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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

À Descoberta do Amor


Ensaia um sorriso
e oferece-o a quem não teve nenhum.
Agarra um raio de sol
e desprende-o onde houver noite.
Descobre uma nascente
e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima
e pousa-a em quem nunca chorou.
Ganha coragem
e dá-a a quem não sabe lutar.
Inventa a vida
e conta-a a quem nada compreende.
Enche-te de esperança
e vive á sua luz.
Enriquece-te de bondade
e oferece-a a quem não sabe dar.
Vive com amor
e fá-lo conhecer ao Mundo.

Mahatma Gandhi (1869-1948)

Crédito da imagem: http://guiaavare.com/noticia/3765/rosas-imagens

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O Pastorado de Ferdinand Häuser


A Colônia Teutônia teve pastores, que marcaram época na história regional. Destacaram-se pela liderança e influência no meio colonial. Constituíam-se em consultas obrigatórias na proporção de haver problemas familiares e desavenças comunitárias. Cita-se, ao lado de Johann Friedrich Wilhelm Kleingüther, Gustav Adolf von Grafen, Heinrich Beckmann e Wilhelm Hasenack, a figura de Ferdinand Häuser.
Häuser era natural de Herborn/Nassau/Prússia, casou-se com Auguste Nasblech (natural de Bermen/Reno); teve, em Teutônia, os filhos: Lydia (nascida em 21.06.1877), Carl Peter Immanuel (nascido em 01.03.1879), Finalheus (nascido em 18.08.1880), Julius Wille Carl (nascido em 10.06.1882) e Frida Johanna (nascida em 19.05.1884).
A atuação pastoral ostentou-se vasta. Ele, em 08.05.1873, foi destacado pelo pré-sínodo para atuar na Colônia Teutônia. Iniciou, em 11.05.1873, o pastorado em Teutônia.  Batizou, no seu primeiro culto, Heinrich Phillipp Carl Sommer (nascido em 08.01.1873 como filho do colono Ernst Heinrich Wilhelm Sommer e Maria Frederika Elisabetha Hachmann – naturais de Lengerich/Westfália).
Efetuou, conforme Livro de Batismos e Casamentos da Comunidade Evangélica Paz de Teutônia, um total de 2522 batizados e 378 casamentos, que estendiam-se pela região do Vale do Taquari.  Atuou, entre outras principiantes comunidades, em Conventos Vermelho (atual Roca Sales), Santa Clara, Forqueta, Santa Emília, Nova Berlim, Azevedo Castro, São Caetano, Colônia Conde D’Eu, Santo Amaro, Arroio da Seca, Brochier, Maratá, Costa da Serra, Ano Bom, Estrela e Teutônia. Possuía, conforme estatística de Klaus Becker em “A fundação e os primeiros 30 anos de Teutônia”, um total, em 1888, de 285 famílias e aproximados 1900 almas (membros em suas comunidades).
O mérito do pastorado está no fato de ser, como sucessor de Johann Wilhelm Kleingüther, o primeiro pastor formado (instalado na Colônia Teutônia). Atribui-se a ele a fundação, em 01.05.1873, da Comunidade Evangélica de Estrela (atendeu-a até o ano de 1888). Realizou inicialmente os ofícios religiosos em casas de família e escolas comunitárias. O templo da Comunidade Evangélica Paz (Teutônia), em 08.04.1888, foi concluído. Lançou-se a pedra fundamental em 1885.
        Häuser, conforme Carlos Hunsche no livro “Pastor Heinrich Wilhelm Hunsche e os Começos da Igreja Evangélica no Sul do Brasil” – pág. 189 -190, foi, em 19 e 20 de maio de 1886, um dos fundadores. Este, junto com o idealizador Pastor Wilhelm Rotermund (1843-1925), do 2° Sínodo Rio-grandense (na reunião sinodal ou pré-sínodo). Ele, juntamente com o presbítero N. Hünther, teriam representado a Comunidade Evangélica Paz. Ela, com as comunidades evangélicas de Santa Maria da Boca do Monte, Santa Cruz, São Sebastião do Caí, Mundo Novo (atual Taquara) e São Leopoldo, foi uma das fundadoras, em São Leopoldo, do novo Sínodo Rio-grandense. Esta entidade reuniria as comunidades de confissão evangélica luterana.
Ferdinand adoeceu e em 01.06.1890, foi sucedido pelo pastor Wilhelm Hasenack. Realizou, em 22.02.1890, sua última atividade pastoral na Costa da Serra/Taquari (matrimônio de Miguel Nunes da Silva e Clorinda Benta da Silva). Retornou à Alemanha (desconhece-se outras informações sobre sua trajetória pastoral na Europa).
Häuser deixou semeadas as “Palavras do Senhor”. Elas encontraram campo fértil e levaram a formação de várias comunidades. Reuniu, junto com Rotermund, forças para criar o Sínodo Rio-grandense, que, com a fusão de outros três sínodos, levou a criação da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Constituiu a Comunidade Evangélica de Estrela, que continua desempenhando a função de difundir a mensagem do Evangelho. Admira, na atualidade, a disposição e energia de Häuser. Este atuou em comunidades tão distantes, quando vivia numa época de precárias estradas e transportes. Constituiu-se em mais uma das fiéis “ovelhas do Senhor”, que desafiaram obstáculos e a própria vida para levar aos distantes rincões de Taquari, as “sementes do Evangelho”. Ferdinand, portanto, mereceria o reconhecimento, pois foi um heroi anônimo (algum nome de rua seria boa lembrança da sua epopeia pastoral).
           
