiência, do astro rei acabar com quaisquer artefatos (na proporção da massiva exposição). Os humanos, com eventuais abusos, não fogem a regra.
Inúmeros coloniais, além de usarem roupas compridas e chapéus largos para safarem-se dos raios, valem-se de outro ensinamento. Estes imitam a sabedoria das formigas. Os rurais, na calada da manhã, procuram atender as exigências do trabalho. Algo idêntico ocorre no cair das tardes. Aproveita-se os momentos mais frescos do dia para produção externa. Os horários impróprios, das onze às quinze horas, refugiam-se no interior das construções. Aproveita-se o espaço de tempo às tarefas internas (caseiras), convivência familiar, almoço, sesteada, negócios (na cidade)... Evita-se a exposição e poupa-se dos transtornos na velhice. Os maquinários modernos, com ar condicionado e teto, vem redimensionando, em parte, os hábitos. Algum ambiente fresco costuma ser comum nalgum canto ou recanto da casa e pátio. O porão, nesta época, assume ares de divino (ostenta-se continuamente fresco).
Certos ensinamentos perpassam as espécies. Quem cuida da saúde na mocidade, menos “remendo” costuma fazer na velhice. Os espertos tratam de aprender com quem revela-se especialista/profissional. A exposição excessiva, a inclemência solar, deixam as pessoas com aparência de velhos.

Guido Lang
Livro “História das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://gentebacana.wordpress.com/category/posse-responsavel/

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A tábua


Quando menino eu era traquinas, rabugento, respondia a tudo que me dissessem e não contribuía absolutamente para que nossa casa fosse um paraíso. Muito pelo contrário!
Meus pais me aconselhavam com paciência infinita e com muito amor sem que eu, entretanto, seguisse os seus conselhos.
Um dia papai me chamou para conversarmos. Eu tinha feito diabruras de toda espécie e pensei que ele tinha perdido a paciência e ia, ou dar-me uma surra, ou um castigo e uma repreensão.
Ele, todavia, não fez nada disso. Não parecia aborrecido e simplesmente me disse.
- Filho, eu percebo que você não tem ideia do que é a sua conduta. Mas pensei em algo que poderá lhe mostrar isso muito bem. É uma brincadeira. Mas poderá lhe ajudar muito. Venha comigo.
Levou-me à sua improvisada oficina de trabalho. Lá dentro falou-me:
Veja, tenho aqui uma tábua nova, lisa e bonita. Todas as vezes que você desobedecer ou tiver uma ação indevida, espetarei um prego nela.
Pobre tábua! Em breve estava crivada de pregos! Mas, a cada vez que eu ouvia meu pai batendo o martelo, sentia um aperto por dentro. Não era a perda só daquela tábua tão bonita, aquilo era, também, uma humilhação que eu mesmo me infringia.
Até que um dia, quando já havia pouco espaço para outros pregos, eu me compadeci da tábua e desejei, de todo o coração, vê-la nova, bonita e polida como era. Fui correndo fazer essa confissão a meu pai e ele, fingindo ter pensado um pouco, me disse:
- Podemos tentar uma coisa. De cada vez que você se portar bem, em qualquer situação, eu arranco um prego. Vamos experimentar.
Os pregos foram, desaparecendo até, no fim de certo tempo, não havia nenhum! Mas não fiquei contente. É que reparei que a tábua, embora não tivesse prego, guardava as marcas deles.
Discuti isso com meu pai que me respondeu:
- É verdade, meu filho, os pregos desapareceram, porém as marcas nunca poderão ser apagadas. Acontece o mesmo com o nosso coração. Cada má ação que praticamos deixa nele uma feia marca. E mesmo que deixarmos de cometer a falta, a marca fica lá: é a culpa.
Nunca mais me esqueci daqueles pregos e da tábua lisa e polida, cuja beleza foi inapelavelmente destruída. E passei a tomar cuidado para que a sensação da culpa não marcasse daquela forma o meu coração. Essa experiência me fez pensar muito e estou certo de que, uma vida digna e bem vivida poderá levar um coração, até o fim, a se manter livre de qualquer prego e das marcas consequentes.

Autoria desconhecida

Obs.: Se algum leitor souber o nome do autor do texto, favor informar ao autor do blog, para que os devidos créditos possam ser concedidos a esta pessoa.

