A tradição oral narra
a história e ousadia de certo colonial. O fato teria ocorrido nos primórdios da
colonização da Colônia Teutônia (1874). As distâncias e florestas, para os “colonos
jogados em meio ao mato” e o descaso das autoridades constituídas, mantinham-se
um dilema de superação. As necessidades básicas, para escoar a produção e aquisição
dos artigos de primeira necessidade, ostentavam-se uma dificuldade ímpar. As
estradas, no interior da Floresta Pluvial Subtropical, não passavam de picadas/trilhas
(entre a cerrada vegetação nativa).
Os animais de
montaria, como cavalos e mulas, mantinham uma importância vital. Estes, no
mercado, valiam uma fortuna (em meio à carência monetária dos pioneiros). As
famílias, recém migradas/instaladas nos lotes (a partir da Colônia Alemã de São
Leopoldo) e imigradas da Europa, mantinham dificuldades de locomoção e
aquisição de alguma montaria. Os potreiros, como áreas cercadas com pedras grês,
encontravam-se em progressiva edificação e expansão (diante da inexistência dos
arames farpados). O trabalho braçal era básico e a necessidade primordial era
conseguir animais (para montaria e alguma tração animal) como auxílio à
produção rural.
Um certo camarada
colonial, na sua excepcional ingenuidade, queria ensinar um modo vivencial novo
ao seu burro. Este, aos poucos, conheceria a abstinência/carência alimentar. O
dono queria ensiná-lo a desaprender a comer. A metodologia consistiria em
paulatinamente ir reduzindo a quantidade do trato. O bicho, a cada dia, recebia
um volume menor de alimento (até ficar zerado). Passaram-se uns bons dias e a
prática, em meio a uma tremenda estiagem, tomara vulto. O bicho, meio
raquítico, parecia responder bem as intenções e pretensões. Este, a um bom
tempo desconhecendo qualquer cereal ou tubérculo, arrastou-se até chegar o dia
do completo jejum. O infeliz, não tendo outra opção, obrigou-se a aceitar o dilema.
A surpresa, no entanto, adveio numa certa manhã. O dono encontrou-o estirado
morto por inanição.
O criador aprendeu outra
dura lição de vida. Certas realidades são uma coisa na teoria e bem outra
situação na prática. As leis da física ostentam-se difíceis/impossíveis de
serem trapaceadas. Os animais, na agressividade ou burrice dos proprietários,
pagam os maiores ônus (da falta de informação e instrução). As experiências empíricas
ostentam-se uma realidade comum no meio colonial. Algumas dificuldades e
necessidades, por falta de referências ou tecnologias, exigem ensaios e
improvisações (como paliativos) para encontrar soluções.
O indivíduo que judia dos animais ostenta espírito impróprio.
Certas conversas e histórias, mesmo absurdas ou mentirosas, possuem seu fundo
de verdade. O cidadão precisa aprender com a experiência alheia com razão de
não cair nos idênticos equívocos. A estupidez e irracionalidade humana tão cedo
não terão limites. Certas realidades, por sua anomalia, parecem assemelharem a
duas.
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano das Colônias”
Crédito da imagem: globomidia.com.br
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