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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Milho

A primavera achegou-se! As sementes precisam conhecer o solo. Produtores tem pressa de cultivar. Quem quer colher, precisa plantar. Deus abençoa quem trabalha.
O produtor, na sua tradicional lavoura, tratou de contratar os serviços das máquinas. O tratorista adveio para enterrar sementes. A sementeira, acoplada ao veículo, fez-o fácil e rápido. A segunda necessidade foi aplicar o herbicida. O cereal cresceu em meio ao brejo: o milho crescia e o mato retrocedia. Coisas da revolução agrícola. O colono, nos ventos da inovação, deu-se o trabalho de pagar. O sacrifício, com a outrora lavração da terra a boi e plantio manual, ficaram nas reminiscências impróprias da agricultura familiar de subsistência.
Ao rural, diante do investimento, coube esperar os desígnios do tempo. Algum reparo, eventual aqui ou acolá, fazia-se no ínterim. A maior consistiu “na torcida pelas dádivas e favores de chuva por parte de São Pedro”. Ele manda as graças d’água (segundo o provérbio popular). O plantador, em função do atraso das precipitações, colheu mero pasto. O cereal, não tendo chuva no momento próprio, “esqueceu-se de criar maiores espigas”. A solução foi cortar a cultura como forragem às vacas. Elas, tendo bom pasto, produzem leite e diluíram custos.
O corte revelou-se apressado. A área necessitou ganhar uma segunda plantação. O colonial arriscou de novo a sorte e torce pelas dádivas. Repete-se o processo do plantio (com vistas de colher a silagem de inverno). O tempo ostenta-se “de ouro” (com razão das plantas de verão não apanhar das geadas).  A estação fria, numa terceira cultura anual, ganha sua planta de inverno.  As adubações sucessivas, no ínterim das plantações massivas, garantem a fertilidade.
Quem cultiva aposta numa loteria: cinquenta por cento de chances no sucesso e outros cinquenta no insucesso. Os solos, com as plantações massivas, aguentam de forma indefinida? O capitalismo tomou conta do cenário colonial. Quem atua nos negócios agrícolas obriga-se a acompanhar o ritmo do sistema caso contrário quebra literalmente nos empreendimentos.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem:http://www.portaldoagronegocio.com.br/conteudo.php?id=73833  

As pessoas

Tem gente mais pobre do que você vencendo na vida e gente mais rica do que você fracassando. Logo, não importa se as chances são maiores ou menores para alguns. O que importa é que as chances existem. Isso é o suficiente!
Tem gente vencendo nas piores cidades dos piores países do mundo. Tem gente fracassando nas melhores cidades dos melhores países do mundo. Logo, não importa se as chances são maiores ou menores em alguns lugares. O que importa é que as chances existem. Isso é o suficiente!
Eliminar as justificativas que servem para anestesiar a consciência pode ser até doloroso, mas o coloca em seu lugar: o único autor de suas escolhas e responsável por seu destino. Logo, não importa se isso dói ou lhe pressiona. O que importa é que só assim você pode criar as suas próprias chances. E Isso já é muito mais do que suficiente...

Crédito do texto: http://www.facebook.com/CanalGeracaodeValor/posts/421961661216787
Crédito da imagem: http://diariodeumilusionista.blogspot.com.br/2012/03/horizonte-o-limite-dos-sonhadores.html




terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O brejo

Um pacato colonial, trabalhador braçal da agricultura familiar de subsistência, foi cultivar sua tradicional lavoura de aipim. Ela, em função da pequena propriedade, localizou-se nos fundos do lote. O local mantinha-se próximo a uma estrada de chão. O acesso, pela vila, situa-se a meia dúzia de quilômetros.
O morador, criado nas colônias e filho de agricultores, deu vazão aos conhecimentos e práticas agrícolas. Qualquer colono, no mínimo como produtor, precisa colher os artigos básicos à subsistência. Significa algum aipim, batata, frutas, hortaliças, milho, verduras... Produzir igualmente alguma carne, leite e ovos. Uma maneira de diminuir custos/dispêndios no mercado. Estes plantios exigem um cuidado especial. A título de exemplo: adubação, capina, erosão, sementes... Os inços, voltas e meia, precisam ser combatidos. Alguma capina manual faz-se necessária (caso contrário nem “adianta arriscar a sorte”). Algumas espécies sensíveis não adiante querer insistir com herbicidas.
O rural, como complemento ao consumo, plantou algum aipim a mais (para venda). Poderia, no mercado dum conhecido, trocar por produtos de consumo. Investiu dinheiro e tempo na cultura, que cedo correspondeu à dedicação e trabalho. Passou-se uns meses e as raízes tomaram forma. Um cardápio com aipim novo, com acrescido de abóbora e feijão novo (somado a guisado ou ovo frito), “dava água na boca”.
A surpresa adveio com a precoce colheita. Várias dezenas de pés, alheio ao pedido do dono, viram-se arrancados e colhidos. O proprietário, aos familiares e vizinhos, falou do inconveniente ocorrido. O pessoal, num pré-combinado, passou a reparar a presença de alheios (nas redondezas da plantação). A notícia, num entardecer de domingo, achegou-se aos ouvidos do plantador. Havia a circulação de algum estranho. Alguém, com mochila nas costas, havia sido visto entrando lavoura adentro.
O cidadão, como da práxis colonial, saiu com ferramenta nas costas. Um desconhecido encontrava-se sentado no interior da roça. Pediu a razão da incômoda presença do elemento naquele espaço. A surpresa, de cair o queixo, adveio: havia mais outros dois. Um, de imediato, mostrou a arma na cintura. O plantador, por pouco, não apanhou ou levou corridão na sua própria lavoura e terra.
O colono, noutro dia, foi dar queixas na delegacia. As autoridades pediram em trazer três testemunhas e pagar alguma taxa. Admirou-se daquelas exigências e transtornos. Resolveu deixar por isso mesmo. Ele, pensando alto, ainda disse: “- Alguns, numa hora dessas, acabarão parando no hospital!”. Algum policial, ouvindo a fala, interrogou: “- Como assim? Encontras a fazer ameaça de alguma desgraça maior?” O pacato colonial retrucou: “- Vou plantar da mandioca brava/paraguaia como remédio aos larápios!” Estes, na vila, eram velhos conhecidos e colegas de trabalho de amigos. O produtor, no ano vindouro, deixou o brejo tomar conta do espaço. Outro produtor desestimulado em função impunidade e ousadia alheia.
A roubalheira, com o “tal em flagrante”, torna-se fator de inibição produtiva. O país, neste ritmo, ostentará lá adianta carência de empreendedores e inovadores. Quem se empenha e trabalha acaba penalizado com a extorsão (alheia e fiscal). Leis brandas, com a sensação de impunidade, favorece a bandidagem.                                                                                                                    
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem:http://www.iapar.br/modules/noticias/article.php?storyid=1355 

Regras Essenciais para os Negócios


Mais vale em geral negociar oralmente do que por cartas, e por mediação, de terceiro do que pessoalmente. As cartas são melhores quando se deseja provocar resposta escrita, ou quando podem servir para justificação de um procedimento a tomar depois de escrita à carta. Tratar o assunto pessoalmente é bom, quando a presença impõe respeito, como acontece geralmente perante inferiores. Na escolha dos intermediários, é melhor optar por pessoas francas, que farão aquilo de que foram encarregadas, e que transmitirão fielmente o resultado, do que escolher pessoas hábeis em tirar proveito dos negócios alheios, e que podem alterar a verdade dos fatos, apenas para vos dar satisfação. É melhor sondar a pessoa com a qual se trata um negócio, antes de entrar abruptamente no assunto, exceto quando se pretende surpreendê-la com alguma questão especiosa.
É melhor tratar com pessoas que ainda têm apetite do que com aquelas que já o perderam. Se se trata com alguém sob condições, o essencial, é o primeiro ato, porque tudo não se pode razoavelmente pedir, exceto se a natureza da coisa for tal que se possa levar avante; ou tal que uma parte possa persuadir a outra que precisará dela em futuro negócio; ou ainda para convencer a ser a mais honesta de todas.
A prática está em descobrir, ou em fazer descobrir, na confidência, na paixão, no improviso, e na necessidade, quando é que o homem tem alguma coisa a fazer, e não pode encontrar para isso razoável pretexto. Se quereis conduzir alguém, deveis conhecer a sua natureza e os seus hábitos, e levá-lo por aí; ou os seus fins, e conduzi-los para eles ou então as suas fraquezas e as suas desvantagens, e dominá-los com elas, ou então as pessoas que se interessam por ele, e governá-lo por elas. Ao tratar com pessoas astuciosas, devemos considerar sempre os seus fins para por eles interpretar os seus ditos, e é bom dizer-lhe poucas coisas, e destas as que eles menos esperam.

