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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Só para babar!



A mulher, toda arrumada e pintada, sai para o intervalo do meio dia. O local dos encontros e reencontros ocorre na praça central da cidade. Esta, pela aparência e formosura, assemelha-se alguma boneca ambulante!
A cidadã, com roupas justas e transparentes, coloca a vista a silhueta corporal. As joias, maquiagem e sorriso complementam o visual cinematográfico. “Uma mulher para nenhum homem colocar defeito!”
Os frequentadores, sobretudo masculinos, dimensionam de supetão os olhares. Uns, de imediato, despertam nos brios mais íntimos dos desejos. Algumas enciumadas, na concorrência, tratam de explanar: “- Olha lá a sicrana! Quê oferecida?”
Esta, para os amigos e colegas, fala dos reparos: “- Só para babar! Isso aqui já tem dono! A minha religião não permite certa liberdades e intimidades! O marido não gosta de me ver andar assim!”.
A necessidade de mostrar e ostentar os dotes revela-se deveras acentuado. Umas levam cantadas e depois improvisam queixas de abusos e inconveniências!
Os humanos tem extrema necessidade de angariar o reconhecimento social. As cantadas e floreios fazem parte das relações humanas. A ostentação mostra-se sinônimo de felicidade e realização para uns!

Guido Lang
“Singelas Fábulas e Histórias do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem:http://ideaal.blogspot.com.br 

A ilusão do galo


A ave, como rei das galinhas, esnobava abusos e correrias. O cocoricó, a longas distâncias, via-se ouvido e reconhecido. A concorrência não via a hora própria do seu infortúnio (para assumir as funções e o poder).
O galo índio gigante, na modesta inteligência, entendia-se como excepcional prestador de serviços ao criador. Este, em função dos belos galados ovos, bem que merecia apetitosos e saborosas grãos. As companhias, do total de sete do harém, dava plena conta das intimidades.
Alguma repentina visita, em forma de surpresa, advenho de longínqua paragem. O criador viu-se desprevenido em carnes. A solução, regada a saladas, consistiu numa apetitosa e suculenta galinhada. O galo, como especial protegido, acabou às pressas passado na faca.
A fama e  o poder tinha ruído como castelo de areia. O equívoco da proteção não passou de preocupação com o capital. O infortúnio serviu de alegria a outro assumir o governo e território.
Os humanos, susceptíveis as oscilações do bolso, revelam-se desapegados e traiçoeiros. “A morte de uns serve de alimento a outros!” “O orgulho cedo a terra come!”

Guido Lang
“Singelas Fábulas e Histórias do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem: http://umaseoutras.com.br

domingo, 28 de abril de 2013

A extrema dó


Um tradicional carneador, numa existência, abateu milhares de animais. Estes, para o consumo da carne e linguiça, relacionava-se a bovinos e suínos.
O fulano, conforme seu desabafo, sentia somente um remorso. Este ocorria na proporção da matança das rezes domesticadas e idosas.
As vítimas, conduzidos ao local do holocausto, sabiam perfeitamente das intensões. Os animais, como bois de canga e vacas de leite, lutavam de forma desesperada (para querer esquivar-se da hecatombe).
O desespero, amarrados numa árvore, significava digladiar-se com a corda. O bicho, a torta e direita, procurava libertar-se e safar-se! Os espertos pareciam dizer: “- Servi-vos toda uma existência e agora procedes dessa forma injusta! Uns irracionais estes malditos seres!”. Quê os homens fazem para não perder dinheiro?
Os humanos, de maneira geral, subestimam a astúcia e inteligência animal. Os temores da dor e incerteza costumam antecipar a morte! Com quê direito os ditos racionais arrogam-se de consumir os seres desprotegidos e fracos?

Guido Lang
“Singelas Fábulas e Histórias do Cotidiano da Vivência”

Crédito da imagem: http://www.anapessoa.com.br

O rato e o elefante



Uma grande reunião de pessoas admirava em uma feira o monstruoso tamanho de um elefante; um ratinho indignando-se exclamou:
- Fortes babacas! Sem graça, sem beleza, mal pode mover-se e o admiram! Mas, nós, ratinhos, corremos, pulamos, saltamos, somos cheios de graça, e em vez de nos prestarem a admiração devida, juram-nos guerra e extermínio. Será porque somos nacionais, e esse monstro é estrangeiro?
Enquanto assim repreendia os babacas, despercebido o ratinho é apanhado por um gato, que logo lhe mostra a diferença que há entre um elefante e um camundongo.

Moral da história:
A vaidade e a inveja fazem muitas vítimas; até os ratos querem que se lhes dê a importância dos elefantes.

Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

Crédito da imagem: http://ladroesdebicicletas.blogspot.com.br

sábado, 27 de abril de 2013

A excepcional produtividade



Um assalariado, com experiência agrícola, possuía um modesto terreno. Algumas dezenas de metros localizados numa área privilegiada e nobre. Este, junto a moradia e o pomar, instituiu o milagre em forma de produção!
O fulano, no restrito espaço, produziu ímpares quantidades de frutas, mel e verduras. O arvoredo, além de refúgio da inclemência solar e área de refrescar a mente, ganhou a companhia de dezenas de colmeias de jataís (“os tradicionais alemãozinhos”).
As abelhas, além da ímpar ornamentação e polinização, produziram especial cera e mel. Uma singela placa, no val de entrada, anuncia: vende-se mel! O comércio, sem maiores encargos, ocorreu junto ao local da produção!
O segredo, na consorciação, consistiu em produzir muito em pouco! As geniais ideias colocadas a serviço do bem estar do bolso e da saúde! Os seres humanos diferenciam-se pelos dons e espertezas externadas nos ambientes e vivências.
A criatividade e inovação mostra-se continuamente digna da admiração e elogios. Extrair ouro, em modestos palmos secos de terra, revela-se obra de sábios. Capricho, dedicação e inteligência fazem diferença em qualquer ambiente e trabalho.

Guido Lang
“Singelas Fábulas e Histórias do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem: http://azlziraelsner.blogspot.com.br 

O pobre e o rico


Sentado na sua banqueta ficava todo o dia um sapateiro a trabalhar e a cantar. Defronte dele morava um opulento e rico banqueiro, que em nada achava divertimento. Insípido aborrecimento por toda parte o acompanhava.
- Que perseguição a em que vivo! - Exclamava entre bocejos. - Dinheiro tenho de sobra, o gasto a rodo, frequento todas as festas e diversões, e os dias pesam-me! Ainda mais me pesam as noites! Como conseguirei matar estas inoportunas horas que me matam! Quão feliz é o meu vizinho sapateiro! Desde que rompe o dia até que anoitece, ei-lo a rir, a cantar e assobiar. À noite o maior sossego reina em sua casa, às vezes até mesmo o ouço roncar! Quero saber que receita usa.
Mandou chamar o sapateiro:
- Caro mestre sapateiro! Vejo sempre o senhor alegre e bem disposto. Ora diga-me, como faz para assim conservar-se: quanto ganha por ano?
E o sapateiro respondeu:
- Por ano! Meu senhor, não zombe da gente; pois nós lá sabemos quanto ganhamos. Vamos remando e vivendo cada dia com o lucro da véspera, e contanto que haja saúde, e não falte o que fazer, não falte pão; o que mais podemos querer?
- Se com tão pouco está feliz, quero vê-lo felicíssimo. Pegue aqui este saco de ouro, agora é seu! - Disse o ricaço dando-lhe um saco repleto de ouro como presente.
O sapateiro desfez-se em agradecimentos. Levou para casa o ouro, contou, repartiu pelos anos que esperava viver; era de sobra. Procurou um esconderijo em que o guardasse, e de contínuo inquieto ia vê-lo. Não o achava bem guardado; mudava-o de esconderijo. A tudo temia; tudo aparentava ser ladrão. Ao cabo de um mês, já amarelo, magro, triste, teve uma boa lembrança. Agarra no saco de ouro e vai à casa do vizinho.
- Tome lá, meu senhor, o seu saco de ouro! – Exclama. - Quero ver se recobro o meu sono e as minhas cantigas.

Moral da história:
O acúmulo de riquezas traz acúmulos de dores de cabeça.

                    Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                                  Crédito da imagem: http://ieshekinah.spaceblog.com.br

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Os escamoteados encontros


Um morador, da cidade para o campo, transferiu uma certa gata. A chácara mantinha sérios problemas de invasão de ratos. Algum felino mantinha-se sábia solução!
Os roedores, dos brejos e matos, invadiam as instalações e moradia. O veneno, em meio a esperteza do bicharedo, não dava conta de exterminar os muitos visitantes. Estes, diante do perecimento dos semelhantes, tratavam de ignorar e rejeitar as iscas.
O criador, numa solução definitiva, pensou no inimigo natural! A gata, isolada num ambiente estranho, deveria levar uma vida deveras solitária e triste. O animal, não tendo a companhia de qualquer semelhante (da espécie), certamente ficaria adoentado de tédio.
O homem, como ser comunitário/social, colocou-se na posição felina. Este imaginou-se neste ambiente e contexto isolado e perdido numa tapera! A vida, como supremo dom, vivida na solidão dos dias! Ninguém para amar, brigar, conversar, implicar...
O chacareiro cedo admirou-se da sua doce ilusão! Uma porção de gatos, “saídos do deus sabe onde”, afluíram comumente ao espaço. Os felinos, diante do desconhecimento do tratador, comunicavam-se plenamente nas caladas dos dias e noites. O relacionamento, inclusive íntimo, mantinha-se uma situação corriqueira e diária.
O senhor redescobriu a velha lógica. Os membros, de quaisquer espécies, encontram formas e maneiras de criar e manter vínculos. Os seres ajustam os instintos aos ambientes próprios da vivência! A vida não revela-se fácil para ninguém!
Cada qual acha o que interessa e necessita! A distância careceu de ser obstáculo aos negócios e relacionamentos. A vida tem sentido na proporção da convivência com os próximos e semelhantes!

Guido Lang
“Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem: http://www.tocadacotia.com