Fonte: Guido Lang, O Informativo de Teutônia, n° 146, dia 10.06.1992, pág.02.

Crédito da imagem: http://daniboy86.blogspot.com.br/2010/05/como-biblia-chegou-ate-mim.html

Oração de Mahatma Gandhi

Senhor

Ajuda-me a dizer a verdade diante dos fortes e a não dizer mentiras para ganhar o aplauso dos fracos .
Se me dás fortuna, não me tires a razão.
Se me dás o sucesso, não me tires a humildade.
Se me dás humildade, não me tires a dignidade .
Ajuda-me a ver o outro lado da moeda, não me deixes acusar o outro por traição aos demais, apenas por não pensar igual a mim.
Ensina-me a amar aos outros como a mim mesmo.
Não deixes que me torne orgulhoso se triunfo, nem cair em desespero se fracasso .
Mas recorda-me que o fracasso é a experiência que precede ao triunfo .
Ensina-me que perdoar é um sinal de grandeza e que a vingança é um sinal de baixeza.
Se não me deres o êxito, dá-me forças para aprender com o fracasso. Se eu ofender as pessoas, dá-me coragem para desculpar-me e se as pessoas me ofenderem, dá- me grandeza para perdoá-las. Senhor, se eu me esquecer de ti, nunca te esqueças de mim.
        
Mahatma Gandhi (1869-1948)

Crédito da imagem: 
http://www.facebook.com/photo.php?fbid=423681504366290&set=a.218074431593666.48679.217976254936817&type=1&theater

domingo, 6 de janeiro de 2013

Um galo


      O malandro, ao trouxa do chacareiro, trouxe um galo de rinha. Este, tendo mais exemplares da espécie, tratou de fazer algum escambo. Procurou, num primeiro instante, deixar a ave adaptar-se ao ambiente. O ingênuo impressionar-se com o bicho. Transcorreu, algumas horas, pediu trocar por galinhas (caipiras). O morador, bom vizinho e gentil, aceitou a proposta “na santa fé”.
Os dias transcorreram e o dono notou o estranho comportamento. O galo ostentava-se indiferente as galinhas. Os machões, rivais, abstinham-se de temores dele; nada de maiores confrontos. O animal, de forma incomum as aves, andava sólito pelo pátio. Outra atitude imprópria: nada de constituir e dormir com seu harém. O proprietário dizia: Que ave mais estranha! Nunca vi um galo desses! Tem algum “coelho ensacado” nessa história!
A família, numa certa ocasião, assentou-se à conversa informal e o tradicional chimarrão. Objetivo: “colocar as conversas em dia e trocar umas  e outras fichas” (informações). Procurou curtir o ambiente calmo e natural da chácara. As galinhas, no pátio, ciscavam e descansavam (no sabor do calor). Uma poedeira, numa altura, assentou-se para “querer receber os serviços masculinos”.  O aparente chefe alisou  e roteou, porém nada de sua instintiva e nobre missão. Ele mantinha a “indiferença e impotência diante da fruta”. O criador primeiro, como rinhadeiro, tinha aplicado uma (para impossibilitar difundir a variedade e tirar cria).
O dono,  noutro dia,  não teve a menor dúvida: abateu o galo  “para colocar na panela”. A situação revelou o impensado: galo castrado/infértil. O rinhador, com razão de não difundir sua  especial criação,  havia pregado uma astuta peça. Ele comercializou “a semente infértil!” A ave consumiu um punhado de trato e nada de maior proveito. O comprador compreendeu a razão das chacotas (de amigos e  conhecidos). Estes faziam referências em querer comprar ou trocar o galo. Eles sabiam da falcatrua e aproveitaram a situação para tirar zarro. Umas boas gargalhadas fruto da ignorância alheia.
As interrogações futuras, diante dos gozadores, foi no sentido da destinação. O proprietário falou da sua comercialização a outro criador (distante). Ele fez referência ao recebimento de excepcional preço. O antigo dono, diante da ganância e mentira, ainda lamentou pelo negócio. O carneador deu-se conta das “transações viciadas de certos elementos”. Estes estragam-se por mixaria e desprezam a memória futura. Ostentam-se desonestos e inconfiáveis. Desperdiçam valiosas chances e oportunidades de eventuais  novos/outros negócios.
Quem se estraga por pouco, o muito não merece. Certos ganhos injustos e momentâneos, na prática, causam descréditos e prejuízos maiores (em função da perda da confiança e dos falatórios). O que não queres para ti,  trate de não repassar aos alheios! Certas práticas vêem-se perdoadas porém jamais esquecidas. Um singelo detalhe, no âmbito geral, pode fazer uma tremenda diferença.

