Os moradores,
reunidos na tradicional conversa informal, explanaram umas e outras boas e
interessantes histórias e relatos. A conversação, numa turma de dezenas de
amigos e conhecidos, aborda os assuntos e temas mais profundos e variados. A
essência dos diálogos relacionam-se as narrações de experiências e vivências.
O tema terra cedo
entrou na pauta. Inúmeras famílias, numas reservas acumuladas por gerações,
“viram as posses escorrer entre os dedos”. Uns poucos anos bastaram na sucessão
de gerações e as sobras “foram-se ralo abaixo”. Jovens abraçaram a causa da
administração e gerenciamento. As estirpes, no ínterim das vivências, partiram
na direção dos ancionatos ou derradeiros repousos.
A economia austera e
espírito poupador, comum entre as primeiras levas de pioneiros e descendentes,
perderam-se como princípios familiares. A ânsia de consumo, em meio a
desenfreada propaganda na mídia, tornou-se algo banal e vicioso. Os
forasteiros, com as uniões matrimoniais, entraram nos seios das clãs. Estes,
com cobranças e sugestões, redimensionaram doutrinas e valores. A importância
das terras, no seios familiares, inclui-se nesta preocupação.
Inúmeros coloniais,
migrantes do campo a cidade, cercaram-se de companhias das cidades. Estas, em
função das experiências e vivências urbanas, nunca deram maior
importância/valor às terras das colônias. Estas, cobertas de matos ou lavouras
localizadas nas grotas, viram-se relegadas ao abandono ou descaso. A ideia
original, de primeira oportunidade, consiste em “em passá-las no troco”.
Inúmeros migrantes, no propósito de jamais reinstalar-se nas colônias, acataram
a resolução.
As terras, vendidas a
antiga vizinhança, angariaram expressivas somas. O dinheiro usufruído, de
maneira geral, acabou canalizado às necessidades de consumo. As lojas, mercados
e revendas aumentaram sua clientela e lucros. Os recursos, acumulados com
tamanha economia, sacrifício e trabalho (de anos ou décadas), cedo “viraram
pó”. As companhias, por completo, gastaram-nos nas atividades terciárias (boa
parte em luxo). Adveio a expressão correspondente de “comedores de terra”. Os
membros, no consumo diário, gastaram um dinheiro valioso e volumoso.
Os patrimônios
familiares, fruto de heranças, viram-se consumidos por quem menos batalhou/contribuiu
para acumular sobras. Os familiares/parcerias, uns casos as femininas e noutras
as masculinas, tornaram-se os consumidores. A prática trouxe a troca de mãos de
inúmeras e valiosas reservas. Diversas famílias, apegados a terra por gerações,
abandonaram a atividade agrícola e enveredaram pelo caminho da urbanização.
As terras, com as
exportações dos produtos do campo, assumiram valores exorbitantes. Os hectares
mecanizáveis custam verdadeiras fortunas. Quem comprou, ganhou dinheiro; quem vendeu, arrependeu-se de
perdas. Outros poucos, em prédios e terrenos, reaplicaram os recursos nos
ambientes urbanos.
Uma realidade
colonial nova significa o aluguel de terras. Diversos colonos, com os potentes
tratores, tratam de arrendar áreas/lavouras. O valor do aluguel, em média, dá
um salário mínimo por hectare/ano. A
locação permite a extração de três safras anuais: duas de verão e uma de
inverno. Os inquilinos com a massiva
adubação, procuram extrair os limites do máximo. As áreas cedidas precisam
estar livres de obstáculos (pedras e tocos). A mecanização precisa ser fácil e
o solo fértil. Um negócio compensador para quem aluga. Eventuais prejuízos, com
estiagens e pragas, recaem sobre os arrendatários.
A terra, num contexto econômico inflacionário, nunca
perde seu real valor. Os solos precisam ser trabalhados caso contrário
tornam-se encargos. Os rurais, diante das realidades dos fatos e vivências,
fazem abordagens e criam histórias.
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano das Colônias”
Crédito da imagem:http://www.spni.com.br
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