Qualquer
profissão encontra gente de todos os interesses e tipos, quando levam ou não
jeito à atividade econômica. Um fato idêntico ocorre no meio colonial, quando
uns seguem o trabalho por gostar ou o seguiram em função da mera tradição rural
familiar. Faltou-lhes oportunidade maior para abraçar profissão mais rendosa.
Olhos atentos, apreciando as entrelinhas dos estados da criação, pátio e
plantações, vislumbram o espírito vocacional.
Os vocacionados, gostam daquilo que
fazem, encontram meios de inovar o sistema produtivo, tentam aproveitar ao
máximo as áreas disponíveis, diversificam criações e plantações, fazem “corpo
firme” para produzir, vesse-os continuamente no batente. O desanimado pouco
caso faz das coisas e do estado de apresentação das instalações e moradias.
Costuma labutar com razão de assegurar a subsistência, no que carece de ambição
maior. A diferença, a longa distância, permite vislumbrar o cenário, enquanto o
primeiro mantém o lote cultivado e produtivo; o segundo tomado pelos brejos e
matos (com ilhas de culturas esporádicas).
Um detalhe marcante, a primeira vista,
sucede-se com o esterco (de aves, gado e porcos). O caprichoso e dedicado mantêm
uma contínua falta do material, quando não o consegue acumular. Precisa-o para
adubar áreas de plantação, quando poupa dispêndios volumosos com a compra dos
adubos. As estrumeiras costumeiramente andam vazias e este lamenta o fato. O
desestimulado e desleixado acumula quantidades, que perdem-se na ação das
chuvas e ciscar das aves. O produto dificilmente ganha uma destinação agrícola,
quando encaram-no como “tremendo empecilho”. Várias propriedades, na primeira
oportunidade, salientam-se neste detalhe, quando uma “semi-montanha” formou-se
nos fundos das instalações.
O
colono esclarecido, conforme a tradição colonial, sabe que labuta com as
bênçãos divinas, quando dá uma real destinação aos dejetos animais. O solo
produz, todavia quer também sua retribuição para continuar fértil. O maior
patrimônio colonial não pode ser exaurido em função do ônus de recuperá-lo. O
indivíduo, para extrair reais conclusões, precisa observar muito mais os
detalhes e entrelinhas das situações do que as falas e os enfeites. Os reais
fatos dificilmente conseguem esconder os muitos detalhes.
Guido Lang
Livro “História das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-Brasileiro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário