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terça-feira, 24 de julho de 2012

SABEDORIA POPULAR

Queremos continuar, como curiosidade, com a relação dos ditos e dizeres coletivos, que são gostosos de ouvir e transmitem todo um conhecimento e uma cultura popular. Encontramos, além dos adágios já publicados nesta coluna, a seguinte relação.
- Quero mentir então falo do tempo;
- Vento norte, chuva na porta;
- Todo homem tem seu preço;
- A vida é dura, para quem é mole;
- Um bom filho - Deus ajuda;
- Para morrer basta estar vivo;
- Alegria de pobre dura pouco;
- Criança arteira possui saúde;
- Curta a vida, porque ela é curta;
- Coração de mãe aceita tudo;
- A propaganda é a alma do negócio;
- Namorar nunca é ultrapassado;
- A sabedoria consiste em dar tempo ao tempo;
- Quem não lê, não tem muito a dizer;
- Não adianta desvestir um santo para vestir outro;
- A medicina é a ciência das verdades transitórias;
- A necessidade faz dos necessitados inventores;
- Toda experiência e derrota é uma aprendizagem;
- A gente é a soma das nossas decisões;
- A história é importante pelo que conta e oculta;
- Pensar é cansativo para quem não tem hábito;
- Quem muito fala pouco concretiza;
- Melhor um bêbado conhecido do que um alcoólatra anônimo;
- Ninguém chega mais perto de Deus sem mérito e trabalho;
- A melhor obra de uma vida consiste em servir a humanidade;
- Aquilo que é realizado com amor e carinho sai melhor;
- Mesmo nos piores momentos existe espaços à felicidade;
- Dificuldades existem em todos os empreendimentos;
- Para tudo existe solução com exceção a morte;
- Não há limites para a criatividade humana;
- Os verdadeiros amigos encontram-se nas dificuldades;
- Em tempo de guerra, mentira por mar e terra;
- Andejo vive separado da sua mulher;
- Na terra de cego, quem tem olho é rei;
- Em assunto de conselho todo mundo é mestre;
- Deus te abençoe e o Diabo que te carregue;
- Para um bom entendedor meia palavra basta;
- Quem trabalha sempre tem dinheiro;
- O que não se registra desaparece;
- Cada negócio e profissão possui seus segredos;
- Quando todos pagam ninguém é onerado excessivamente;
- Ninguém é profeta em sua própria terra;
- Conceitos baixos atrapalham os negócios;
- As ideias valem pela qualidade e não pela quantidade;
- Segredo que a memória guarda e a terra há de comer;
- Existem informações que é melhor desconhecer, pois só acrescentam aborrecimentos e preocupações;
- Por trás da excessiva bondade, escondem-se interesses escusos;
- O homem é insaciável em suas aspirações;
- Os filhos a gente gosta e não leva em conta;
- Não há dinheiro que pague o amor;
- O que não presta sempre está disponível.

Guido Lang
Jornal O Fato
Campo Bom, terça-feira, 16/08/1994, n°866.

O HARRY E O GUIDO LANG

Alceu Feijó

Harry Roth, possivelmente um nome esquecido por grande parte da população de Novo Hamburgo/Rio Grande do Sul/Brasil. Mas foi um cara que incentivou o prefeito Ritzel, o Eugênio Nelson, a criar uma biblioteca para a cidade. E foi ele quem realmente consolidou o empreendimento, aproveitando um casarão que existia bem na frente da antiga prefeitura, construída por outro prefeito esquecido, Plínio Moura. Voltando ao Harry, o prédio antigo, que foi construído antes da emancipação, estava destinado à demolição. Não foi demolido e o prefeito Ritzel restaurou e ali foi fundada a Biblioteca Municipal, administrada pelo autor da ideia, Harry Roth. Com seu falecimento, foi denominada Biblioteca Harry Roth, numa justa referência ao seu idealizador.
É possível que a minha memória não esteja relatando toda a origem dos fatos. Se me enganei, peço perdão antecipado, mas acho que estou certo. Hoje a biblioteca se chama Machado de Assis, que nunca esteve em Novo Hamburgo, nem sabia onde ficava a nossa cidadezinha no contexto mundial de sua enorme cultura e exemplos que ofereceu ao Brasil. O Harry Roth conhecia e vivia em Novo Hamburgo, mas seu nome foi postergado por uma entidade nacional.
Bem, além da Biblioteca Machado de Assis, Novo Hamburgo conta com outra pequena biblioteca, mas com grande manancial de consultas, instalada no terceiro andar do Centro de Cultura, sala 33. E quem dirige este pequeno repositório de informações inéditas é o escritor Guido Lang, semelhante ao Harry Roth, magrinho e também usa óculos. Falei escritor porque tem mais de dez livros publicados anonimamente. 
Conheci o Guido quando recentemente me solicitou para identificar personalidades em antigos álbuns de fotografia e o fiz com grande satisfação, pois além de estar ajudando ao local tão importante, revivi muitos momentos, vendo fotografias colhidas por mim, das quais nem me lembrava mais. Porém, durante minhas idas ao relicário do Guido, fiquei sabendo muito rapidamente que ali existiam exemplares encadernados da Folha da Tarde e do Correio do Povo. Com a ideia de Fátima Daudt, vice-presidente de Serviços da ACI, em homenagear os pioneiros calçadistas que foram em 1960 a Nova York. Solicitado a colaborar, fui ao Guido Lang para consultar a sua coletânea. Surpreso ao ver coleções encadernadas da Folha da Tarde desde os anos 50 até 80, fui informado de que o material tinha sido descartado pela Biblioteca Machado de Assis e já estava na carrocinha de um papeleiro. Guido não teve dúvida, pois sabia o valor do material e o resgatou pagando 800 reais. Vejam só o que ele fez: doou para o município o acervo gratuitamente. Foi neste momento que eu me lembrei de Harry Roth, que foi tão útil ao município e não tem nome de rua num bairro operário. Espero que o gesto de Guido Lang, que não está pedindo nada, um dia seja lembrado com uma plaquinha de bronze ou zinco na porta 33 da Semec.

