Os brejos e matos, nas baixadas dos
arroios e encostas dos morros, tomaram conta de inúmeros cenários coloniais.
Algumas esparsas casas, numa aparência de perdidas como moradias, continuam
como marcas da presença humana. Algum morador, como isolado agricultor ou
chacareiro, continua a desafiar as distância da estrada geral. Estes, de alguma
forma, parecem almejar silêncio e convivência com a mãe natureza. Alguma
singela criação, como animais domésticos, soma-se como companhia e produção.
Esta realidade, numa aparência ímpar,
criou um novo problema econômico. A ousadia da fauna silvestre tornou-se
deveras acentuada. As eraras e graxains, a título de exemplo, avançam numa
acirrada ferocidade sobre as criações e instalações. Os coloniais, em
plena luz do dia, enxergam suas andanças e companhias. O bicharedo, sem dó e
piedade, caça as indefesas aves (como galinhas, gansos, marrecos, pombos) até
extermínio completo. Um prejuízo monetário, em ração e tempo, para os
criadores. A caçada dos animais silvestres, diante da legislação ambiental,
ostenta-se proibida e punida. A convivência, entre as partes domésticas e
naturais, apresenta-se completamente inviável.
Um isolado morador, muito apegado a
companhia do rádio, descobriu uma sina. Este, nos momentos do aparelho ligado,
via desaparecer o atrevimento e coragem do bicharedo. As vozes humanas, com
alguma música (num bom dom), afugentavam as inconveniências. O aparelho, uma
vez desligado, cedo atiçava a ousadia (em função da fome). O camarada, para salvar
sua estimada criação, passou a deixar o aparelho sintonizado. Alguma estação,
com muita algazarra e conversação, via-se como companhia. A anômala descoberta,
para alguns parceiros chacareiros, repassou a informação.
Outro morador, visitante esporádico da
chácara, seguiu o receituário. Este, nas vinte quatro horas diárias, deixa o
aparelho sintonizado numa tradicional estação. Alguns horários assemelham-se ao
clima dos bailões (tão comuns nos centros urbanos) e outros a campeonatos
esportivos. A barulheira, do acentuado volume, espalha-se pelas redondezas da
residência e pátio. As aves, como exemplo, vêem-se poupados das caçadas
implacáveis. As galinhas, na ausência do proprietário, seriam inviáveis criar
livres e soltas. Os garnisés neste ambiente espaçoso e
natural, multiplicam-se como aparente praga (na proporção da ausência dos
antigos inimigos).
Visitas ocasionais aconchegam-se ao
cenário barulhento. Estes, com a presença do aparelho, procuram pelos donos.
Estes, como pessoas civilizadas, batem palmas, olham aqui e acolá, procuram lá
e cá... Estes forasteiros, na ausência humana, deparam-se com uma tapera. A
solução, depois de alguma espera, consiste em retomar o caminho da estrada de
acesso. Alguma vizinhança, numa visão ocasional, controla eventuais acessos
assim como conhece a história da barulheira radiofônica.
O curioso, no exemplo, consistiu em
alguém descobrir o ponto fraco dos animais. Este camarada, com o sui generis,
criou a base dum comportamento comunitário. A informação, como descoberta,
viu-se logo repassada aos amigos e conhecidos. Os cidadões, com idêntico
dilema, colocaram a experiência em prática. A real eficiência vislumbrou nova
prática agrícola. Estas experiências, nas conversas informais, vêem-se
repassadas como conhecimento empírico no conjunto de moradores.
O indivíduo, no cotidiano da
existência, resolve um problema e logo cria outro. O barulho humano, de maneira
geral, ostenta-se um especial incômodo à fauna silvestre. A lei da
sobrevivência, no reino animal, não perdoa os desprotegidos e fracos (o
primeiro cochilo representa o perecimento). Os paliativos, em certas situações,
mostram-se remédios e soluções. Animais domesticam-se com alimentos e os
humanos orientam-se pelo dinheiro.
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”
Crédito da imagem: http://radioclubecampobelo.com.br
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