Crédito da imagem: http://jblog.jb.com.br/entreamigos/2011/08/14/disse-te-amo-hoje-pai/pai-e-filho/


Latinha


    O ciclo do calçados, entre 1960 a 1990, avolumou fábricas e negócios. Os empreendimentos, nos vales do Caí, Sinos, Paranhana e Taquari (berços da Colonização Alemã no Rio Grande do Sul/Brasil), espalharam-se nos cantos e recantos dos lugarejos. Inúmeras localidades, a partir de alguma calçados ou curtume, lançaram os esteios da modernização e urbanização. As emancipações, com a formação de distritos, tornaram-se fatos corriqueiros.
Milhares de assalariados, entre filhos de colonos e migrantes – “plantados semanas inteiras nas linhas de produção”, ganharam o aprendizado e o sustento. Barões do calçado, em restritas famílias, formaram-se entre a descendência germânica. Modestos colonos, nalgum momento, enveredaram pelo couro e calçados. Estes, a partir de instalações de fundo de quintal, foram constituindo impérios. Singelos prédios, em poucos anos, tornaram-se monumentais construções. Estradas esburacadas ganharam contornos de modernas rodovias. Migrantes, aos milhares, invadiram os cenários das outroras pacatas colônias...
O curioso relaciona-se aos anunciantes. Veículos, com alto-falantes (entre os anos de 1970 a 1990) clamavam por trabalhadores. Uns, na manhã, paravam nalguma empresa; começaram, à tarde, noutra. Inúmeras placas, com anúncios das especialidades necessárias, haviam afixadas, as dezenas, em frente às fábricas. Estas, a título de exemplo, procuravam cortadores, chanfradeiras, lixadores, revisoras... Vilas, da noite para o dia, pipocaram nas periferias. Elas precisaram abrigar as levas de forasteiros. Inúmeros, trazidos das colônias distantes, para produzir calçados. As encomendas/pedidos, de lojistas nacionais e internacionais, pareciam não dar conta das quantidades (as fábricas). Os famosos cerões/horas extras eram comuns com vistas de atender pedidos. O ciclo parecia eternizar-se no tempo e a decadência algo impensável (no frescor da febre). O dinheiro, em dólares, advinha fácil e graúdo...
A concorrência asiática, sobretudo chinesa, suplantou a época “das vacas gordas”. Outros fatores, como ganância fiscal e legislação trabalhista, a partir de 1988, trouxeram a gradual migração e fechamento de fábricas. Algumas empresas, dos ramos coureiro-calçadistas, fugiram (na direção do Nordeste/BR, América Central e Ásia). Elas, de forma oficial ou “na surdina”, carregavam chefias e máquinas; procuraram ambientes mais promissores aos negócios. As choradeiras e lamúrias tomaram conta de cenários. Inúmeros empreendimentos, as centenas, foram a falência. Prédios monumentais tomaram-se caricaturas/sombras do passado glorioso. Espaços, das outroras esteiras, ganharam novas funções sociais (negócios nas áreas de serviços). Inúmeros barões migraram de atividade ou “penduraram as chuteiras” (queriam auferir os dividendos dos sacrifícios). Poucas empresas, audaciosas e inovadoras, sobreviveram a hecatombe. Casas coloniais, com o “poder das verdinhas”, tinham adquirido ares de mansões. Fazendas e veículos, com o enriquecimento de poucos, foram adquiridos as centenas e restritos foram os reinvestimentos na diversificação produtiva.
Criou-se a “Lenda do Latinha”! Havia calçados tal! Empresa conceituada qual! Mantinha-se o quadro de funcionários/trabalhadores tais! Outros mais: “Cheguei a labutar nesta empresa”. “Os donos eram a família tal”. “Fulano e beltrano, num fundo de quintal, haviam iniciado a empresa” (calçados ou curtume)... A magnitude, para quem vivenciou os fatos, assemelha-se a lorota (na proporção das narrações). Onde ficaram todos esses empreendimentos? Os sucessores não souberam administrar e continuar? Pessoas “forravam o poncho e caíram fora?” Empresas migraram de contextos urbanos (na direção das periferias onde encontram mão de obra mais barata)... O latinha ficou unicamente na memória dos mais velhos e nos registros efetuados nas publicações (jornais e revistas) da época.
          Ciclos econômicos ostentam-se uma rotina nos meios produtivos. O dinheiro fácil proporciona a noção de euforia. Cada momento com suas adversidades e oportunidades. Os calçados/couros, até o momento, foi o período áureo na história da imigração alemã (em paragens da América Meridional).

