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domingo, 14 de outubro de 2012

A futilidade das brigas


           Um certo criador, de aves caipiras, resolveu abater uns galos, que viviam, no interior do pátio colonial, brigados e intrigados. Uns avançavam nos haréns alheios; havia dias inteiros de confrontos e correrias. Uma aparente guerra instalada na espécie! Alguns, de menor tamanho, foram residir na vizinhança (incorrendo no perigo de serem perdidos); não tinham nenhuma chance diante dos maiorais. Estes, muitíssimos autoritários, abusaram da paciência alheia (em função da ousadia e petulância).
O colono, numa noite, prendeu os briguentos numa gaiola, quando, no raiar do dia, pareciam matar-se. Estes, mesmo nos minutos anteriores a degola, enfrentaram-se de forma acirrada em decorrência de velhas intrigas e rixas sexuais. Eles, como muito abusados, imaginavam-se “donos do campinho”, enquanto novos, ousados em gestação, aproveitavam-se do contexto. Estes estufavam o peito e cocoricavam nos espaços, quando cedo mostravam-se tão abusados e implicantes como os outros. Uma briga pela efemeridade do poder de mando em meio às várias fêmeas.
O idêntico aplica-se aos humanos, no que "degladiam-se" por dinheiro, honra, poder, posses... Imaginam-se donos de ambientes, coordenam vidas alheias, constroem aranha céus, ostentam fortunas... Quem, lá adiante como herdeiro, recebe o espólio disso tudo costumeiramente pouco caso faz do patrimônio. Labutou-se dias infindáveis para acumular e tão efêmero foi esse ter; poderia ter dispendido este tempo único, numa vida, para ocupações mais agradáveis. Precisamos estar conscientes da transitoriedade dos nossos dias e ocupá-los da forma mais agradável e feliz.
Certas querelas mais aborrecem e intrigam como angariam benefícios e conveniências. Sábio aquele que da sua vida consegue fazer uma festa! O indivíduo, na prática, não precisa muito para viver na proporção de não dar ouvidos ao consumismo desenfreado.

Guido Lang
Livro ‘’Histórias das Colônias’’
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://www.blogodorium.com.br/sonhar-com-galo-significados-para-este-sonho/ 

sábado, 13 de outubro de 2012

As diferenças de vocações


    

    As saracuras, nativas do interior dos matos, mantiveram uma dúvida com relação as galinhas. Elas, nas suas conversas, debatiam a questão; não chegavam a uma conclusão convincente e definitiva. A curiosidade relacionava-se a questão humana, que hostilizava a espécie e protegia as galinhas. As próprias sentiam-se discriminadas e marginalizadas e a lei, da proteção ambiental, assegurava direitos iguais a todos no mundo animal.
     Algumas saracuras, numa certa oportunidade, afluíram num pátio colonial. Elas, junto as galinhas, comiam ração e mantiveram uma aparente mansidão no ambiente. O grupo interrogou algumas galinhas sobre o tema. Uma velha ave, de muitos ovos chocados e postos, explanou uma resposta sábia. Esta disse: “ - A aparente excepcionalidade, na proteção e trato, tem um custo acentuado. Precisamos, como espécie, primeiro pôr ovos aos trilhões para o consumo humano e, num segundo, abatem-nos, em genocídios, para fornecer carnes. Muitos dos  semelhantes, encontram enjaulados, em gaiolas diminutas, para serem 'fábricas de ovos'. Outros trilhões de jovens trancafiados em aviários esperam empanturrados um certo número de dias e peso com vista de serem levados aos abatedouros. Diga para os teus que essa gentileza humana mostra-se uma balela! Os  homens não fazem nada por mera caridade ou casualidade; os fins econômicos justificam os meios”.
    O grupinho de saracuras pensou: "Continuamos ariscas como de práxis. Os nossos ciúmes e invejas  não passam de ilusões! Mantivemo-nos com os instintos apurados diante da extrema astúcia humana". Elas, junto aos conhecidos e vizinhos, espalharam a fala entre os muitos da espécie, que nunca deixaram-se amaciar e dominar.     
  Muitos ostentam-se felizes e não sabem! Certas regalias possuem custos exorbitantes em sofrimentos! Mantenha sempre os instintos apurados neste mundo cheio de artimanhas e injustiças! Quem enciuma e inveja as virtudes alheias, acaba esquecendo das suas!

Guido Lang
Livro ‘’História das Colônias’’
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://muhpanpaisagens.wordpress.com/2007/04/30/saracura/

Sólon



0 1. Não destruas o que não fizestes.
02.  A palavra é o espelho da ação.
 03. A igualdade não gera guerras.
04. Envelheço aprendendo sempre muitas coisas.
05. Aquele que quer a ser chefe tem primeiro que aprender a servir.
06. Não dês a amigos os conselhos mais agradáveis, mas os mais úteis.
07. Não tenhas pressa de fazer novos amigos, nem de abandonar aqueles que tens.
08. Para que um império dure, impõem-se que o magistrado obedeça as leis e o povo aos magistrados.
09. É a instrução a melhor provisão de viagem para a paragem da velhice.
10. Aprende a governar-te a ti próprio antes de governar os outros.
11. A riqueza gera a sociedade e a sociedade a incontinência.
12. As leis são como as teias de aranha que apanham os pequenos insetos e são rasgados pelos grandes.

