Nenhum passatempo, nas colônias alemãs,
ganha tamanha importância como os jogos de carta. Grupos, de três a seis
membros (na maioria quatro), formam as chamadas companhias/parcerias. As
folhas, daí em diante, rolam frouxas e soltas.
Algum jogo, numa tarde
inteira, estende-se pelo tempo. Uns, nos primeiros momentos, afluem aos
armazéns, bares, bodegas, quiosques e rodoviárias para ganharem jogo/partida.
Outros, com antecedência, mantém algum grupo pré-combinado. Alguns poucos, a
cada dia (numa semana inteira), possuem suas companhias/parcerias. As tardes,
com aposentados, vêem destinadas aquela função/ocupação/passatempo. Algum
imprevisto, como falecimento ou negócios adiam o tradicional joguinho. Alguns
substitutos, dentro das possibilidades, podem ser convidados (com vistas de
preencher a vaga). Algum ausente/impossibilitado, com antecedência, precisa
avisar e conectar alguns substitutos.
Os néscios, nos jogos, admiram-se do
fascínio e vício pelo baralho. “A alemoada”, como nenhum outra etnia/povo, tem
tamanha abnegação e paixão. Cada ambiente, nas viradas de semana, ostenta seus
jogadores. Eles, como companhia ocasional, podem ser em números variados.
Jogadores, como amantes, sabem dos locais próprios a cada jogo, Estes, a título
de exemplo, podem ser bife, canastra, canastrinha, escova, nove, schofkop,
poker, trunfo... Um jogo, nas centenas de décadas de colonização e nunca
relegado ao esquecimento, consiste no schofkop (tradução literal “cabeça de
ovelha”). Os idosos adoram jogá-lo; ostenta-se rápido e interessante.
As conversas/discursos são de jogar
como passatempo. A prática corriqueira revela-se uma falácia: uns querem ganhar
algum dinheirinho; outros a cervejada do momento (os perdedores de cada jogo
custeiam o prejuízo de consumo da partida). Turmas, nalguma noite, jogam por
campeonato, churrasco, galinhada... Os perdedores tradicionalmente “marcham nas
despesas”. O curioso, em meio as partidas, nada de maiores comentários,
conversas, histórias... Os participantes “ficam vidrados no tal do lixo”
(cartas jogadas fora/controle da concorrência). Algumas folhas
descartadas, para o bom entendedor/profissional, revelam o quadro de
folhas/baralho (da concorrência). Algum espectador pode apreciar o cenário da
competitividade, porém nenhum “pio”. “A quinta roda, numa carroça, só serve de
estepe!” O espectador, portanto, não passa de mero observador.
Algumas turminhas, reunida no
expediente da bodega (ao redor d’alguma mesa), significa: jogo de cartas. Os
eventuais reclamões, como perdedores, cedo vêem-se descartados (nas companhias
de jogo). A idade, na proporção da aposentadoria, parece acirrar a obsessão pelo
hábito. Os segredos, do bom jogador, estariam na abstenção do álcool (em meio a
competição), controle das folhas e na eficiência dos cálculos matemáticos.
Guido Lang
Livro “História das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)
Crédito da
imagem: http://jannahcar.blogspot.com.br/2010/05/hj-falarei-sobre-uma-injustica-baralho.html