Os Dickel, nos dias
02 e 03 de fevereiro de 1997, tiveram um encontro inesquecível e histórico. Uma
caravana de brasileiros visitou a descendência no Paraguai. Diversos membros
foram participar do 1° Encontro Internacional da Família Dickel. A descendência
lançou as bases e o exemplo dum reencontro familiar à base do Mercosul.
Vários parentes
originários do Brasil, Argentina e do Paraguai prestigiaram o magnífico acontecimento.
Este realizou-se na Sociedade Alemã da cidade de Obrigado/Itapuã. Inúmeros
laços familiares foram reacendidos em função da distância e perecimento das
velhas estirpes. Preciosas informações foram trocadas com vistas de conhecer e
descrever a epopeia da trajetória Dickel em terras americanas. Valiosos
conhecimentos foram extraídos da experiência de aventurar-se numa viagem
transnacional. Outros cenários e paisagens foram apreciados e comentados.
Os preparativos da
viagem foram organizados pelo Guiomar Dickel e Lothário Dickel. A dupla tratou
de contratar ônibus, arregimentar parentes (interessados na excursão),
providenciar os trâmites burocráticos, etc. Este empreendimento começou na Boa
Vista/Teutônia/RS. O local, até aquele momento, era o local tradicional dos
encontro de família (descendência do patriarca Alexandre Dickel e Elisabeth
Born). As expectativas vinham-se somando
há meses e semanas. Uma empleitada que parecia impossível para alguns e
possível para um conjunto de corajosos. Diversa descendência, originária de
Teutônia, Brochier, Estrela, Porto Alegre, tratou de integrar-se a caravana dos
aventureiros. O ambiente constituiu-se de muitas brincadeiras, camaradagens e piadas.
A partida iniciou no
dia 31/01/1997. O veículo tomou a direção de Porto Mauá/RS e San
Xavier/Missiones. Embarcou-se às 11 horas e chegou-se às 9 horas do dia
01/02/1997. Esperou-se, no local, a barca da travessia do Rio Uruguai. O
momento foi excepcional para inúmeros participantes. Estes desconheciam o
sistema de transporte de barca. Chegou-se ao território argentino, quando os
trâmites burocráticos impediram a passagem por essas plagas. Procurou-se
explicar as dificuldades da ausência de carteira de identidade de cinco
crianças e dois adultos. Estes possuíam outra documentação e a presença paterna
(das crianças). As autoridades de fiscalização, depois de demoradas delongas,
foram irredutíveis nas suas resoluções.
A opção tomada foi
retornar ao território nacional. A alternativa consistiu de contornar o caminho.
Passou-se pelo oeste catarinense e paranaense. A viagem acabou atrasada, porém
não se renunciou a vontade de visitar “os parentes paraguaios”. A persistência
e teimosia germânica foram primordiais com vistas de concretizar as resoluções previamente
determinadas.
A descendência
Dickel, na Cidad del Leste/Paraguai, veio recepcionar os parentes brasileiros,
quando foram conduzidos ao interior do país. Pôde-se, em meio à penumbra do
amanhecer do dia dois, conhecer aspectos do território paraguaio. Apreciou-se
muita soja, alguma criação de gado, cultivo de erva-mate e manutenção de
resquícios da Floresta Pluvial Subtropical.
Os casebres, de chão
batido e de madeira eram uma realidade corriqueira. Estas, ao longa da estrada,
espalhavam-se nas diversas direções. As construções, em diversos exemplos,
contrastavam com o cenário essencialmente agropastoril (domínio das grandes
lavouras mecanizadas). Os guaranis e naturais, em momento, pareciam cidadãos de
segunda classe ou marginalizados, pois careciam de maior poder econômico. Os
nipo-paraguaios e teuto-paraguaios dominam economicamente o cenário nacional (local).
Os forasteiros, no seu entender, seriam os principais esteios do
desenvolvimento econômico e contribuintes ao Estado Nacional.
A recepção foi alegre
e calorosa. A descendência Dickel, em caravana com os carros das marcas
japonesas (importadas), veio recepcionar os visitantes na Sociedade Alemã de
Obrigado. Os Dickel, Brönstrup, Dietze, Fensterseifer, Lang, Schneider pareciam
conhecer-se como velhos amigos. A realidade, no entanto, presenciava uma
primeira aproximação ou reaproximação. Os diversos visitantes, em seguida, foram
conduzidos às famílias. Estas, de forma individual ou em casais, hospedaram com
imensa alegria, consideração e satisfação. As interrogações, de ambos os lados,
sucederam-se naquele contexto de curiosidades mútuas. Vínculos acabaram cedo
criados. Estes, desde 1911, pareciam
adormecidos quando a distância parecia impôr obstáculos intransponíveis.
A saga dos Dickel
tinha começado naquela data, quando Cristian Dickel (filho de Carl, neto de
Heinrich e bisneto do patriarca Alexander) e Otilie Lang, com seis filhos menores,
imigraram naquelas paragens. O casal levou cinco semanas (de carroça puxadas por
mulas e cavalos) para chegar ao Paraguai. Restou instalar-se na selva da
Colônia Alemã de Hohenau (posteriormente pioneiro na Colônia Alemã de Obrigado).
Sobreviveram, neste ínterim, por meio de algum charque, pão preto e ovos. A
caça e pesca constituía-se complemento alimentar. A erva-mate e o “tum”
tornaram-se as principais fontes de renda. Vieram-se, no tempo, substituídos
pela mandioca, milho e soja. O objetivo, em primeiro lugar, era produzir ao autoconsumo.
Os Dickel saíram da Boa Vista/Estrela/RS (atual Linha Capivara/Teutônia) para
auxiliar a criar a Colônia Alemã de Obrigado (1912).
O encontro reverteu-se
de pleno êxito. Umas duzentas pessoas prestigiaram o evento. Este basicamente
consistiu de um culto evangélico luterano, leitura de histórico da odisseia
familiar, almoço comunitário, apresentações culturais, baile e intensa troca de
informações. Uma oportunidade ímpar de rememorar velhas reminiscências, que
pareciam suplantadas (num contexto de décadas de carência de vivências). O
final do dia foi aproveitado para fazer passeios (familiares) as propriedade
agrícolas, que espalham-se num raio de diversos quilômetros. Os visitantes
puderam conhecer um outro sistema produtivo. Este contrasta sensivelmente com o
contexto do minifúndio de subsistência diversificado das paragens sulinas.
A descendência
Dickel, portanto, está de parabéns. Esta rompeu fronteiras no contexto dos
encontros de família. Realizou o primeiro evento em nível de Mercado Comum do
Cone Sul. Um feito ímpar! Os participantes da viagem também conheceram novas
realidades e vislumbraram novas experiências e horizontes nas vivências comunitárias.
Fonte: Guido Lang. Jornal O Fato n° 1118, dia 07.03.1997, pág. 02 (texto reescrito).
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