                                                                        
    Guido Lang
                                                           “Singelas Histórias do Cotidiano Colonial”

Crédito da imagem:http://papasbolosetolos.blogspot.com.br/2009/08/o-campones-resolve-trocar-o-seu-galo.html 

Pseudopastor Grafen: instrumento divino


        A pesquisa histórica na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) pouco se ocupou com a contribuição dos "pseudopastores" (pastores leigos). Estes foram instrumentos da “Palavra do Senhor”, quando ocorreu a carência de religiosos de formação teológica (nos primórdios  da colonização). Gustav Adolf von Grafen foi uma das ferramentas que teve destacada atuação nos princípios da Colônia Particular de Teutônia (1858-1908).
Teutônia, em 1871, estava em pleno florescimento econômico-cultural.  Inúmeros pioneiros tinham se instalados nas quatro e meia léguas quadradas de terras. Estas tinham sido divididas em seiscentos prazos coloniais e  em vinte picadas (localidades). O afluxo de colonos e o aumento populacional exigiram uma ampliação dos serviços pastorais. Os primeiros, de forma precária, eram atendidos pelo pastor Johann Friedrich Wilhelm Kleingüther. Ele, geralmente em duas oportunidades anuais, vinha de Porto Alegre para atender os fiéis luteranos do Vale do Taquari.
Teutônia, devido a colonização homogênea por protestantes, tornara-se visita obrigatória. O povoamento tinha sido um refúgio seguro contra a intransigência religiosa (movida pelo espírito da Contra-Reforma ainda reinante na Igreja Católica). Kleingüther iniciou o atendimento pastoral em 1864 e estendeu-o até 1873; repassou-o ao pastor formado Ferdinand Häuser. O atendimento precário (em função de distâncias e divergências), de parte dos colonos, levou a auto-nomeação dos cidadãos Gustav Adolf von Grafen e Heinrich Beckmann. Eles, como pastores leigos, passaram arregimentar (a partir de 1873) os adeptos luteranos.
A tradição oral e os registros escritos de comunidades comprovam sua nobre atuação. Grafen ajudou a organizar as comunidades das Picadas Boa Vista (Betânia), Arroio Seco e Teutônia (Paz). A atuação paralela, junto com Heinrich Beckmann, inicialmente gerou divergências/intrigas, que, com a passagem do tempo, foram serenadas.
Procurou-se, a partir dos "Livros de Batismos e Casamentos de Grafen e das Comunidades Betânia e Paz", pesquisar a trajetória de Grafen. Este era filho de Theodor von Grafen e Maria Henriette von Saldern. Nasceu em 9 de outubro de 1836 em Halle/Saale. Migrou jovem aos Estados Unidos da América, quando, conforme Klaus Becker no artigo “A fundação e os primeiros 30 anos de Teutônia”, tornou-se oficial estadunidense. Lutou provavelmente na Guerra de Secessão (1860-1865) e ofereceu-se, com a imigração ao Brasil, posteriormente como missionário e professor aos colonos teutonienses.
Grafen, em 1888, chegou a ter 670 almas e 110 famílias em suas comunidades. Migrou, por volta de 1870, à Colônia Teutônia, quando,  na Picada Schmidt (atual Wesfália/RS), iniciou suas atividades de professor. Casou, em 11 de novembro de 1872, com Catarina Dickel. O casal teve os filhos Adolf Gustav, Friedrich Wilhelm, Heinrich, Leopoldina, Julie, Henriette, Rosamunda, Max, Adalina, Marie e Karl. Iniciou o serviço pastoral em 12 de agosto de 1873, quando batizou seu filho Adolf Gustav; estendeu-o até 25 de dezembro de 1907, no que concluiu com o batizado da sua neta Amalie.
O religioso, neste espaço de tempo, realizou um total de 148 casamentos e 2500 batizados, que ocorreram, além de Teutônia, pelas Colônias de Brochier, Conventos, Maratá, Estrela e Novo Paraíso. O trabalho pastoral sobressaiu-se nas Picadas Arroio Seco (Arroio da Seca/atual Imigrante/RS), Boa Vista e Catharina (atual localidade de Boa Vista Fundos).
Grafen iniciou os registros com a frase em latim e alemão:  “Sub Ministério Mag. Gustav von Grafen quod die 1° Juni 1874 ingressus et, seguentes infates baptisadi sunt. Farit Deus est corum omnium consignata  olim reperiatur in libro vitae – Geburts und Tauf-Register für die evangelischen Gemeinden do pastor Gust. von Grafen – Colonie Teutônia, Município d’Taquary – Província d’Rio Grande d’Sul – Império do Brazil”. A tradição oral registra o extravio ou inexistência do "Livro de Óbitos", que priva os estudiosos das genealogias de valiosos dados. Este veio a falecer em 28 de setembro de 1908, em Teutônia.
Grafen, na atualidade, descansa numa singela sepultura no "Cemitério Evangélico da Paz" (em Teutônia/RS). Nenhuma inscrição registra sua destacada atuação pastoral. Este indivíduo que contribuiu para o lançamento das bases do luteranismo na região e a fundação, junto com Heinrich Beckmann, de diversas comunidades. Seu singelo pastorado confirma "o fato de que Deus age, através de cidadãos humildes e de forma inimaginável, para difundir, através do Espírito Santo, a mensagem da concórdia humana".
           
Autor: Guido Lang, Jornal Evangélico n°4, pág. 02, dias 15.03 a 04.04.1992.

Crédito da imagem: http://cibercolonia.blogspot.com.br/2011/02/concurso-da-mais-bela-chegada-teutonia.html


