Os bichos, convidados
por uma comissão provisória, resolveram organizar-se numa assembleia geral.
Queriam discutir e determinar resoluções sobre a preocupante situação das
florestas. Elas, com o avanço da agricultura e pecuária, viram-se arrasadas e
devassadas. A ideia original consistiria em organizar alguns atos de protesto.
A moda, no momento, era fazer barreiras (nas estradas), caminhadas (diante dos
palácios governamentais), invadir órgãos ambientais... Externar, de forma
visível, o descontentamento e discordância (diante da ganância e insanidade
humana).
Escolheu-se, no
interior duma clareira (de mato), o local da reunião. Estabeleceu-se e
divulgou-se dia e hora do acontecimento. As inúmeras partes
atingidas/interessadas poderiam dialogar e expor ideias. O cenário, com o
afluxo da diversidade das espécies, cedo ostentou-se ímpar. Algo indescritível
e inimaginável na compreensão humana. “Cada um soube, em meio às necessidades e
perigos, onde o sapato apertava!”. A ameaça da sobrevivência havia ajuntado
partes amigáveis e divergentes! Uns seguranças, destacados entre as pacíficas
aves, trataram de manter afastados adversários e inimigos históricos.
As confabulações,
depois de quinze minutos de tolerância, começaram no ambiente. Os gatos e
graxains, como aparentes maiorais (na Floresta Pluvial Subtropical/Mata
Atlântica), coordenaram os trabalhos da assembleia. Adversários tradicionais,
de imediato, externaram suas ladainhas (de desconfianças e queixas). Uns
aplaudiram e outros vaiaram as conversas e falas. A anarquia, de forma
incontrolável (diante da ausência duma força bruta maior), tomou conta entre os
participantes. Acusações, de velhas desavenças e rixas, viram um momento
oportuno para aflorar.
As cobras
ajuntaram-se para querer abolir acusações/fama de serem traiçoeiras. As raposas
almejavam trégua das implacáveis perseguições da cachorrada. Os pássaros
queriam fim das caçadas dos gatos. Os ratos exigiram a abolição dos venenos. Os
cachorros queixaram-se dos espinhos dos ouriços. Ouriços lamentaram as
espingardas nas lavouras de milho. Saracuras mostravam sua indignação com os
milhos envenenados como sementes... Cada espécie, sem nenhuma exceção, tinha
suas lamúrias e reclamações. A bagunça e confusão instalaram-se. Os muitos
participantes/todos, sem exceções, falaram e gritaram nos idênticos momentos.
Ninguém dava ouvido a outrem. Cada
espécie preocupava-se simplesmente com seus dilemas e preocupações. O interesse
comunitário havia sido renegado ao plano secundário. A sina, como solução
final, continuou como de rotina: uns sendo alimentos a outros (na cadeia
alimentar). As florestas conhecem a diminuição de tamanho ou sofrendo danos
irreparáveis (com a proliferação da espécie humana).
Reuniões, onde todos falam e pedem, apresentam-se como
nulidade. Os seres, na proporção das necessidades, possuem a tendência de só
pensar nos seus interesses. Certas adversidade e divergências ostentam-se
irreconciliáveis. Encontros, onde ninguém almeja ceder, mostram-se de pouca
serventia. Certos assembleias/congressos, neste mundo afora, assemelham-se a
belas reuniões de animais.
Guido Lang
Livro ”História das
Colônias”
(Literatura Colonial
Teuto-brasileira)
Crédito da imagem:http://lecycpicorelli-bioarquitetura.blogspot.com.br/2011/05/dia-nacional-da-mata-atlantica.html#axzz2FBiB2WbO
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