(638 a 558 a. c., poeta e político da Grécia Antiga)

(Reunidos, a partir de fontes diversas, por Guido Lang)

Crédito da imagem: http://hellenizelcg.blogspot.com.br/

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

As prioridades próprias



     Um certo vizinho, de muito bom coração, foi ajudar o próximo, quando este teve desconhecimento e dificuldades de cultivar sua roça. Foram dias e semanas, na época própria da primavera, de lavração e plantio, no que, com o trabalho (de bois e braçal) não faltou. O milho, mandioca, feijão, hortaliças e pastagens ganharam atenção com razão de garantirem a subsistência familiar.
    O tempo, como de práxis, escorreu rápido! O cochilo, de bom coração, levou ao relapso da sua propriedade, que lhe atrasou o preparo da terra e cultivo. O verão adveio antes do imaginado e a estiagem tomou forma. As culturas viram-se abaladas em cheio, no que pouco colheu de produção. Pensou, com a frustração da safra, contar com a solidariedade do vizinho, que então “fez-se de desentendido”. Entendia-se feliz e realizado com a ampla produção, que, na época própria das atividades, rendeu magníficos frutos. Primeiro o próprio e daí pensar na caridade alheia! O cidadão ajuda e orienta e, na proporção de precisar, encontra-se abandonado e sozinho.
      O idêntico aplica-se nas municipalidades: contribuintes pedem máquinas aqui e acolá, para isso e aquilo. Os prefeitos, para avolumar votos, atendem os aterros, cargas de brita/saibro, consertos das estradas de acesso, canos á canalização... O tempo transcorre e as estradas de chão deterioram-se no contexto nas colônias. Advém o período das chuvas e o caos instala-se nas vias de deslocamento de chão batido (nas estradas gerais). A população reclama como um todo, quando, lá adiante nas urnas uns lembram e outros não, dos favores dispêndios. O ente público primeiro necessita atender bem suas obrigações, no que pensar em auxiliar e atender necessidades dos eleitores.
      O retrato das estradas é o melhor aspecto da eficiência duma administração. Os prefeitos, como chefes, precisam acompanhar e zelar pelo pleno funcionamento das instituições e obrigações públicas, no que visitas de surpresas são meios de conhecer as realidades e melhorar serviços. Priorizar, primeiro o próprio, com extrema eficiência para daí pensar no bem privado e na caridade alheia.

Guido Lang
Livro ‘’ Histórias das Colônias’’
(Literatura Colonial Teuto- brasileira)

O conselho paterno


     Um certo jovem, com futuro a conquistar, foi convidado a participar da eleição municipal. Concorrer, por uma coligação partidária, a vereador da cidade, quando, determinado partido, fazia investimento em jovens lideranças. Poderia, como candidato, assimilar as experiências e "manhas" das acirradas disputas políticas.
    O pai, um modesto agricultor da agricultura familiar, deu-lhe uns conselhos. Estes basicamente consistiram nestes termos: " - Nada de ficar falando mal dos adversários! Procure relacionar-se com todos e comentar projetos municipais. Queremos, como família, distância das brigas e intrigas na vizinhança. Os atuais adversários, lá adiante, podem ser teus aliados e comentários/críticas impróprias criam mágoas. As pessoas perdoam porém não esquecem! Procure não prometer nada que não possas cumprir!’’
   O cidadão, nos diversos comícios e reuniões políticas nas comunidades e vilas, seguiu o receituário. Ficou, por poucos votos, na suplência porém foi "o único com a língua controlada" nos acalorados confrontos partidários. Os pais, de velhos conhecidos, receberam os cumprimentos pela boa educação familiar assim como reforçaram propósitos de dividir votos e "dar uma força ao rapaz". Este, nos próximos pleitos, pensa reforças suas bases e enveredar por novas aprendizagens e lições da arte de administrar/coordenar os destinos comunitários.
  A política, nas pequenas comunidades, tem o inconveniente de geral desavenças/intrigas generalizadas por preferências partidárias. Inúmeros eleitores negam-se a apoiar "os falantes alheios", pois querem conhecer propostas sobre a evolução comunitária. Quaisquer partidos, com desejo de expressão nacional, necessitam investir nas novas lideranças e não deixar unicamente "as velhas raposas" cuidando do cocho da gestão pública.