sábado, 5 de janeiro de 2013

O Faísca



O Faísca era um cachorro belo e excepcional. Adestrado para ser uma parceria agradável e ímpar. Acompanhara o dono nas suas muitas andanças e passeios. A preferência ocorria nas idas e vindas aos armazéns e bares. Aprendeu cedo a correr atrás ou ser carregado de carro. Este, conhecendo os perigos do trânsito, saia da estrada na proporção de achegar-se algum veículo. A paciência parecia infinita em esperar  o dono nas rodadas de carta/baralho...
O ensinamento essencial relacionou-se a guarda do pátio. Quaisquer lagartos e raposas viam-se exterminados, gaviões e ouriços alertados da sua presença; eraras e graxains perseguidos (até serem entocados)... A amizade e consideração, pelo chefe, parecia infinita. O cuidado do patrimônio familiar  mantinha-se a razão existencial. Os olhares e ouvidos recaiam sobre os gestos e palavras do adestrador. O cão, na sua compreensão e humildade canina, parecia ter nascido em função do benfeitor. Acompanhava-o nas diversas e inúmeras paragens.
A alegria e consideração maior sucediam-se nos momentos de caçadas e pescarias. Cachorro e tratador constituíam uma simbiose ímpar. Eles, nas caladas das manhãs e noites, devassaram arroios e matos. As presas conheciam a perseguição e extermínio diante da parceria. O lugarejo, em meio a devassa dos territórios  ostentava-se deveras diminuto. Quaisquer refúgios, nos cantos e recantos, acabaram localizados e a pena, pelo azar e cochilo, ostentava-se a punição extrema (morte). Os dois! O terror das colônias! Relatos e histórias das aventuras e peripécias não faltaram nos comentários  e falatórios das bodegas e vendas.
O Faísca, numa certa ocasião, queria inovar e relachar. Os instintos levaram-o a “cair na fraqueza do espírito”. A sexualidade, como desejo de propagar a espécie, fez-o “correr atrás duma namorada”. O comum, na localidade, foi a romaria da cachorrada! Os machos, de procedência variada, queriam atender a parceria e satisfazer o instinto de ser pai. Alguma alma maligna/misteriosa, em meio a afobação e briguedo generalizado, armou armadilha e enjaulou o Faísca. Este entrou numa tremenda fria. Os responsáveis castigaram-o com dura pena: a castração. O  faro e serviço do Faisquinha viu-se diminuído e sossegado!
O dono, deparando-se com a realidade do fato, caiu no espanto e raiva. Os responsáveis esconderam-se no anonimato  Eles, mais ou menos dias, “acabarão batendo com a língua nos dentes”. O apegado e ativo Faísca mudou de filosofia. Ele, daquela ocasião em diante, tornou-se amigável e sereno. A vida entendeu como comer e dormir! O bicharedo, no pátio, tornou-se abusado e ousado diante da sua indiferença. Que singelas bolotas fazem tamanha diferença?