Francis Bacon (1561-1626)

Crédito da imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Francis_Bacon

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Árvore das estações

Uns moradores, de descendência indo-europeia, tem uma admiração e consideração especial pelas plataneiras (Platanus occidentalis). Estas, trazidas da Eurásia e América do Norte, impõe um colorido e imponência colonial. Destacam-se, em quaisquer cenários, pelas características das folhas lobadas (largas e verdes). A espécie ornamental, em cada estação, impõem seu colorido especial. Um conjunto de plantas forma um excepcional espetáculo. As árvores, de longa distância, vêem-se vislumbradas. O plantio, em função da ornamentação, revela-se um incentivo ao turismo rural (a semelhança da Rota Romântica/RS).
Um certo senhor, a todas as famílias da localidade, doou mudas. Este, a título de lembrança e enobrecimento do lugarejo, deu-se o trabalho de engrandecê-las. O objetivo consistiu em proporcionar uma especial sombra (nos momentos da inclemência solar). Os moradores, no cotidiano da vivência, relembrarem-se da sua cultura/origens. O turismo rural, no interior da comuna, como referência a um visual diverso. O orgulho de ser lembrado como bom vizinho na proporção de vislumbrarem a planta no lugarejo...
O doador, ao longo duma divisa (na estrada geral), transplantou duas dezenas da espécie. A finalidade consistiu em ornamental o cenário colonial assim como, lá adiante, produzir toras. A madeira, valiosa nas carpintarias e madeireiras, dá excepcionais móveis. Os netos, como lembrança do antepassado, poderão ostentar matéria-prima. Esta possibilitará confeccionar seus móveis (na proporção de casarem e edificarem suas casas). Uma singela herança do avó: plantadas bem antes do seu nascimento.
O plantador, no cotidiano da sua existência, usou a plataneira como referência. Estas, continuamente vislumbradas pela propriedade (sobretudo no pátio), ofereciam a noção da transitoriedade do tempo. As árvores, a qualquer época, revelavam o deslizar das estações. A vida, neste transcorrer, ostenta sua efemeridade. O indivíduo, neste fluir, tem a necessidade imprescindível de vivenciar dias mágicos. Procurar concretizar objetivos e realizar sonhos! Conviver com as belezas de cada instante, dia e estação.
A primavera, época do desabrochar, representa o deslanchar das folhas (na proporção do aquecimento). O começo da jornada do indivíduo rumo aos áureos dias. O verão, galhos repletos de folhas, significa os ares esbeltos e frondosos. A pessoa tem seu maior vigor e a necessidade de colocar em prática os sonhos. O outono, folhas avermelhadas e perda progressiva das energias, prepara-se progressivamente para chegada do rigor da existência. O camarada passa a colher os louros do trabalho e guarda reservas aos dias difíceis. A necessidade de colocar em prática os últimos desejos e sonhos. O inverno, troncos e ramos despidos, representa o compasso de espera de dias melhores e o recomeço da jornada. O cidadão encaminha-se progressivamente aos anos difíceis e ao retorno das origens. A necessidade de conviver com a descendência e deixar os registros das memórias.
O tempo escorre entre as mãos e a vida revela-se muito breve. A época, a cada tempo, com suas alegrias e belezas. Sejamos, como as plataneiras, esbeltas e nobres em qualquer cenário e estação. O indivíduo, nesta caminhada, nunca sabe que o aguarda na primeira esquina. A existência, portanto, ostenta-se muito curta para o egoísmo e a ganância.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano da Vida”