Alceu Feijó é jornalista
Texto publicado no "Jornal NH", p. 18
Sexta-feira, 06 de janeiro de 2006


UMA BELA ÁRVORE

Professor Guido Lang

Um filho, em meio a convivência rural, perguntou a seu pai sobre o fenômeno da vida. Que seria a existência neste mundo agitado, competitivo e corrido?
O pai, na sua sabedoria acumulada por anos, fez um comparativo:
- "Querido filho! Você é a razão da minha existência. Faça da sua vida uma frondosa árvore, que embeleza e engrandece o meio natural. As raízes, afundadas e escondidas no solo, são a tua inteligência, que segura e protege contra os infortúnios. Os amigos, estudos, família, moradia e trabalho são a seiva, que sustenta toda a planta. O tronco, galhos e folhas retratam a tua grandeza de espírito, em que reina o amor, a amizade, a ética, a inteligência, a sabedoria... O sol, com os magníficos raios sustenta o verde, que é resultado da colheita. Os galhos e gravetos murchos ou secos, escondidos em meio a folhagem, são dificuldades, feridas e problemas, que relembram-nos da transitória condição humana. O conjunto das partes, na revelação das centelhas divinas, forma uma criação ímpar, que deve ser uma bênção para a família e a vida."
Alguns modestos comparativos excedem a mil palavras. A existência é um enigma que devemos colocar a disposição da multiplicação da vida.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

UMA PÉROLA PARA A VIDA

Então, o meu pai disse-me, dando-me uma das maiores lições da minha vida, a qual levarei até o fim de meus dias: "- Tu verás a todos os homens, desde o mais humilde até o mais nobre, pois cada indivíduo possui algo para ensiná-lo e todos os homens são iguais perante a Deus! Tu gostará da tua aldeia, no entanto, serás um cidadão do mundo! Terás momentos de alegria e tristeza, como todos os que andam sobre a Terra o têm, todavia, sobretudo, amarás a Humanidade porque dela tu faz parte!"

Júlio Lang


domingo, 22 de julho de 2012


ARTIMANHAS E BRINCADEIRAS COLONIAIS

Os roubos eram fatos raros nas comunidades rurais, quando, num dom de astúcia, permitia-se roubar unicamente galinhas e melancias. O proprietário das aves, com a razão de mostrar a esperteza e ousadia, era comumente convidado à ceia, quando noutro dia, unicamente notava a ausência das suas adoradas e preciosas poedeiras. Este, num primeiro instante, nem quisera acreditar nos fatos, quando “pregaram-lhe uma tremenda peça”.
A invasão da roça alheia, com a finalidade de obter algumas melancias, era uma brincadeira rotineira no meio colonial. A existência de uma abastada e bonita lavoura de frutos cedo espalhava-se aos quatro ventos, quando alguma turminha de malandros improvisava uma visitinha.
A invenção de histórias, aos fofoqueiros, consistia noutra artimanha, quando alguém, com vista de aplicar um bom trote ao “comentarista voluntário”, criava alguma mentira. Esta era narrada ao ouvinte, que, na primeira oportunidade, tratava de passar adiante a versão. Os fatos contados costumeiramente eram assuntos combinados com os atingidos, quando os comentários não passavam de um “baita invenção”.
O baralho era um passatempo rotineiro nas colônias, quando, em meio ao jogo, alguém prestava-se “a fazer mutretas”. Este não sabia perder, quando tratava-se de valer-se de artifícios. Estas, como, dar-se maior número de cartas ou esconder outras, era descoberto, quando o elemento desonesto era colocado “em banho-maria”. Ele era paulatinamente excluído das rodadas.         
A existência de tesouros, nos remotos interiores, fascinou a imaginação de aventureiros e caçadores de riquezas. As conversas comunitárias costumeiramente criavam histórias e lendas, quando surgiam recantos misteriosos. Estes, nos cemitérios, grutas, igrejas, matas e moradias, eram procurados, quando forasteiros, nas caladas da noite e no transcorrer de domingos, davam-se tempo de vasculhar lugares e trabalho de cavoucar buracos. A inutilidade da procura era causa de gargalhadas e os esporádicos sinais de riqueza motivo de mais peripécias.