As peripécias de uns, incomodam outros.  Ingênuos animais, inúmeras vezes, pagam o ônus da indisposição de humanos. Abusos, de uma ou outra maneira, vêem-se observados e punidos. Aplicar peças ostenta-se prática frequente no meio colonial.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da  imagem: http://br.freepik.com/fotos-gratis/filhote-de-cachorro-bonito-branco_530838.htm

Os Colonos



          “Pobres de nós”, choramingava o Marcos. “Cada dia que passa a situação fica pior. Ao, invés de progredir, a nossa colônia vai para trás que nem rabo de novilho. Também, como poderia ir bem se um prefeito que vale menos que uma fruta podre e que não tem escrúpulo em entregar até as nossas vidas por um lucro qualquer?
Ele, sim, tem uma bela mansão, guarnecida e bem abastecida, e ganha por dia o que nós não ganhamos num ano. Soube-se, inclusive, que recentemente, só numa negociação ganhou um milhão.
Agora, se nós déssemos algum valor a nós mesmos, poderíamos impedir isso.  
Mas nós somos leões dentro de casa e cordeiros fora, na rua. Eu até a roupa de cama e os atoalhados estou vendendo para sobreviver e, se continuar assim, vou ter que vender também a minha casinha.
Onde vamos acabar se nem os homens, nem os santos tem mais pena de nós? Chego até a pensar que tudo isso acontece por vontade de Deus! Porque, veja, ninguém mais confia no céu, ninguém mais observa o jejum nem outras práticas religiosas, ninguém tem mais respeito por Deus. Todos ficam o dia inteiro só pensando no dinheiro e procurando ter mais lucros.
Antigamente, até as mulheres de boa família saíam em procissão indo ao templo, implorando Deus por qualquer coisa, até para fazer chover. E Ele fazia chover mesmo, e todos voltavam para casa molhados, mas rindo de alegria.
Agora, os santos, se quiserem ajudar, estão de mãos e pés atados, porque todos perdemos a religião. Veja, os campos...”
A essa altura, Antônio, o bodegueiro, interrompeu a ladainha. “Por favor, homem, não fique lamuriando demais. Hoje as coisas andam assim e amanhã irão assadas, como dizia o compadre que perdeu o porco. O que hoje parece um completo desastre, amanhã poderá ser até uma grande sorte. A vida é assim mesmo: vai para lá e vem para cá.
Reconheço que é verdade que o país estaria muito melhor se houvesse homens decentes no comando, mas precisa também considerar que este é um período de dificuldades generalizadas. Por isso não devemos ser exigentes demais, porque todo mundo está nessa, e o céu é igual para todos.
Se tu estivesses morando em outro país, com certeza acharias que aqui, no teu, os leitões andam na rua já assados e temperados. Além disso, daqui três dias começa a nossa grande festa. Fica alegre, Marcos”.
         
Autor: Caius Petronius Arbiter ou Caio Petrônio Árbitro (27 – 66 d.C), escritor romano.