Guido Lang
O
antigo Arroio de Campo Bom, na época de São Leopoldo, apresentava-se como um
bonito e límpido córrego da água, que mesclava romantismo com vida. Algumas
partes expressivas do curso fluvial eram cercados por matas e potreiros, quando
animais e homens aproveitavam-se das suas águas com vistas de banhar-se a
saciar a sede. Os poços, digo partes mais profundas do riacho, eram
aproveitadas para as pescarias, quando adultos e gurizada, através da coleta,
abafavam “instintos do primitivismo humano”. Os dias, quentes eram sinalizados
com turmas de banhistas, que procuravam as águas e sombras com a finalidade de
suavizar os rigores do verão campobonense.
O
Arroio Schmidt, nos primórdios da colonização, foi cenário de histórias, quando
os tropeiros dos Campos de Cima da Serra afluíam ao lugarejo de Campo Bom. Estes,
nas suas paradas momentâneas de alguns dias, tratavam de deixar pastar os
animais assim como saciar sua sede. As margens abrigavam ricas pastagens
naturais, que eram intensivamente aproveitadas com razão do gado repôr as
energias. Os condutores das manadas, com destino aos matadouros de São Leopoldo
e Porto Alegre, acabavam nas suas cercanias, quando, em função dos bons pastos,
alguém lembrou-se de denominar a área de campos bons. O nome, na passagem dos
anos, acabou senão a denominação oficial do lugar.
A triste
sina do riacho começou propriamente com a colonização, quando, ao longo dos
anos, progressivamente ceifou-se a mata. A floresta original sucessivamente
viu-se tolhida em função da necessidade de áreas agrícolas, no qual poder-se-ia
efetuar cultivos e processar-se criações. O assoreamento do curso, com o
constante acúmulo de sedimentos, foi uma contínua, quando progressivamente
influiu-se na mudança e perecimento do habitat. Diversas espécies de animais e
vegetais perderam o seu ambiente natural, quando instalou-se o melancólico cenário.
O advento
da urbanização, com a instalação da rede de esgotos nas principais avenidas e
ruas – a partir de 1970, veio a reforçar o estado de poluição, quando não se
restringia exclusivamente aos problemas ligados a curtição de couros. A limpeza
doméstica passou a desaguar no seu curso, quando acentuou-se o extermínio da
vida. O lixo orgânico, advindo dos esgotos ou das enchentes, alteraram o
processo de renovação das águas, quando mostrou-se excessivo ao volume da razão
do curso líquido. Os lixos inorgânicos, sobretudo plásticos, acabaram nalguma
forma no leito, quando reforçaram a aparência e contexto de “lixeira a céu
aberto”.
A canalização
parcial, juntamente com o Arroio Deuner (atual Arroio Leão) – na administração
do prefeito Osmar Alfredo Ermel (1969/1973), veio reforçar sua nova função
social, que seja de “dar um jeito nas imundícies humanas”. Esta solução seria
de levar para longe a sujeira, no qual, a natureza, no Rio dos Sinos e na Lagoa
do Guaíba, pudesse processar uma reciclagem dos materiais imundos. Procurou-se,
como é comum no gênero humano, “varrer a sujeira debaixo do tapete”, porque,
num contexto de acentuado progresso econômico, havia necessidades sociais mais proeminentes
na comuna. A voga do melhoramento da infraestrutura básica era a tônica predominante,
quando um pacato arroio poderia ser tranquilamente sacrificado.
A União
Protetora do Ambiente Natural de Campo Bom (UPAN), em 1988, fez zum estudo do
leito do Arroio Schmidt, quando apontou e constatou a exagerada poluição no córrego.
As principais dificuldades relacionaram-se: “ao lixo cloacal e de produtos
usados na limpeza doméstica lançada no arroio através dos esgotos”; “grande
parte de lixo orgânico lançado pela comunidade” dentro do riacho; lixo
depositado as suas margens; os afluente do Schmidt, como o Paulista e Quatro
Colônias, também vem poluídos e acentuam a calamidade; à beira do arroio
mantinha uma plataforma de lançamento de lixo e empresas lançavam resíduos
químicos. Apresentou-se como paliativos, para melhorar a qualidade das águas,
lançar plantas aquáticas (marrequinhas) assim como edificar pequenas barragens
para originar quedas.
As
administrações do Nestor Fips Schneider (1977-1982) e Elio Erivaldo Martin
(1982-1983), com vistas de oferecer uma área de recreação aos moradores e
talvez recompensar o curso fluvial pelas mazelas originadas pelo
desenvolvimento econômico, instalaram o Parque Municipal da Integração (vulgar “Parcão”),
quando produziu-se uma das maiores incoerências da urbanização. Uma ampla e
bela paisagem artificial, cartão de visita da comuna, e símbolo de
investimentos públicos na qualidade de vida da população, é banhada e cortada
pelo fedorento, poluído e sujo curso fluvial, que choca e interroga quaisquer visitantes.
Umas clássicas perguntas comumente surgem: Como um cenário tão agradável e
magnífico pode ser cortado por uma sarjeta? Porque as administrações nunca
tomaram providências? Quem causa tamanha agressão ambiental?
O
outrora Arroio Campo Bom, a semelhança da trajetória do passado, continua
sinalando história. Este, em função da localização, parece vingar-se das
permanentes violações, quando retrata a triste sina dos cursos fluviais nos
centros urbanos. A função de condutor de águas cedeu espaço à tarefa de
escoadouro de imundícies. Segue tua saga! O Projeto Pró-Guaíba talvez seja uma oportunidade
de relembrarem-se da tua almejada e sonhada despoluição.
Autor:
Guido Lang
Fonte:
Jornal O Fato, número 1133, dia
29/04/1997, página 02.
Crédito da imagem: https://agazetacb.com.br/noticias/e-se-o-arroio-schmidt-fosse-revitalizado