A tradição oral, na
memória da descendência, mantém viva alguns acontecimentos e fatos dos
primórdios da colonização. Os colonos, na região da Colônia Teutônia (1958–1908),
foram “jogados literalmente no mato”. A solução, para sobreviver, foi
adaptar-se ao meio adverso e encontrar paliativos aos dilemas da sobrevivência.
A história relata uma
modesta gentileza. Uma esposa/mãe/senhora, com alguma “penca de filhos”,
acompanhou o marido (a ocupar o lote no interior da Floresta Pluvial
Subtropical/Mata Atlântica). A vegetação indomada, sem clareira/descampado,
precisou literalmente ser devassada (com vistas de iniciar/possibilitar o
plantio das culturas anuais). O milho, mandioca, feijão, abóbora,
desenvolviam-se deveras neste solo (com a milenar camada de húmus). Os inços
praticamente mantiveram-se inexistentes e as derrubadas (com as subsequentes coivaras/queimadas)
avançavam na proporção das necessidades de terras às lavouras.
A família, com ovos, milho
(farinha e o verde), hortaliças, feijões, carnes e aipim, mantinha o cardápio
básico. A senhora, no mínimo de quatro a cinco oportunidades (semanais), cosia
fornadas de pão. Um excepcional artigo/pão de milho, junto a algum charque,
abafava a fome nos momentos mais cruciais/extremos. Os cafés e as jantas, em
boa dose, mantinham o artigo básico. Este, com crianças em pleno
desenvolvimento e trabalho braçal, ostentavam excepcional fome. Alguma fatia de
pão, na metade da tarde, revigorava o ânimo e energia (para continuar até o desfecho
do dia).
Um procedimento, como
virtude, chamou atenção nessa singela mãe/senhora. Ela tratava de fazer algum
pão a mais. Este, numa situação ímpar, acabava colocado numa beirada de mato.
Ele, na calada do dia, sumia do lugar. Alguém tratava de apanhá-lo como dádiva.
Uma artimanha/estratagema de aproximação entre forasteiros e nativos. Alguns aborígenes
tratavam de apanhá-lo. Sucedeu-se, num belo dia, haver alguma troca (em caça e
plantas medicinais no lugar). Uma maneira de retribuição das rotineiras
cortesias. A doação era um meio de evitar maiores surpresas (em assaltos e
ataques). O intercâmbio revelou os primórdios do estabelecimento de algum tipo
de escambo e relações culturais (entre europeus e naturais).
Os bugres, alcunha
dos kaigangues e tupi-guaranis/habitantes das plagas do Vale do Taquari, jamais
trataram de atacar ou surrupiar na dita família. O convite, das boas relações,
fez os devidos efeitos. Criações e plantações puderam desenvolver-se de forma
imune no cenário colonial das florestas. O tempo foi aproximando os povos e
acabou-se com a desconfiança e guerra (em função da invasão do espaço alheio).
Singelos atos e gestos provocam maravilhas nos
relacionamentos humanos. Por que guerrear na proporção de haver espaço para
todos? O espírito cristão precisa prevalecer nas ações. Quem tem bom coração,
dá com alegria e satisfação.
Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)
Crédito da imagem: http://revistaescola.abril.com.br/geografia/fundamentos/onde-podemos-encontrar-mata-atlantica-como-preserva-la-473054.shtml
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