Guido Lang
Escritor, historiador e professor
Revista Vitrini, n°35, outubro de 1997, p.16.

sábado, 21 de julho de 2012

O VALE DA PROMISSÃO

O Vale dos Sinos/RS/Brasil, em 25/07/1824, começou a tornar-se a "terra prometida", para um conjunto de forasteiros europeus. Estes, em meio ao embalo das águas de um curso pluvial - com alguma semelhança com o tradicional Rio Reno, iam chegando nessas plagas. As canoas, caiques, lanchões foram sucessivamente trazendo uma massa de aventureiros, que foram abrindo picadas, derrubando matos, semeando sementes... nesta exuberante e promissora terra. Um insistente e permanente trabalho, sem trégua de sol a sol, possibilitou a produção de uma abundância de bens. O sucesso produtivo permitiu a introdução de um novo modelo de geração de riquezas. A agricultura minifundiária de subsistência, viu-se implantada em terras sulinas, quando a labuta braçal e familiar passou a ser encarada como uma questão de dignidade e orgulho. "O vale da fartura", deitado séculos em berços explêndidos, conheceu uma revolução, quando banhados, campos e matas viram-se tomados por lavouras, pomares e potreiros. As principiantes localidades tiveram uma sociedade colonial, no qual pipocavam cemitérios, escolas e igrejas. As chaminés, de toda ordem, não tardavam a pipocar nos diversos cantos e recantos, quando não faltavam atafonas, curtumes, ferrarias, moinhos, selarias, serrarias... Estas, em anos e gerações sucessivas de trabalho, lançaram os esteios para um grandioso parque industrial. Um monumento de labuta, belo e sólido, tornou-se um modelo para gerações, que perenemente processaram a continuidade na criatividade e inovação de uma gama de artigos-produtos. Cabe-nos, como herdeiros e sucessores dos pioneiros, continuar a grandiosa obra que manterá este solo continuamente abençoado.

Guido Lang
Escritor, historiador e professor
Revista Vitrini, n°32, julho de 1997, p.24


sexta-feira, 20 de julho de 2012

A MARAVILHA DO SER PROFESSOR


Descrever a tarefa de ser mestre é difícil, porque lecionar envolve todo o emaranhado da vivência humana. Trabalhar em educação significa confrontar-se com desafios, emoções, sentimentos, críticas, questionamentos...
Mestre transformado em operário da educação, representa defrontar-se com a diversidade dos tipos humanos. Professorar é atualizar-se, compreender, elogiar...; é apontar caminhos, despertar consciências, criar cidadãos...; é despertar para as artes, o conhecimento, a ciência, a evolução do espírito...; é acreditar nas inovações, potencialidades, transformações, criação de valores, edificação de sociedades...
Mestre entusiasma-se com o estudo, a pesquisa, o trabalho e o sucesso; chateia-se, frustra-se e importuna-se com o desinteresse, a inércia e a preguiça. Professor cria laços, cultiva amizades, vive problemas, encaminha propostas, desperta vocações, compreende dificuldades...
Ensinar é educar, instruir, estimular, colocar limites, despertar horizontes, preparar à vida... E não adestrar, castrar, dirigir, doutrinar...
O professor é aquele cidadão que é admirado, amado, desafiado, discutido, cobrado... Ser mestre é ser perito na sabedoria, equilibrado nas resoluções, rico de experiências, amplo nos conhecimentos, sábio de vivência...
O mestre imortaliza-se através da administração do conhecimento, sabedoria e na construção do bem comum: enche-se de esperanças com o amanhã, no qual predomina o amor, a concórdia, justiça...
Professorar significa semear as sementes do porvir, que germinarão no jardim da vida. O professor, no final da jornada, fica com a consciência serena de, no final da existência, ter cumprido, de uma ou outra forma, para o avanço da ciência, fraternidade e evolução do espírito humano.
                                                                                       

Guido Lang
Jornal O  Municipário
Informativo do Grêmio do Sindicato dos Funcionários de Novo Hamburgo
Setembro 1993,     p.04.