Guido Lang
Livro ‘’ Histórias das Colônias‘‘
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Sabedoria das estiagens


    

   As estiagens, há cada década, abatem-se sobre o meio colonial, quando as colheitas mostram-se escassas. Os animais e homens sofrem a falta de grãos, enquanto culturas ostentam-se miúdas e raquíticas. A falta de chuvas diminui os reservatórios da água e resseca o solo, quando o cenário rural assume ares de desolação. Os humanos, há cada dia, elevam os olhos ao céu, no que a decepção abate-se no contexto natural. As conversas generalizam-se sobre as condições meteorológicas, quando cada prenúncio de precipitação torna-se sinal de esperança. Os produtores nunca podem perder as esperanças, caso contrário, desistiriam da atividade econômica.
    Uma ou duas estiagens, há cada dez anos, ocorrem nos espaços regionais, no que o colono precisa “pagar para produzir”. A situação obriga a comprar trato com vistas de manter o plantel, pois como vacas e porcos, custam a constituir. As rações cedo sobem as alturas no comércio, enquanto os preços da produção custam a elevar-se nas cidades. Alguém “precisa marchar” com o prejuízo, que costuma recair, em função do baixo poder de barganha, sobre o colonial. Este queima parte dos esparsos dividendos acumulados nos períodos de maior produção. O produtor conhece a velha lógica da oferta e da procura: excesso de produção – preços baixos; ausência de produção – preços elevados.
     A realidade, no meio rural, criou duas velhas sabedorias. A primeira reza: o excesso de produção nas colônias mostra-se tão prejudicial como a ausência. Os produtores precisam receber os valores baixos dos atravessadores. A ausência de produção não tem o que comercializar e força a importação. A segunda versa: os efeitos da seca advêm um ano depois! A falta de reserva de grãos eleva o preço da carne às alturas.
     Estoques baixos obrigam a importação de cereais, quando labuta-se com baixos níveis nos plantéis e no vermelho na manutenção destes. Procura-se, nestas situações, “extrair água de pedras” no que os recursos das propriedades são exauridas ao extremo. Administrar uma propriedade da agricultura familiar de subsistência exige conhecimentos e habilidades econômico-financeiras, que é realidade de economista.
    Colono costumeiramente ostenta-se deveras econômico e poupador, quando pouco conta em valores monetários o preço da sua mão de obra. Aprendeu, nas experiências da tradição familiar do manejo da terra, não ser fácil constituir-se colono em paragens brasileiras, quando a oscilação/instabilidade econômica mostra-se frequente.



Guido Lang
Livro "Histórias das Colônias"
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://blogs.diariodepernambuco.com.br/politica/?tag=seca 

Escambo de favores



Um certo colono criou um excepcional porco que fazia o capricho da propriedade. Este foi criado e engordado para um evento especial, quando os familiares advindos das cidades pudessem desfrutar um apetitoso assado.
Os dias transcorreram e a data achegou-se! O bicho, sem dó e piedade, precisou pagar com a vida o ônus do lazer alheio. Procurou, na hora do sacrifício, chorar numa aparência de criança, porém de nada adiantou diante dos propósitos humanos. O animal esquartejado procurou ressarcir o criador dos dispêndios do trato e trabalho, que fizeram necessários por meses e “doeram no bolso” com as rações.
Um momento, com vistas de haver cortesias recebidas, foi de devolver banhas, carnes e torresmos a vizinhança. Eles, numa ocasião, tinham abatido “alguma vítima”, quando, como bons próximos, “fizeram o agrado de dar um tira-gosto”. Uns vizinhos ganharam uns poucos quilos, quando seria uma inconveniência estocar todo o produto nos artefatos de refrigeração. “Uma mão lava a outra” e “outras mãos lavam muitas outras”, ou melhor, favores angariam a consideração e simpatia alheia. Um bom vizinho ostenta-se uma dádiva, porque emergências e necessidades nunca faltam nesta vida.
O criador/abatedor, na hora de selecionar a divisão dos produtos, manteve um singelo cuidado: retribuir artigos de qualidade, porém cada coisa uma parte. O melhor das carnes todavia resguardou  ao evento familiar; genros e noras adviriam da cidade para uma ceia excepcional. Eles daí poderiam degustar o apetitoso e cheiroso assado de porco. Procurou-se esta postura e todos ficaram muitíssimos alegres; o cuidado do porco custeou o ônus.
O idêntico, de alguma forma, aplica-se a conquista do poder, quando candidatos obrigam-se a pagar promessas. O erário mostra ser o porco; o vencedor da majoritária: o criador. A vizinhança: os apadrinhados pelos cargos. O cuidado maior consiste em guardar o melhor, os assados, aos muito próximos da cúpula dos partidos coligados. A festança estende-se nos quatro anos de gestão, enquanto, no ínterim, cria-se “novos porcos” com os favores da máquina pública. Uns mordem a isca e entram no abatedouro, enquanto outros mostram-se ariscos e querem tomar as próprias rédeas.
Poucas realidades mostram-se unicamente novas debaixo deste Sol velho, no que no mais ostenta-se a velha rotina. O indivíduo com avançada idade pensa ter visto tudo, porém alguns poucos sucedidos novos ainda surpreendem.

Guido Lang
Livro "Histórias das Colônias"
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

 Crédito da imagem: http://www.chefnarede.com.br/receitas/pernil-de-porco/