Guido Lang
Livro "Singelas Histórias de Vida”

  Crédito da imagem: http://www.paraibatotal.com.br/noticias/2012/11/23/65128-setor-coureiro-calcadista-paraibano-promove-forum-estrategico-para-planejar-2013 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O milionário



Um homem que estava desempregado, entra num concurso da Microsoft para ser técnico de limpeza.
O Gerente de Recursos Humanos entrevista-o, faz um teste (varrer o chão) e lhe diz:
- O serviço é seu; dê-me o seu e-mail e eu lhe enviarei a ficha para preencher, a data e hora a que deverá se apresentar para o serviço.
O homem, desesperado, responde que não tem computador, e muito menos, e-mail.
O Gerente de RH, disse que lamenta, mas se não tiver e-mail, quer dizer que virtualmente não existe, e, como não existe, não pode ter o trabalho.
O homem sai, desesperado, sem saber o que fazer; somente tem US$ 10 no bolso.
Então decide ir ao supermercado e comprar uma caixa de 10 quilos de tomates.
Bate de porta em porta vendendo os tomates a quilo, e, em menos de duas horas, tinha conseguido duplicar o capital. Repete a operação mais três vezes e volta a casa com US$ 60.
Então, ele verifica que pode sobreviver dessa maneira, sai de casa cada dia mais cedo e volta a casa mais tarde, e assim triplica ou quadruplica o dinheiro a cada dia.
Pouco tempo depois, compra uma Kombi, depois troca por um caminhão e pouco tempo depois chega a ter uma pequena frota de veículos para distribuição.
Passados alguns anos, o homem é dono de uma das maiores distribuidoras de alimentos dos Estados Unidos.
Pensando no futuro da sua família, decide tirar um seguro de vida.
Chama um corretor, acerta um plano e quando a conversa acaba, o corretor lhe pede o e-mail para enviar a proposta. O homem diz que não tem e-mail.
Curioso, o corretor lhe diz: você não tem e-mail e chegou a construir este império, imagine o que você seria se tivesse e-mail!
O homem pensa e responde:
- Seria um homem de limpeza da Microsoft!!
As oportunidades estão a nossa volta, devemos ter olhos para enxergá-las.

Autor desconhecido

Obs.: Se algum leitor souber o nome do autor do texto, favor informar ao autor do blog, para que os devidos créditos possam ser concedidos a esta pessoa.

Crédito da imagem: http://harmonianatureza.com.br/definicao-de-sucesso/

Um modesto mimo



       A tradição oral, na memória da descendência, mantém viva alguns acontecimentos e fatos dos primórdios da colonização. Os colonos, na região da Colônia Teutônia (1958–1908), foram “jogados literalmente no mato”. A solução, para sobreviver, foi adaptar-se ao meio adverso e encontrar paliativos aos dilemas da sobrevivência.
A história relata uma modesta gentileza. Uma esposa/mãe/senhora, com alguma “penca de filhos”, acompanhou o marido (a ocupar o lote no interior da Floresta Pluvial Subtropical/Mata Atlântica). A vegetação indomada, sem clareira/descampado, precisou literalmente ser devassada (com vistas de iniciar/possibilitar o plantio das culturas anuais). O milho, mandioca, feijão, abóbora, desenvolviam-se deveras neste solo (com a milenar camada de húmus). Os inços praticamente mantiveram-se inexistentes e as derrubadas (com as subsequentes coivaras/queimadas) avançavam na proporção das necessidades de terras às lavouras.
A família, com ovos, milho (farinha e o verde), hortaliças, feijões, carnes e aipim, mantinha o cardápio básico. A senhora, no mínimo de quatro a cinco oportunidades (semanais), cosia fornadas de pão. Um excepcional artigo/pão de milho, junto a algum charque, abafava a fome nos momentos mais cruciais/extremos. Os cafés e as jantas, em boa dose, mantinham o artigo básico. Este, com crianças em pleno desenvolvimento e trabalho braçal, ostentavam excepcional fome. Alguma fatia de pão, na metade da tarde, revigorava o ânimo e energia (para continuar até o desfecho do dia).
Um procedimento, como virtude, chamou atenção nessa singela mãe/senhora. Ela tratava de fazer algum pão a mais. Este, numa situação ímpar, acabava colocado numa beirada de mato. Ele, na calada do dia, sumia do lugar. Alguém tratava de apanhá-lo como dádiva. Uma artimanha/estratagema de aproximação entre forasteiros e nativos. Alguns aborígenes tratavam de apanhá-lo. Sucedeu-se, num belo dia, haver alguma troca (em caça e plantas medicinais no lugar). Uma maneira de retribuição das rotineiras cortesias. A doação era um meio de evitar maiores surpresas (em assaltos e ataques). O intercâmbio revelou os primórdios do estabelecimento de algum tipo de escambo e relações culturais (entre europeus e naturais).
Os bugres, alcunha dos kaigangues e tupi-guaranis/habitantes das plagas do Vale do Taquari, jamais trataram de atacar ou surrupiar na dita família. O convite, das boas relações, fez os devidos efeitos. Criações e plantações puderam desenvolver-se de forma imune no cenário colonial das florestas. O tempo foi aproximando os povos e acabou-se com a desconfiança e guerra (em função da invasão do espaço alheio).
Singelos atos e gestos provocam maravilhas nos relacionamentos humanos. Por que guerrear na proporção de haver espaço para todos? O espírito cristão precisa prevalecer nas ações. Quem tem bom coração, dá com alegria e satisfação.   

