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sexta-feira, 26 de abril de 2013

Os dois galos


    Pelo domínio de um terreiro, povoado de galinhas, brigavam dois arrogantes galos. Um venceu; o vencido foi esconder-se envergonhado, e para mais dobradas mágoas ouvia de contínuo o estridente cantar do seu triunfante inimigo. Passa um gavião; o vencedor estava no mais alto do poleiro; o gavião lança-lhe as unhas. Aparece então o vencido, vem consolar as viúvas, suas consolações são aceitas e o ex-vencedor está esquecido.


Moral da história:
São coisas da sorte e da fortuna; desconfiemos sempre dela, especialmente depois das vitórias, no seio da prosperidade.

Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

Crédito da imagem: http://pastorelireis.blogspot.com.br

quinta-feira, 25 de abril de 2013

A incoerência financeira


As pessoas falam certas coisas inacreditáveis! Muitos, no desconhecimento ou na ingenuidade, ainda acreditam nas ladainhas! Exemplo: “O dinheiro ser coisa do diabo!”
Os indivíduos, de forma adoidada e apressada, correm atrás do numerário. Aquele fedorento e mero papel-moeda, como sangue do capitalismo ou socialismo, movimenta todo tipo de engrenagem e labuta. O camelô percorre ruas e avenidas para vender. O morador da rua pede centavos para o prato do dia.  O papeleiro puxa carinhos carregados como algum irracional. O religioso prega a palavra dita santa. Profissionais liberais enfurnam-se em cubículos para vender conhecimentos...
Os humanos, em todos os instantes e momentos, falam em dinheiro. O mercadinho fornece pão no propósito do lucro. O posto de combustível, sem cartão de crédito ou grana, não tem choradeira. O trabalhador em geral, sem salário, nem comparecer ao local da jornada. A comunidade religiosa, sem a taxa anual, carece de enterrar quaisquer entes. A municipalidade, sem os impostos, fraqueja na coleta do lixo...
Uma realidade, no cotidiano da existência, impressiona na alegria e satisfação. Algumas notas, dadas na mão de quaisquer viventes, cedo externa um sorriso nos lábios do fulano, beltrano e sicrano. O comportamento e a fisionomia assumem ares de alegria e felicidade!
O dinheiro, por não existir de forma bruta na natureza, os governos tiveram a necessidade de criá-lo. O cidadão, tendo numerário, “parece ser o cara” (podendo ser um tremendo chato e imbecil). A carência, em meio a melhor conversa ou choradeira, cerra amizades e portas. A moeda, nas suas benesses ou mazelas, move o espírito humano e os sistemas econômicos (ainda mais “a quem senta nalgum galho seco para sobreviver!”).
As sociedades humanas com suas muitas diferenças e incoerências! Os discursos e as teorias são uma realidade e a prática e o trabalho outra. As pessoas, na sua totalidade, ostentam a idêntica chaga: apreciar e gostar demais do dinheiro.

Guido Lang
“Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem: http://reavivamentoereforma.com

O veado e a vinha



Fugindo de uns caçadores, um veado escondeu-se em uma vinha (plantação de uvas). Estava enfim salvo do perigo porque os caçadores, depois de muito o haverem procurado, já iam se retirando. Vai o infeliz veado e põe-se a comer as folhas da vinha que o escondera; a vinha toda estremeceu; os caçadores voltaram-se e o descobrem.

Moral da história:

A ingratidão, mais cedo ou mais tarde, acaba sendo castigada.

Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                                    Crédito da imagem: http://esdrascabral.blogspot.com.br

quarta-feira, 24 de abril de 2013

O desabafo maternal



Uma senhora, nascida e criada nas colônias, pode criar uma dezena e meia de filhos. Uma jornada, de cada ano e meio (na idade fértil), encontrava-se em estado de gestação. Ela, a vida inteira, dedicou à família, filhos e sobrevivência.
Esta, nos dias finais da velhice, procurou fazer uma rápida resenha da difícil e onerosa existência. A anciã, numa síntese, expressou: “- A gente atendia o tempo inteiro casa, filhos e plantações! Achegava-se, à noite, encontrava-se exausto e morto de cansado! O marido, para completar, exigia ainda o atendimento das intimidades! Uma vida sem muitas alegrias e satisfações! Coloca vida judiada nisso!”
As décadas transcorreram e adveio a velhice. O marido tomou a dianteira do derradeiro descanso. O falecimento, precoce duma filha, somou-se como desgraça e tragédia! Esta, em meio ao choro, disse: “- A gente até suporta o falecimento do companheiro! Algum filho, vendo descer a sepultura, não dá para aguentar e suportar! A dor corta e esfacela o coração!”
Ela, nuns meses sucessivos, tomou o rumo do cemitério. Queria partir ao encontro dos ancestrais e parceiro. Esta, frágil em vida, implorou ao Criador para não ver mais outros infortúnios (com mais filhos, netos e bisnetos). A fraqueza e a idade não comportaram tamanhas dores e sofrimentos!”
O indivíduo nunca sabe dos desígnios e flagelos no compasso de espera. Inúmeras famílias, com a loucura da criminalidade, drogas e trânsito, enterram seus próprios frutos. A longa vida expõem-nos aos muitos e variados acontecimentos e padecimentos!
                                                                                          
