Algumas famílias
coloniais, em meio aos lares, criavam seus papagaios e periquitos (aves da
fauna silvestre). Estes, no interior dos matos e roças, viam-se apanhados jovens.
Os filhotes melhor podiam ser cuidados e treinados. As preocupações constantes
eram as caçadas e ousadias dos gatos. A domesticação, antes do rigor da
legislação ambiental (constituição de 1988), mantinha-se prática rotineira. Um
mimo, no conjunto das criações e plantações, possuir “algum bicharedo pronunciante”
de vozes humanas.
Uma certa família,
através dos filhos Afonso e Bernardo, achou um esconderijo (num louro oco, nos
fundos da propriedade, no interior da Floresta Pluvial Subtropical/Mata
Atlântica). Alguma espécie, olhando-se de baixo prá cima e numa altura de aproximados
trinta metros, via-se entrando e saindo do buraco. Os coloniais, de imediato, pensaram
tratar-se d’alguma ninhada de aves (prováveis
papagaios ou periquitos).
A dupla de jovens, na
primeira oportunidade (após alguma chuva de verão), apanhou a comprida e pesada
escada. Percorreu, em meia a estrada de roça, uma enorme distância (carregando
o pesado artefato). A dupla, numa altura, achegou-se mato adentro entre
árvores, cipós e pedras (numa encosta). Avançaram e enfiaram-se, no ermo, a
localizar o tronco. O propósito obcecado,
no interior daquela cavidade oca, consistia em apanhar alguma ninhada de aves (os
almejados papagaios ou periquitos). O Afonso, mais franzino, teve a nobre
missão de escalar a escada. O Bernardo, mais pesado, de segurar, de forma
firme, o artefato. Algum saco, como precaução, consistia para ensacar os inocentes
seres/aves.
O Afonso, bastante
afobado e curioso, enfiou, na primeira oportunidade, a mão naquele orifício (em
meio a excrementos e folhagens). Este, para sua surpresa, escutou um chiado
diverso e sentiu uma sensação fofa. Procurou, às pressas, encher e tirar a mão.
Apreciou, de imediato, os frutos da ousadia e trabalho. Muitíssimo assustado e
surpreso exclamou: “- Bernardo! Aqui tu tens os teus almejados/desejados periquitos!”
A mão encontrava-se tomada de morcegos. Podia, num azar maior, ter tido a mão
mordida por nalgum bicharedo peçonhento. Ele, em meio a maior frustração,
aprendeu outra dura lição de vida: “- O indivíduo, num ambiente ignorado, não costuma
enfiar qualquer membro!”
Certos ensinamentos assimilam-se unicamente no peso da
decepção ou dor. Algumas tarefas dão um tremendo trabalho e os resultados
mostram-se inexpressivos. A natureza, em meio a aparente esperteza humana,
esporadicamente aplica algumas boas e únicas. As pessoas tem a tendência de
enxergar os erros alheios e não os próprios.
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”
Crédito da imagem: http://meusperiquito.blogspot.com.br/2010/09/origem-dos-periquitos.html
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