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://revistaescola.abril.com.br/geografia/fundamentos/onde-podemos-encontrar-mata-atlantica-como-preserva-la-473054.shtml

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

As dificuldades


       Uma certa família, por décadas, viveu no interior e defrontou-se com as dificuldades econômicas.  “O dinheiro vivia contado aos centavos” e, em diversas oportunidades, deixara de atender as necessidades dos filhos. Eles precisaram de certos materiais escolares e roupas, porém nada: carestia completa. Podia-se dizer: “- A família não passava fome, todavia pouco faltou para tanto”. A sobrevivência consistiu em comercializar algum leite (tarefa da mulher); o homem ocupar-se com tarefas alheias (diarista). Terra arrendada e nada de maiores investimentos (para desenvolver uma propriedade de subsistência familiar).
Os anos transcorreram; filhos cresceram; a migração campo-cidade uma realidade... Adveio a aposentadoria e a idade. Os ganhos fixos (dos benefícios), de cada final de mês, possibilitaram o bom gerenciamento das finanças. A família, agora marido e mulher, puderam vivenciar uma subsistência familiar calma e despreocupada. Os rebentos, estudados e empregados, ajudaram com dinheiro e mimos, alegraram com netos e visitas... O casal podia dizer: “- Eles não eram nem pobres e nem ricos; poderiam comprar do bom e melhor para comer (nos cardápios); descansar conforme as conveniências; fazer os passeios desejados...”
O casal, nestas idas e vindas, fez um comparativo de anos. Queria saber da felicidade do outrora ou momentânea. O tempo instantâneo, com o advento da idade, significava o consumo diário de uma gama de remédios. A vida sedentária e a velhice tinham criado sérios problemas de saúde. O consumo desenvolveu a diabete e a obesidade. Cuidados e caminhadas diárias faziam-se necessários. O comparativo revelou uma dura realidade: “- A felicidade, apesar das inúmeras dificuldades e privações, mostrava-se maior nas colônias. A idade e o sedentarismo criaram problemas de saúde e consumo de remédios”.
A experiência refez a velha sabedoria: “- O indivíduo, estando com saúde, abraça qualquer causa; judia-se, no primor da existência, com razão de querer remendar na velhice”. As famílias, no tempo, acabam como começaram: marido e mulher. Os filhos seguem sua sina. Os pais ficam vivendo o prazer da vidinha de cada dia. Algum perece e daí o outro fica “nos aparentes favores de algum filho” (na proporção de não refazer sua parceria).
Comparativos nunca são demais numa existência. Viver o prazer de cada momento e dia com razão de degustar essa passagem ímpar. Os problemas próprios, comparado aos alheios, de maneira geral são probleminhas. Agradecer piedosamente, por ainda estarmos aí, na proporção de tantos estarem na ausência. A saúde mostra-se uma excepcional dádiva e a maior sabedoria consiste em cuidar dela.

Guido Lang
Livro: “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://imoveis.culturamix.com/dicas/paisagem-rural