Guido Lang
“Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem:http://pt.wikipedia.org/wiki/Cemit%C3%A9rio

Os dois burros


Iam de parceria dois burros, um lépido e feliz, sem carga; era o que servia para montaria do seu amo, o outro carregadíssimo a não mais poder. Debalde o mísero suplicava a seu irmão que o aliviasse de parte da cargas e dele se condoesse. O outro ria-se e não atendia às súplicas. Por fim o carregado sucumbe e logo o dono passa às costas do companheiro toda a carga, e não só ela, mas também o seu próprio peso. 

Moral da história: 
Ajudemo-nos uns aos outros; não é só caridade, é o próprio interesse que no-lo aconselha. 

Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

Crédito da imagem: http://www.yourarizonamoments.com

terça-feira, 23 de abril de 2013

A denúncia canina


Um colonial, nas suas andanças e incursões, mantinha um caso extraconjugal. O caso ocorria com a viúva. A discrição, na compreensão dos autores, mantinha-se como certeza absoluta!
A fulana, a aproximados quinhentos metros, residia distante da residência familiar do aconchegado. A moradia desta, numa visão panorâmica, localizava-se nos fundos da propriedade. Um espaço dominado pela aparente cerrada vegetação.
O aventureiro, nas idas e vindas das lidas rurais, frequentemente achegava-se a enviuvada. As inúmeras visitas de cortesia, com o tempo, começaram a gerar desconfianças e suspeitas (das prováveis intimidades).
Algum parente e vizinho, como o beltrano sendo pai de família, começou a desconfiar e reparar o comportamento alheio. Os curiosos, na surdina, indagaram-se sobre as excessivas proximidades do beltrano. O fato, com as corriqueiras suspeitas, levou a um discreto reforço na vigilância.
As suspeitas cedo confirmaram-se com a ímpar denúncia. O cão, como assíduo e persistente caçador e parceiro, vivia como companhia inseparável do dono. A sua diversão maior eram as caçadas, guardas e passeadas na roça (junto ao companheiro).
O animal, em diversos momentos, foi visto nas cercanias do pátio da viúva. A realidade denunciou a certeza da presença do proprietário. Os familiares, conhecendo o excessivo apego animal, daí logo concluíram: “- O Zumbi anda pelo pátio da fulana! O cidadão certamente encontra-se no interior da residência!”
O visitante, muito astuto e esperto, achava-se seguro da discrição e do sigilo. Uma bela e doce ilusão: a presença animal, nas cercanias da moradia, denunciava todas as eventuais incursões. O pessoal, diante do primeiro sinal, conhecia e sabia da acolhida! Difícil enganar e ludibriar os expert! Os segredos denunciam-se pelos detalhes! Ao bom entendedor meia palavra basta!
O cidadão acha-se esperto, porém não pode subestimar a inteligência alheia. Os coloniais mantêm uma acirrada e discreta observância sobre os acontecimentos e vivências. O pior imbecil revela-se aquele que engana a si próprio!
                                                                                 
Guido Lang
                                                  “Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência” 

Crédito da imagem: http://www.guiapetecia.com.br

A canoa boiando


    Um povo tinha disposto alguns vigias sobre as muralhas que dessem aviso do que ao longe avistassem. Os habitantes queriam evitar surpresas e ter tempo de preparar heroica resistência. Os vigias descobrem ao longe uma coisa. O que será? É uma poderosa esquadra que se aproxima.
    - Alerta! - Bradaram.
    A coisa chega mais perto.
    - Não é esquadra – disseram - há de ser alguma nau.
    Por fim a onda atira à praia o objeto de tão sérios cuidados; era simplesmente uma velha canoa que vinha boiando.

    Moral da história:
    As coisas nem sempre são o que aparentam ser.

Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

Crédito da imagem: http://www.tripadvisor.com.br