Um morador, próximo a
banhados, matos e roças, conheceu algumas rotineiras visitas. Estas, na
ausência de maiores inimigos naturais, cedo tornaram-se uma praga. Os ratos, na
primeira oportunidade, invadiram instalações e delas fizeram o espaço próprio à
vivência. Os cheiros de urina tornaram-se um impróprio e sem falar na
indecência das espalhadas fezes.
O colonial, para
safar-se da inconveniência, procurou valer-se da astúcia e esperteza. Ele, como
criador de animais domésticos, procurou espalhar algum aparente e inocente mimo.
Este, durante sucessivos dias, administrou algum farelo de milho. O produto
via-se espalhado nalguma mesa. O administrador, a cada dia, apreciava o sumiço
do alimento. O fato acontecia nas caladas da noite e algumas fezes denunciavam
a presença de roedores.
Os ratos, nessa
altura com sólidas comunidades constituídas, entraram numa acirrada polêmica.
Uns membros, muito jovens e imaturos, cedo falaram numa bondade humana. O dono,
nos relatos das crueldades humanas, deveria ser uma exceção à regra (dos homens,
na sabedoria dos antigos, serem muito interesseiros e maus). O criador
dificilmente esquecia-se de distribuir o já tradicional mimo.
Os comentários, pelos
membros mais idosos, falavam e narravam histórias chocantes de caçadas implacáveis
(movidos contra a espécie). Entendiam-os, os ditos racionais, como uma espécie imprópria
e maldosa. A conversa divergente, diante da descrença de muitos, arrastou-se
por uns bons dias e semanas.
O proprietário, numa
altura, acrescentou uns poucos grãos diversos ao farelo. Procurou manter a
discrição e economia do produto. Alguns falaram em tratar-se duma sobremesa e
disputavam a mordidas as dádivas. Elas, no primeiro momento, reforçaram as
qualidades e virtudes humanas. O doador alimentaria um amor e paixão por
animais exóticos.
O curioso abateu-se
depois de algumas horas. Uns consumidores, “dessas bênçãos”, passaram a sentir terríveis
dores estomagais. O interior parecia dilacerar-se. Eles, junto aos próximos da
espécie, imploravam por água. Os adoentados, de forma desesperada e desnorteada,
saiam dos buracos e esconderijos. Estes, como “zumbis ambulantes”, tinham consumido
alguma inconveniência/veneno desses grãos. Umas poucas migalhas bastavam para fazer
o maior estrago e “mostrarem as facetas da morte”.
Uns anciões, membros
sobreviventes de outros genocídios e hecatombes, reforçaram seus conselhos.
Estes, em linhas gerais, falaram da velha sina: “- Não se pode confiar nesses
humanos! Dessa praga nenhuma caridade pode ser aceita! Todos, sem nenhuma
exceção, fazem nada sem segundas intenções. Quaisquer mimos trazem os germes da
morte. Estes, em cada encruzilhada, costumam montar alguma ratoeira”.
Uns, como prudentes
da espécie, procuravam ouvir e seguir as recomendações. Outros sabichões, como
tem sido comum em todas as comunidades, acharam-se muito espertos e
inteligentes. Eles deram a mínima aos alertas e falas. Estes, nalgum momento,
parecem “procurar para entrar nalguma fria”.
O indivíduo, com certos inimigos, não dá para cultivar
amizades e muito menos receber presentes. Os interesses e ganhos movem as atitudes
e pensamentos. Certas inconveniências não dá para reprimir e muito menos erradicar.
Ofertas fáceis escondem interesses escusos. A bondade e caridade alheia, com prejuízos
monetários, revela-se uma excepcional falácia.
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano Colonial”
Crédito da imagem: http://umaformadepensamento.blogspot.com.br/2010/09/canto-escuro.html
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