Crédito da  imagem:http://www.vibeflog.com/picadaschneider/p/17190059 

Além dos próprios limites


Um arqueiro seguia próximo a um mosteiro hindu, conhecido por sua rigidez, quando viu os monges no jardim, bebendo e se divertindo.
“Como são cínicos aqueles que buscam o caminho de Deus”, disse em voz alta. “Dizem que a disciplina é importante, e se embriagam às escondidas!”
“Se você disparar 100 flechas seguidas, o que acontecerá com o seu arco?”, perguntou o mais velho dos monges.
“Meu arco se quebrará”, respondeu o arqueiro.
“Se alguém se esforça além dos próprios limites, também quebra sua vontade”, disse o monge. “Quem não equilibra trabalho com descanso, perde o entusiasmo, esgota sua energia e não chega muito longe”.

Autor desconhecido

Crédito da imagem: http://gentedomundo.blogspot.com.br/2010/08/ubud-bali-indonesia.html

domingo, 13 de janeiro de 2013

As baratas


Umas despreocupadas e ingênuas baratas, numa casa pouco frequentada (nas férias do ocupante), sentiam-se felizes e seguras. Um conjunto de famílias vivia no interior de frestas e paredes. A penumbra, em boa parte, resguardavam-nos para seguir seus dias. Cada qual, ao seu tempo, dava a melhor destinação e significado.
Alguns discretos sinais, diante dos olhares esporádicos do dono/família, unicamente denunciavam seus esconderijos. A revelação ocorria através de esporádicos barulhos e a presença de inconvenientes excrementos. O proprietário, com sua ocasional limpeza, parecia fazer indiferença. Eventuais migalhas, caídas das refeições e espalhadas pelo ambiente, proporcionavam a alegria e o banquete dos insetos. Os ocupantes ausentaram-se/dormiam e as baratas devassavam os cantos e recantos da habitação.
A surpresa, numa certa ocasião, adveio em forma duma limpeza (generalizada) e mimo. Um aroma, com cheiro acebolado e acrescido duma farinha (de coloração amarelada), havia sido colocado nos pontos estratégicos da residência. A esfomeada comunidade de insetos “chegavam a ter água na boca”. A oportunidade, depois de um bom tempo de carências e mesmíssimas comidas, consistia em degustar um prato diverso e novo. A afobação e agitação, diante da primeira escuridão, “tomou conta da galera”.  A imprudência, em meio aos organismos esfomeados, agitou os novos e levou a desconfiança dos velhos. A comunidade, com raríssimas exceções, avançou despreocupada sobre as iscas.
O cardápio, depois de atendido na necessidade básica, foi fazendo incômodos (estomagais) e causando tonturas. A comida mantinha algo estranho e os gulosos passaram a andar desnorteados. Perdiam a tradicional discrição e saiam sem rumo. Alguns muitos, sem maior tempo, nem puderam lamentar as causas da indisposição e a vida.
O marasmo, como a hecatombe do mundo, havia tomado parte da família das baratas. A realidade dos fatos revelou a razão da desgraça: iscas envenenadas. O dono havia oferecido “um presente grego”. A comunidade “pereceu como moscas”. Sobraram poucas para relatar a história. Algum ensinamento, aos espertos sobreviventes, consistiu em relegar mimos. Os relatos, em função da memória curta, acabarão ignorados em pouco tempo e idênticas tragédias acabarão sucedidas.
Cuidado! Muito cuidado com certos agrados e mimos! As cortesias e facilidades escondem armadilhas e interesses. Certos benefícios compram favores, porém escondem maiores custos (nalgum futuro). Os subalternos, seres mais fracos, nunca podem subestimar o poder dos humanos. A afobação e agitação, em inúmeros exemplos, mostra-se causa maior de aborrecimentos e imprudências. A boca, na maioria dos casos, revela-se causa primeira das doenças e perecimentos precoces.
                                                                               
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: http://info.abril.com.br/noticias/tecnologias-verdes/biocelula-usa-baratas-para-gerar-eletricidade-17012012-26.shl